Muitos achavam que o Oscar 1999 de Melhores Efeitos Visuais tinha dono: O explosivo, extravagante e nada sutil “Armageddon”, de Michael Bay, e suas cenas grandiloquentes de destruição.
Entretanto, numa postura que tem predominado
nos últimos anos inclusive, os votantes da Academia preferiram entregar tal
prêmio aos esforços de natureza mais intimista e artística da equipe
responsável pelo pouco usual filme romântico dirigido pelo holandês Vincent
Ward (de “Navigator-Uma Odisséia No Tempo”).
E, de fato, visualmente, “Amor Além da Vida” é
um assombro; uma de suas poucas características que não passa do ponto na
saturação do público.
O trabalho de Vincent Ward é um filme mais que
simplesmente romântico: Ele é intoxicado de um romantismo que evoca um cinema
de conotações abstratas e emocionais, difícil de encontrar um público
específico já naquele final dos anos 1990 em que foi lançado, que o diga nos
dias ainda mais cínicos de hoje! Se isso já seria o bastante para exasperar a
experiência para o público, ele ainda conta com Robin Williams, um ator, é
sempre bom lembrar, excelente, dramaticamente compenetrado com as tramas com as
quais se engajava (vide, “Sociedade dos Poetas Mortos”, talvez, seu melhor
trabalho), e festejado na construção de um humor anárquico e ao mesmo tempo
inofensivo para as massas. Entretanto, Williams tinha lá seus poréns: Quando o
roteiro não era absolutamente redondo e equilibrado, e quando o diretor não era
perspicaz o suficiente para saber dosar sua predisposição aos excessos,
Williams saía do controle, e o resultado era um histrionismo sem quantia (como
em “Patch Adams-O Amor É Contagioso”) ou uma pieguice inacabável (como em “O
Homem Bicentenário”). Em “Amor Além da Vida”, o diretor Ward não consegue lidar
com o surgimento dessas duas facetas.
Williams é Chris Nielsen e, na parte inicial do
filme, somos testemunhas de seu encontro com a artista plástica Annie Collins
(Annabella Sciorra, de “O Vício”), com quem ele vem a se casar e viver uma
história de amor. Contudo, tal e qual um certo nicho de obras românticas que
estranhamente gostam de levar o romantismo a colidir com a finitude da
fatalidade e dali extrair a possibilidade de um amor eterno (como “Ghost-Do Outro Lado Da Vida”, no início dos anos 1990 e “Além da Eternidade” em meados
dos anos 1980), o filme confronta seu apaixonado casal central com a tragédia:
Chris morre num acidente de carro e seu fantasma vai parar numa espécie de
além-vida onde, ao invés de incorporar um conhecido cenário com anjos e
demônios, somos inseridos, junto do protagonista dentro de uma pintura (!).
Chris está, pois, dentro de um dos quadros pintados por Annie. E esse trecho
que se segue responde exatamente pelos truques visuais verdadeiramente notáveis
pelos quais o filme ficou famoso.
No entanto, se as imagens de “Amor Além da
Vida” são brilhantes, o mesmo não se pode afirmar da história que elas entrelaçam.
Tão logo é descoberto esse vínculo espiritual entre Chris e Annie, que o leva a
habitar, enquanto fantasma, uma das obras de arte que ela concebe, algo ainda
mais drástico os separa. Annie morre, ou melhor, suicida-se incapaz de viver
tendo perdido seu grande amor.
Ao lado de outras entidades sobrenaturais, o
irrequieto Albert (Cuba Gooding Jr.) e o sábio Perseguidor (Max von Sydow), cujas
origens, surpreendentes mais tarde são reveladas, Chris vai empreender uma
improvável jornada até o inferno –onde almas suicidas são despachadas, dentro
do qual Annie se encontra aprisionada, destituída de sua memória. Assim como a
representação pictória do Céu, também o retrato visual do Inferno, no filme de
Vincent Ward, é primoroso em sua originalidade e caprichoso em seu acabamento:
Uma extensão horizontal e espantosa salpicada de cabeças dos condenados a
aflorar do chão.
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