Caso não tivesse ficado bem claro no comentário
sardônico da trilha sonora de John Morris, logo no início, a sucessão de cenas
de pura galhofa já deixaria bem claro que o filme dirigido por Jonathan Lynn (o
mesmo de “Meu Primo Vinny”) é uma comédia disfarçada de suspense –ou seria um
suspense disfarçado de comédia?
Nada nele se leva a sério, e isso se confirma
quando compreendemos que esta é uma tentativa descontraída de Lynn e seu
co-roteirista, o também diretor John Landis, em adaptar para cima o jogo
“Detetive”, amparado na atmosfera dos contos de Agatha Christie.
O ótimo Tim Curry é, ou aparenta ser, o mordomo
de uma mansão onde um jantar há de ser realizado numa noite chuvosa.
Quando os convidados começam a chegar,
descobrimos que a presença de todos ali obedece um procedimento muito
particular: Para simplificar, todos ali estão presentes usando pseudônimos a
fim de proteger suas identidades; e todos foram levados àquele lugar porque o
mesmo chantagista lhes extorquia dinheiro.
É assim que, além de Wadsworth, o mordomo,
conhecemos também Coronel Mustard (Martin Mull), Mrs. Peacock (Eileen Brennan,
de “A Última Sessão de Cinema”), Miss Scarlet (Lesley Ann Warren, de “O Estranho”), Prof. Plum (Christopher Loyd), Mrs. White (Madeline Kahn, de “Lua de Papel”) e Mr. Green (Michael McKean, de “1941-Uma Guerra Muito Louca”).
À eles, soma-se também um certo Mr. Boddy –Sr.
Corpo (morto) prova de que os roteiristas não tiveram um pingo de sutileza na
hora de nomear os personagens –interpretado por Lee Ving que revela-se o próprio
chantagista em pessoa. Na sequência da revelação, dentro de uma sala fechada,
as luzes se apagam e... um assassinato acontece!
Mr. Boddy é morto, e apenas Wadsworth e os
outros seis se encontravam no recinto.
Além deles estão na mansão também a sexy
empregada Yvette (Colleen Camp, de “Death Game”) e a cozinheira (Kellye
Nakahara). E a certeza de que o assassino é um deles –e deve ser descoberto
antes da chegada iminente da polícia.
Assim se desenha a premissa um tanto abilolada
desta paródia de suspenses investigativos que, em sua ânsia de fazer graça, não
presta muita atenção às motivações bem sedimentadas dos personagens, nem à
coerência que poderia nortear suas ações e muito menos à plausibilidade dos
acontecimentos que vão ocorrendo: Ao longo da noite, novas mortes se sucedem
–Yvette e a cozinheira; um desavisado que bateu à porta à procura de um
telefone (Jeffrey Kramer, de “Tubarão”); um policial que também bateu à porta
(Bill Henderson, de “Murphy’s Law”); e, por fim, uma improvável moça levando um
‘telegrama falante’ (Jane Wiedlin) (!) –fazendo com que restem, de fato, apenas
os sete suspeitos entre as únicas alternativas possíveis para se chegar ao
culpado.
Todavia, tão rocambolesco é o corre-corre no
roteiro de Lynn e Landis (que nele privilegiam sua especialidade, o humor), tão
intensa é sua vontade de surpreender o expectador à qualquer custo e tão
absurdas são as guinadas de sua trama de um ponto em diante que o encadeamento
das pistas, os objetivos e pretextos sugeridos neste ou naquele personagem já
não fazem o menor sentido, e qualquer explicação acabaria esbarrando no
inverossímil.
Essa confusão, ao que parece, já estava
prevista na gênese da produção, e os realizadores a justificam como a razão de
ser do próprio projeto –no qual os atores realmente se comportam com frenético
histrionismo.
Em sua versão em DVD, este
“Os 7 Suspeitos” tem pelo menos três diferentes finais alternativos; uma prova
de que, até o fim, ninguém sabia muito bem aonde toda aquela confusão iria
chegar.
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