No conceito futurista, mirabolante e altamente fantasioso de Andrew Niccol, o tempo é moeda de troca. Pensador reflexivo das idiossincrasias capitalistas e materialistas presentes na condição humana, Niccol, diretor e roteirista faz de “O Preço do Amanhã” o que talvez seja seu filme mais peculiar e eclético. Tendo vislumbrado os prós e contras de um futuro estéril em “Gattaca”, os absurdos palpáveis de um reallity-show em “O Show de Truman” (onde atuou apenas como roteirista), as implicações na realidade de uma mentira convincente demais em “S1mone” e o empreendedorismo implacável sob o viés do tráfico de armas mundial em “O Senhor das Armas”, Niccol voltou-se para a premissa mais fantástica que sua mente até então já concebeu: Um mundo no qual todo o ser humano já nasce com um contador digital em seu pulso. Explica-se: Até a idade de vinte e cinco anos, tal contador é zerado. Ele começa a contar a partir dessa idade pois, na fantasia imaginada em “O Preço do Amanhã”, não é de velhice que se morre, mas sim de falta de tempo.
Naquele mundo, as pessoas ganham tempo. Elas
pagam por tudo que precisam com tempo. Basta que alguém vire seu pulso sobre o
de outra pessoa para transferir uma determinada quantia de tempo. Se o contador
do pulso zerar e a pessoa esgotar o tempo que tem, ele cai automaticamente
morto. As pessoas precisam então lutar para ganhar a maior riqueza de todas,
tempo de vida. E esse tempo, quando abundante, no caso dos ricos, pode ser
usado para comprar outros luxos e outras pessoas. No caso dos pobres, o tempo é
uma preciosidade que separa a vida da morte pela qual se deve batalhar
dia-a-dia.
É nessa situação e nesse contexto que Niccol
nos apresenta assim seu herói, Will Sallas (Justin Timberlake, cantor que
saiu-se muito bem e suas tentativas para ser ator), um integrante da mal-fadada
população pobre nesse mundo onde tempo é dinheiro. Como todos têm a mesma idade
de vinte e cinco anos –lembre-se, naquele mundo não se envelhece –sua mãe tem
as feições de Olivia Wilde (!), e é ela quem cai morta num dia em que sua horas
de vida se esgotam. Ao mesmo tempo, Will recebe de um estranho (Matthew Bomer)
uma quantidade imensurável de tempo, com o qual pode ultrapassar os
dispendiosos pedágios para chegar às cidades maiores onde vivem os milionários.
Ao conhecer, numa festa, a jovem Sylvia (Amanda Seyfried), Will encontra uma
companheira em seu inconformismo. Com ajuda inicialmente relutante, mas logo
engajada dela, Will passa a assaltar lugares que detêm quantidades desiguais de
tempo –muitos dos quais, de propriedade do pai de Sylvia, vivido por Vincent
Kartheiser (da série “Mad Men”) –para distribuir entre a população.
É clara a referência adotada por Niccol que
transforma a dupla protagonista numa mal-disfarçada mescla de “Bonnie &
Clyde”, com elementos de “Robin Hood” –talvez Niccol tenha imaginado que sua
concepção, de um futuro altamente alegórico e nada realista, fosse norteada por
elementos difíceis o bastante para o grande público apanhar de imediato e tenha
optado por inspirações mais simples e identificáveis possíveis.
De qualquer forma, a reflexão que ele levanta é
tão pertinente quanto uma aula didática, e suas boas intenções transparecem ao
longo de todo o filme, quase tornando-o pedante.
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