sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Love, Death + Robots - 2ª Temporada


 Esquadrão de Extermínio

Num mundo high-tech onde favelas imensuráveis e áreas urbanas agigantadas para além da imaginação (o conceito de direção de arte das animações desta série é, por vezes, arrebatador) se tornaram um mundo contaminado e desiludido, a raça humana, em seu hedonismo, obteve a solução para a vida eterna. Consequência disso, é que as pessoas passam a ter seu controle de natalidade severamente vigiado –viver eternamente torna redundante a necessidade de conceber herdeiros e toda uma nova geração que perpetue qualquer coisa que seja.

Sem um motivo existencial para ter filhos, procriar tornou-se um ato frequentemente visto como ilegal –e os moradores das áreas pobres, quando falham em esconder seus rebentos, são punidos da pior forma: Um grupo de extermínio, encabeçado pelo taciturno protagonista deste episódio, surge com a finalidade de dar cabo das crianças geradas ilegalmente.

Apesar de tudo, e dos esforços lúgubres dele em enxergar seu trabalho com a máxima frieza, as atitudes atrozes que é obrigado a tomar em seu trabalho começam a cobrar seu preço, na forma de pesadelos cada vez mais contundentes. Ele precisará rever esses valores quando encontrar, numa área arborizada afastada da cidade, uma mãe cuidando de sua filha, e os motivos muito válidos que ela tem para ter gerado a criança.


Gelo

A lembrar o conceito do excelente “Gattaca-A Experiência Genética”, este episódio dirigido por Robert Valley (realizador dos clips da banda “Gorillaz” com os quais este curta muito se parece) traz um futuro gélido onde os humanos têm filhos geneticamente modificados para se tornarem mais rápidos e mais fortes. Dois irmãos, o mais velho, geneticamente normal e, por isso, vítima de preconceito, e o mais novo, modificado e, por isso, integrado ao seu grupo de jovens amigos, participam de uma disputa nas tediosas madrugadas nos imensos arredores de uma espécie de plataforma petrolífera no Ártico: Os jovens disputam uma corrida sob a superfície do mar congelado, sob a instigante ameaça de gigantescas baleias que podem fragmentar a crosta e comprometer a sobrevivência dos mais vagarosos. Para o mais novo, a disputa é um divertimento; para o mais velho, uma tentativa –ainda que inconsequente e potencialmente fatal –de provar o seu valor.


Atendimento Automático Ao Cliente

Em uma sociedade muito similar à norte-americana, os idosos gozam de um vida hedônea assessorados por toda sorte de robôs. Aspiradores, massagistas, empregados domésticos em geral. Contudo, a velha moradora de uma casa testemunha uma curiosa pane em seu robô-aspirador –ele subitamente discorda da forma como algumas mobílias estão dispostas na casa. E, com isso, a pane progride para uma hostilidade de fato à medida que a dona deseja acessar o Atendimento Ao Cliente e percebe que as irônicas mensagens gravadas só fazem apoiar a atitude cada vez mais psicótica do robô (!). Uma versão adulta, violenta e sarcástica de “Wall-E”.


Snow No Deserto

Num mundo ao estilo “Star Wars” –e que remete também à grande influência para esta coletânea de episódios, o longa-metragem “Heavy Metal” –um andarilho solitário, Snow, é caçado por uma infinidade de assassinos de aluguel, todos contratados com a intenção de lhe roubar os testículos (!), ou seja, sua carga genética, já que ele, de uma idade centenária, é o único ser vivo capaz de sobreviver à quase todas as intempéries graças à sua prodigiosa capacidade regenerativa. Entretanto, em sua fuga solitária e ininterrupta, ele acaba conhecendo Hirald, uma mulher com os mesmos objetivos dos assassinos de aluguel, porém, com uma concepção diferente –ela não deseja lhe fazer mal algum e, na desconcertante surpresa que reserva, ela tem também seus motivos para querer a companhia e a compreensão que alguém singular como Snow.


A Grama Alta

Na época do que parece ser o Velho Oeste, um homem desavisado (personagem, segundo alguns, concebido à imagem e semelhança do escritor H.P. Lovecraft) vê a locomotiva à vapor na qual viajava parar, na calada da noite, em meio à uma densa campina de grama alta para além da altura média humana. Apesar dos apelos do condutor para que não se afaste, ele fica intrigado com misteriosos movimentos que identifica na vegetação e, ao tentar espiar, perde-se do trem, pouco antes de descobrir que, no meio daquelas folhagens, espreitam criaturas mortais e pavorosas que se alimentam de carne humana.


Pela Casa

Na noite de Natal, dois irmãos têm a travessa ideia de flagrar o Papai Noel no instante em que ele deposita seus presentes na lareira. Entretanto, o que eles descobrem, ao esgueirar-se na surdina até a sala, é  uma surpresa um bocado inesperada.

Concebido a partir da mesma e enganosa concepção visual de clássicos natalinos animados como “Rudolph-A Rena do Nariz Vermelho” –na qual os personagens lembram mais bonequinhos animados em stop-motion –esta arrojada animação pulsa de ironia e humor negro ao agregar ao clima de nostalgia natalino improváveis elementos macabros, a exemplo do que já fizera o clássico cult “O Estranho Mundo de Jack”, sua mais evidente inspiração, no entanto, este curta-metragem vai muito mais longe, na ousadia gore e na desconstrução mítica do que aquele aclamado trabalho.


Gaiola de Sobrevivência

Num episódio que remete muito de “Final Fantasy” –e no qual notamos, por isso mesmo, a gritante evolução exponencial dos efeitos de computação –vemos o ator Michael B. Jordan (o qual comparece dublando o personagem) recriado em CGI, vivendo um astronauta colhido numa guerra futurista em pleno espaço sideral. Embora os percalços de como se deu seu acidente e de como caiu em um planeta distante sejam esmiuçados em breves e pontuais flashbacks, o foco no qual a narrativa se concentra é sua aflitiva situação posterior: Ao encontrar, ainda ferido, uma diminuta base de sobrevivência, ele imagina estar em segurança, porém, o robô de manutenção do local apresenta defeito, o que significa que se volta contra ele e contra qualquer coisa que se mova dentro do recinto.

Incapaz de se mover –pelo ferimento de batalha e por outros agravados pelo próprio robô em seu primeiro ataque –ele deve achar um meio de livrar-se dessa encrenca, antes que acabe definhando naquele local.

Imediatista na mescla de suspense e ficção científica (características que o episódio compartilha com quase todos desta nova coletânea), este curta faz muito lembrar o clássico “Hardware-O Destruidor do Futuro”, além da ficção “Planeta Vermelho”, sobretudo, no designer bastante parecido do robô maligno.


O Gigante Afogado

No último e mais reflexivo de todos os episódios –talvez, por contar com a direção de um dos produtores, Tim Miller, mesmo diretor de “Deadpool” –acompanhamos a melancólica narração em off de um cientista que, ao lado de outros pares, é chamado para verificar e tentar entender um fenômeno inacreditável: O corpo de um gigante nu, totalmente similar a um humano normal, surgiu na beira de uma praia, já morto por afogamento.

O cientista se compadece do gigante e de seu amargo fim, notando inclusive as características mais particulares em sua fronte humana, mas ele parece ser o único –todos os demais ao seu redor (turistas, repórteres, estudiosos e meros curiosos) parecem até mesmo se esquecerem das similaridades humanas daquele gigantesco cadáver e passam a tratá-lo como uma curiosidade turística. Nos dias e e semanas que se seguem –e que ainda testemunham a inevitável decomposição do corpo –o gigante é escalado, pixado, usado como playground, e até mesmo esquartejado (!) com suas partes sendo exibidas, posteriormente, nos mais diversos estabelecimentos e pelas mais inusitadas razões.Um comentário bastante filosófico e pleno de ironia sobre a convulsiva falta de empatia dos seres humanos enquanto coletividade.

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