Esquadrão de Extermínio
Num mundo high-tech onde favelas imensuráveis e
áreas urbanas agigantadas para além da imaginação (o conceito de direção de
arte das animações desta série é, por vezes, arrebatador) se tornaram um mundo
contaminado e desiludido, a raça humana, em seu hedonismo, obteve a solução
para a vida eterna. Consequência disso, é que as pessoas passam a ter seu
controle de natalidade severamente vigiado –viver eternamente torna redundante a
necessidade de conceber herdeiros e toda uma nova geração que perpetue qualquer
coisa que seja.
Sem um motivo existencial para ter filhos,
procriar tornou-se um ato frequentemente visto como ilegal –e os moradores das
áreas pobres, quando falham em esconder seus rebentos, são punidos da pior
forma: Um grupo de extermínio, encabeçado pelo taciturno protagonista deste
episódio, surge com a finalidade de dar cabo das crianças geradas ilegalmente.
Apesar de tudo, e dos esforços lúgubres dele em
enxergar seu trabalho com a máxima frieza, as atitudes atrozes que é obrigado a
tomar em seu trabalho começam a cobrar seu preço, na forma de pesadelos cada
vez mais contundentes. Ele precisará rever esses valores quando encontrar, numa
área arborizada afastada da cidade, uma mãe cuidando de sua filha, e os motivos
muito válidos que ela tem para ter gerado a criança.
Gelo
A lembrar o conceito do excelente “Gattaca-A Experiência Genética”, este episódio dirigido por Robert Valley (realizador dos
clips da banda “Gorillaz” com os
quais este curta muito se parece) traz um futuro gélido onde os humanos têm
filhos geneticamente modificados para se tornarem mais rápidos e mais fortes.
Dois irmãos, o mais velho, geneticamente normal e, por isso, vítima de preconceito,
e o mais novo, modificado e, por isso, integrado ao seu grupo de jovens amigos,
participam de uma disputa nas tediosas madrugadas nos imensos arredores de uma
espécie de plataforma petrolífera no Ártico: Os jovens disputam uma corrida sob
a superfície do mar congelado, sob a instigante ameaça de gigantescas baleias
que podem fragmentar a crosta e comprometer a sobrevivência dos mais vagarosos.
Para o mais novo, a disputa é um divertimento; para o mais velho, uma tentativa
–ainda que inconsequente e potencialmente fatal –de provar o seu valor.
Atendimento Automático Ao Cliente
Em uma sociedade muito similar à
norte-americana, os idosos gozam de um vida hedônea assessorados por toda sorte
de robôs. Aspiradores, massagistas, empregados domésticos em geral. Contudo, a
velha moradora de uma casa testemunha uma curiosa pane em seu robô-aspirador
–ele subitamente discorda da forma como algumas mobílias estão dispostas na
casa. E, com isso, a pane progride para uma hostilidade de fato à medida que a
dona deseja acessar o Atendimento Ao Cliente e percebe que as irônicas
mensagens gravadas só fazem apoiar a atitude cada vez mais psicótica do robô
(!). Uma versão adulta, violenta e sarcástica de “Wall-E”.
Snow No Deserto
Num mundo ao estilo “Star Wars” –e que remete
também à grande influência para esta coletânea de episódios, o longa-metragem
“Heavy Metal” –um andarilho solitário, Snow, é caçado por uma infinidade de
assassinos de aluguel, todos contratados com a intenção de lhe roubar os
testículos (!), ou seja, sua carga genética, já que ele, de uma idade
centenária, é o único ser vivo capaz de sobreviver à quase todas as intempéries
graças à sua prodigiosa capacidade regenerativa. Entretanto, em sua fuga
solitária e ininterrupta, ele acaba conhecendo Hirald, uma mulher com os mesmos
objetivos dos assassinos de aluguel, porém, com uma concepção diferente –ela
não deseja lhe fazer mal algum e, na desconcertante surpresa que reserva, ela
tem também seus motivos para querer a companhia e a compreensão que alguém
singular como Snow.
A Grama Alta
Na época do que parece ser o Velho Oeste, um
homem desavisado (personagem, segundo alguns, concebido à imagem e semelhança
do escritor H.P. Lovecraft) vê a locomotiva à vapor na qual viajava parar, na
calada da noite, em meio à uma densa campina de grama alta para além da altura
média humana. Apesar dos apelos do condutor para que não se afaste, ele fica
intrigado com misteriosos movimentos que identifica na vegetação e, ao tentar
espiar, perde-se do trem, pouco antes de descobrir que, no meio daquelas
folhagens, espreitam criaturas mortais e pavorosas que se alimentam de carne
humana.
Pela Casa
Na noite de Natal, dois irmãos têm a travessa
ideia de flagrar o Papai Noel no instante em que ele deposita seus presentes na
lareira. Entretanto, o que eles descobrem, ao esgueirar-se na surdina até a
sala, é uma surpresa um bocado
inesperada.
Concebido a partir da mesma e enganosa
concepção visual de clássicos natalinos animados como “Rudolph-A Rena do Nariz
Vermelho” –na qual os personagens lembram mais bonequinhos animados em stop-motion –esta arrojada animação
pulsa de ironia e humor negro ao agregar ao clima de nostalgia natalino
improváveis elementos macabros, a exemplo do que já fizera o clássico cult “O Estranho Mundo de Jack”, sua mais evidente inspiração, no entanto, este
curta-metragem vai muito mais longe, na ousadia gore e na desconstrução mítica do que aquele aclamado trabalho.
Gaiola de Sobrevivência
Num episódio que remete muito de “Final
Fantasy” –e no qual notamos, por isso mesmo, a gritante evolução exponencial
dos efeitos de computação –vemos o ator Michael B. Jordan (o qual comparece
dublando o personagem) recriado em CGI, vivendo um astronauta colhido numa
guerra futurista em pleno espaço sideral. Embora os percalços de como se deu
seu acidente e de como caiu em um planeta distante sejam esmiuçados em breves e
pontuais flashbacks, o foco no qual a narrativa se concentra é sua aflitiva
situação posterior: Ao encontrar, ainda ferido, uma diminuta base de
sobrevivência, ele imagina estar em segurança, porém, o robô de manutenção do
local apresenta defeito, o que significa que se volta contra ele e contra
qualquer coisa que se mova dentro do recinto.
Incapaz de se mover –pelo ferimento de batalha
e por outros agravados pelo próprio robô em seu primeiro ataque –ele deve achar
um meio de livrar-se dessa encrenca, antes que acabe definhando naquele local.
Imediatista na mescla de suspense e ficção
científica (características que o episódio compartilha com quase todos desta
nova coletânea), este curta faz muito lembrar o clássico “Hardware-O Destruidor do Futuro”, além da ficção “Planeta Vermelho”, sobretudo, no designer bastante
parecido do robô maligno.
O Gigante Afogado
No último e mais reflexivo de todos os
episódios –talvez, por contar com a direção de um dos produtores, Tim Miller,
mesmo diretor de “Deadpool” –acompanhamos a melancólica narração em off de um
cientista que, ao lado de outros pares, é chamado para verificar e tentar
entender um fenômeno inacreditável: O corpo de um gigante nu, totalmente
similar a um humano normal, surgiu na beira de uma praia, já morto por
afogamento.
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