quarta-feira, 8 de setembro de 2021

As Minas do Rei Salomão


 É difícil explicar, aos cinéfilos mais jovens de hoje, o êxito avassalador conquistado por “Os Caçadores da Arca Perdida” na época de seu lançamento. Se não foi uma febre tão absoluta quanto “Star Wars” anos antes (cuja equipe técnica, em grande medida, eles compartilhavam), as aventuras de indiana Jones se tornaram logo um clássico moderno, ganhando lugar de honra e de destaque na cultura pop.

Com efeito, tal qual houve com “Star Wars”, não tardaram aparecer imitadores querendo fazer seu próprio “Caçadores...” e criar um novo Indiana Jones.

Uma das tentativas mais válidas e bem-humoradas, ironicamente, veio das fileiras de filmes B. Os produtores Yoram Globus e Menahem Golan (especialistas no cinema de ação e aventura barato dos anos 1980 a frente da produtora Cannon Filmes) adaptaram, em 1985, o clássico de H.R. Haggard e espertamente tiveram a ideia de dar-lhe uma roupagem totalmente similar àquela usada por Steven Spielberg, a de uma matinê de alto nível. Por sorte, os produtores contaram com um roteirista (Gene Quintano) que, se não era um prodígio de inteligência e originalidade, soube compreender exatamente a metodologia instintiva com as quais cenas tão memoráveis de ação eram criadas; um diretor (J. Lee Thompson, de “Os Canhões de Navarone” e “Murphy’s Law”) tão embriagado e admirado com o trabalho de Spielberg que se satisfez em não imprimir identidade alguma em seu trabalho desde que ele tivesse todas as impressões e características daquele sucesso; e um ator (Richard Chamberlain), cujo personagem, Alan Quatermain, decalcado na maior cara-de-pau dos elementos de Indiana Jones, se não chegava ao magnetismo popular do herói de Harrison Ford, ao menos, ostentava carisma o bastante.

A jovem Jesse Huston (Sharon Stone, belíssima no frescor da juventude) vai à África em busca do paradeiro do pai (Bernard Archard, de “Krull”), pesquisador envolvido numa expedição atrás da trilha de pistas que leva às lendárias minas do rei Salomão. Em seu auxílio, está o aventureiro Alan Quatermain que não tarda a concluir que o melhor meio para achar o doutor desaparecido é perseguir o próprio rastro de indícios históricos e arqueológicos que levam ao mítico tesouro. Entretanto, nesse percurso, inúmeros perigos se abatem sobre o casal: Os alemães (exatamente como em “Caçadores...”), liderados pelo caricato Coronel Bockner (Herbert Lom, de “A Pantera Cor-de-Rosa”) estão também interessados nas riquezas, assim como o perverso traficante de escravos Dogati (John Rhys-Davies, que também estava no elenco de “Caçadores...” e em “Indiana Jones e A Última Cruzada”).

No final das contas, “As Minas do Rei Salomão”, com seu ritmo frenético de aventura e seu desavergonhado esforço em simular a ‘grife’ Spielberg terminou se tornando um daqueles clássicos da “Sessão da Tarde” não obstante sua produção pobre, suas sequências de ação que, quando não eram mambembes deixavam evidentes a cópia descarada engendrada de produções melhores, e a canastrice que ocasionava seus coadjuvantes, seus vilões e, às vezes, até mesmo seu herói.

Numa coisa, porém, o trabalho de J.Lee Thompson, Yoram Globus e Menahem Golan quase ombreia a brilhante obra de Spielberg: A mocinha interpretada por Sharon Stone (anos antes da consagração pelo thriller erótico “Instinto Selvagem”), apesar de ocasionalmente mal-escrita, é tão espevitada e adorável quanto aquela vivida por Karen Allen na primeira aventura de Indiana Jones.

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