segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Êxodo - Deuses e Reis

Apesar da lembrança ainda poderosa do épico clássico de Cecil B. De Mille, o diretor Ridley Scott arriscou em 2014, uma nova versão de “Os Dez Mandamentos”.
Vindo de uma tentativa controversa de retomar a série “Alien” (“Prometheus”), Scott moldou um projeto com deliberada aparência de Oscar: História mítica e grandiosa; diretor e equipe técnica renomados; elenco de astros talentosos; até mesmo a data de lançamento nos cinemas era estrategicamente propícia –meados de dezembro, fácil, portanto, de ser lembrado pelos votantes da Academia.
Deveras, Scott também tinha um objetivo bem claro em relação a essa nova repaginação: Abordar a jornada de Moisés (Christian Bale), o filho adotivo do Faraó que descobre ser o prometido libertador do povo hebreu, com um realismo táctil e desmistificador que ia de encontro aos tratamentos anteriores dados à história.
É razoável então que o retrato de Moisés, aqui, seja tão distinto da famosa personificação messiânica de Charlton Heston –Moisés quase ganha um viés de líder terrorista, enfatizado nas manifestações alucinatórias que ele alegadamente tem de Deus (que, na narrativa de Scott, adquirem a possibilidade de ser um mero surto).
E, dessa forma, são também abordados os outros momentos vultuosos da trama: As sete pragas do Egito (cujo respaldo científico de cada uma delas fornecido pelo roteiro faz lembrar o terror “A Colheita do Mal”, lançado pouco antes); a travessia do Mar Vermelho (da qual é removido o teor milagroso de que o mar se abriu, substituído por uma alternação ocasionada por maré alta e maré baixa); a concepção dos 10 mandamentos (mostrados como tendo sido esculpidos pelo próprio Moisés).
No raciocínio dos realizadores, essa é uma ideia que agrega audácia e originalidade à produção (e ainda uma chance de dar à história de Moisés toda uma reflexão ambígua), mas, no final das contas, isso resulta, em grande parte, frustrante.
Há, por exemplo, um premeditado clima de preparação quando o filme adentra seu último terço, no qual se cria expectativa para uma inédita batalha entre os oprimidos hebreus e os opressores egípcios.
Nada, porém, acontece: Scottt, apesar dos lampejos pouco contundentes de subverter a história conhecida, termina por segui-la com proximidade.
“Êxodo” é assim uma superprodução indefinida entre a intenção reverente de manter-se algo fiel ao filme clássico (almejando com alguma pretensão o reconhecimento que ele desfruta) e o ímpeto transgressivo (mais na teoria que na prática...) de oferecer um viés inesperado do famoso episódio bíblico.

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