O diretor inglês Adrian Lyne sempre foi adepto de uma certa sem-vergonhice pincelada em tons de requintado cinema, ao mesmo tempo, ele também era adepto de experimentos em torno da interação com o público –isso nas décadas de 1980 e 90 quando tal ideia era de um arrojo inédito. Seu “Atração Fatal”, por exemplo, dos primeiros filmes a abordar o adultério sem amenidades, deixou-se orientar por seções-testes com o público para definir o desfecho que teria maior aceitação. Prática que passou a ser adotada no cinema comercial. Algo um pouco parecido veio a ocorrer com “Proposta Indecente” lançado em 1993.
Grande responsável pelo símbolo sexual
fulgurante no qual Demi Moore se tornou pelo restante daquela década (a atriz
já havia feito imenso sucesso em “Ghost-Do Outro Lado da Vida” mas, nele o
público não a tinha enxergado ainda por um viés de sensualidade), o filme se
municiou de uma campanha de marketing onde a grande e escandalosa questão que
permeia toda premissa era dirigida ao público, incitando-o a dar seu parecer e
a conferir o que ocorria no filme em si.
E todos os envolvidos fizeram bem seu dever de
casa: Pela beleza e sex-appeal então revelados de Demi Moore, pelo tratamento
visualmente acachapante do diretor Adrian Lyne, pela divulgação promocional
astuta e instigante e pelo filme bastante sedutor que resultou, “Proposta
Indecente” foi muito debatido e comentado na época e, consequentemente, fez
imenso sucesso.
O casal de pombinhos apaixonados Diana e David
(Demi Moore e o ainda pouco conhecido Woody Harrelson) estão enfrentando uma
fase economicamente complicada na relação –e Lyne gasta um tempo demasiado,
além de inúmeros recursos estilísticos e melodramáticos para salientar
simultaneamente o perrengue que vivenciam e o amor que os une.
A saída para eles parece ser juntar alguma
grana e partir para Las Vegas tentar a sorte nos jogos de cassino. Entretanto,
as coisas vão mudar quando cruzarem-se com um personagem que representa,
digamos, o terceiro vértice desse triângulo amoroso: John Gage, um milionário
interpretado por Robert Redford, ainda firme, forte e convicto em sua fase de
galã maduro.
Ao vê-la imediatamente John cai de desejos por
ela –e, na tentativa de levar o público (em especial o masculino) à compactuar
com esta faceta do personagem, o diretor Lyne não economiza maneirismos em sua
hábil fotografia para tornar Demi Moore assombrosamente linda e desejável (além
das caras e bocas da parte dela própria) –o que leva John, gradualmente, a
aproximar-se do casal, a esboçar suas libidinosas intenções para com a moça (despertando
diferenciadas reações de indignação no casal, ainda que pouco convincentes) e a
propor o acordo que ocupa o cerne da narrativa: Endinheirado e entediado, John
enxerga em Diana mais do que uma bela mulher –claro, ele TAMBÉM enxerga isso!
–ele enxerga em Diana uma chance de aventurar-se na imponderabilidade de uma
relação com riscos e possibilidades que ele a algum tempo não usufrui mais. Sua
proposta é a de que ela passe uma noite de amor com ele, com o consentimento de
ambos (dela e do marido) e, com isso, ele lhes dará a soma de um milhão de
dólares; o suficiente para pagar todas as dívidas que o casal tem.
É desse dilema, e da maneira como se dá sua
resolução, que se abastece a narrativa.
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