Apesar da lembrança ainda poderosa do épico
clássico de Cecil B. De Mille, o diretor Ridley Scott arriscou em 2014, uma
nova versão de “Os Dez Mandamentos”.
Vindo de uma tentativa controversa de retomar a
série “Alien” (“Prometheus”), Scott moldou um projeto com deliberada aparência
de Oscar: História mítica e grandiosa; diretor e equipe técnica renomados;
elenco de astros talentosos; até mesmo a data de lançamento nos cinemas era
estrategicamente propícia –meados de dezembro, fácil, portanto, de ser lembrado
pelos votantes da Academia.
Deveras, Scott também tinha um objetivo bem
claro em relação a essa nova repaginação: Abordar a jornada de Moisés
(Christian Bale), o filho adotivo do Faraó que descobre ser o prometido
libertador do povo hebreu, com um realismo táctil e desmistificador que ia de
encontro aos tratamentos anteriores dados à história.
É razoável então que o retrato de Moisés, aqui,
seja tão distinto da famosa personificação messiânica de Charlton Heston
–Moisés quase ganha um viés de líder terrorista, enfatizado nas manifestações
alucinatórias que ele alegadamente tem de Deus (que, na narrativa de Scott,
adquirem a possibilidade de ser um mero surto).
E, dessa forma, são também abordados os outros
momentos vultuosos da trama: As sete pragas do Egito (cujo respaldo científico
de cada uma delas fornecido pelo roteiro faz lembrar o terror “A Colheita do
Mal”, lançado pouco antes); a travessia do Mar Vermelho (da qual é removido o
teor milagroso de que o mar se abriu, substituído por uma alternação ocasionada
por maré alta e maré baixa); a concepção dos 10 mandamentos (mostrados como
tendo sido esculpidos pelo próprio Moisés).
No raciocínio dos realizadores, essa é uma
ideia que agrega audácia e originalidade à produção (e ainda uma chance de dar
à história de Moisés toda uma reflexão ambígua), mas, no final das contas, isso
resulta, em grande parte, frustrante.
Há, por exemplo, um premeditado clima de
preparação quando o filme adentra seu último terço, no qual se cria expectativa
para uma inédita batalha entre os oprimidos hebreus e os opressores egípcios.
Nada, porém, acontece: Scottt, apesar dos
lampejos pouco contundentes de subverter a história conhecida, termina por
segui-la com proximidade.
“Êxodo” é assim uma
superprodução indefinida entre a intenção reverente de manter-se algo fiel ao
filme clássico (almejando com alguma pretensão o reconhecimento que ele
desfruta) e o ímpeto transgressivo (mais na teoria que na prática...) de
oferecer um viés inesperado do famoso episódio bíblico.
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