quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Compramos Um Zoológico


 Em algum momento depois da aclamação pra lá de merecida de “Quase Famosos”, o cinema de Cameron Crowe ameaçou sair dos trilhos. Esse curioso processo começou com a refilmagem de “Abra Los Ojos”, “Vanilla Sky”, e prosseguiu em excessos mais ou menos prejudiciais que apareceram em obras como “Tudo Acontece Em Elizabethtown”, de 2005, e “Compramos Um Zoológico”, de 2011, exatos seis anos depois –o intervalo se deu por Crowe dedicar esse tempo realizando o documentário “Pearl Jam 20 Twenty”.

Inspirado em uma história real, “Compramos Um Zoológico” é lisérgico na liberdade plena com que Crowe, diretor e roteirista (escrevendo em conjunto com Aline Brosh McKenna, roteirista de “O Diabo Veste Prada”), consegue imprimir na tela sua visão descolada, romântica e embriagante sobre o mundo, o amor e a vida.

É essa abordagem, exacerbada de alto astral, que Crowe confere à trajetória de Benjamin Mee (o sempre comprometido Matt Damon), um viúvo recente, mergulhado na auto-piedade de seu luto que recebe (muitas vezes até demais!) de todos os coadjuvantes a sua volta, indícios de que a vida é, sim, muito bela –sendo o mais expressivo deles o irmão interpretado pelo ótimo Thomas Alden Church.

Cedendo de uma forma um tanto torta às insistências de recomeçar, Mee, ao lado dos dois filhos, o adolescente Dylan (o apático Colin Ford) e a pequena Rosie (Maggie Elizabeth Jones), compra um zoológico depauperado e decadente em vias de ser fechado e resolve transformar sua recuperação numa espécie de cruzada pessoal à qual dedicar-se.

Para efeitos práticos do expediente da ficção, há nesse zoológico –dentre as inúmeras figuras peculiares em seu humor e sua galhofa pueril que Crowe tem por hábito criar –duas garotas, uma mais velha (vivida por Scarlett Johansson, ótima atriz que merecia uma personagem mais relevante) e uma mais jovem (vivida por Elle Fanning) que, sem maiores esforços para se disfarçar, lá estão posicionadas para ser o infalível interesse romântico, respectivamente, do protagonista Mee e de seu filho Dylan.

Desprovido do equilíbrio fascinante entre trama bem escrita, emoções austeramente calibradas e construção sensata de narrativa presente nas melhores obras de Crowe, “Compramos Um Zoológico” oscila entre desmedida ingenuidade e excessiva sacarose, em sequências que soam quase intoleráveis aos expectadores menos adeptos do romantismo muito particular exercido pelo diretor.

A questão bastante admirável no fato de ser inspirado num fato real, e ainda assim guardar elementos que flertam o tempo todo com o improvável e o mirabolante, acaba ficando para escanteio diante da atmosfera tão agridoce que ele imprime.

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