Em algum momento depois da aclamação pra lá de merecida de “Quase Famosos”, o cinema de Cameron Crowe ameaçou sair dos trilhos. Esse curioso processo começou com a refilmagem de “Abra Los Ojos”, “Vanilla Sky”, e prosseguiu em excessos mais ou menos prejudiciais que apareceram em obras como “Tudo Acontece Em Elizabethtown”, de 2005, e “Compramos Um Zoológico”, de 2011, exatos seis anos depois –o intervalo se deu por Crowe dedicar esse tempo realizando o documentário “Pearl Jam 20 Twenty”.
Inspirado em uma história real, “Compramos Um
Zoológico” é lisérgico na liberdade plena com que Crowe, diretor e roteirista
(escrevendo em conjunto com Aline Brosh McKenna, roteirista de “O Diabo Veste Prada”), consegue imprimir na tela sua visão descolada, romântica e embriagante
sobre o mundo, o amor e a vida.
É essa abordagem, exacerbada de alto astral,
que Crowe confere à trajetória de Benjamin Mee (o sempre comprometido Matt
Damon), um viúvo recente, mergulhado na auto-piedade de seu luto que recebe
(muitas vezes até demais!) de todos os coadjuvantes a sua volta, indícios de
que a vida é, sim, muito bela –sendo o mais expressivo deles o irmão
interpretado pelo ótimo Thomas Alden Church.
Cedendo de uma forma um tanto torta às
insistências de recomeçar, Mee, ao lado dos dois filhos, o adolescente Dylan (o
apático Colin Ford) e a pequena Rosie (Maggie Elizabeth Jones), compra um
zoológico depauperado e decadente em vias de ser fechado e resolve transformar
sua recuperação numa espécie de cruzada pessoal à qual dedicar-se.
Para efeitos práticos do expediente da ficção,
há nesse zoológico –dentre as inúmeras figuras peculiares em seu humor e sua
galhofa pueril que Crowe tem por hábito criar –duas garotas, uma mais velha
(vivida por Scarlett Johansson, ótima atriz que merecia uma personagem mais
relevante) e uma mais jovem (vivida por Elle Fanning) que, sem maiores esforços
para se disfarçar, lá estão posicionadas para ser o infalível interesse
romântico, respectivamente, do protagonista Mee e de seu filho Dylan.
Desprovido do equilíbrio fascinante entre trama
bem escrita, emoções austeramente calibradas e construção sensata de narrativa
presente nas melhores obras de Crowe, “Compramos Um Zoológico” oscila entre
desmedida ingenuidade e excessiva sacarose, em sequências que soam quase
intoleráveis aos expectadores menos adeptos do romantismo muito particular
exercido pelo diretor.
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