Embora fosse uma versão nada disfarçada de “Emma”, de Jane Austen, o livro de Helen Fielding tornou-se um espetacular best-seller ao redor do mundo, capturando a atenção do público feminino que encantou-se com a trama divertida e adocicada dos encontros e desencontros amorosos da pra lá de desengonçada Bridget Jones –protagonista esta que, em sua imperfeição declarada e em seus tropeços diversos e constrangedores proporcionava uma poderosa identificação em seu público alvo.
Objeto de enorme atenção por parte de seu
fã-clube, a adaptação cinematográfica capitaneada por Sharon Maguire resolveu a
difícil tarefa de escalar uma protagonista perfeita com uma opção audaciosa: A
texana Renée Zelwegger que, devido ao fato de ser norte-americana e não inglesa
como a personagem, suscitou inicialmente protestos das fãs.
Na trama, a inglesa Bridget Jones enfrenta em
seu dia-a-dia todos os contratempos típicos de uma mulher moderna: suas brigas
com a balança, a competitiva vida profissional, a atrapalhada busca por um
amor, ou só alguém para contornar a solidão, as implicâncias da mãe ao ver sua
filha solteira aos 30 anos, etc. Bridget registra tudo em seu diário, inclusive
seu novo "affair", que vem a ser justamente seu patrão (Hugh Grant,
tão engraçado quanto cafajeste), e ainda o aparecimento de um certo, e
inconveniente, Sr. Darcy (o ótimo Colin Firth, apenas iniciando sua jornada
como astro e intérprete reconhecido).
Ao tentar lidar com os problemas corriqueiros,
Bridget deixa-se levar por sua afobação e tira conclusões estapafúrdias que a
levam às maiores confusões.
Apesar do reclame das fãs, o filme de Sharon
Maguire muito se beneficia da impagável composição de Reneé Zelwegger que cria
uma protagonista impecavelmente inglesa (seu sotaque é perfeito) e toda
complicada, carregando o filme nas costas sem sentir seu peso –não à toa, ela
foi merecidamente indicada ao Oscar 2002 de Melhor Atriz, perdendo a estatueta
para Halle Berry.
Essa percepção do público à escolha do elenco –algo
que, por vezes, remete a uma característica do cinema inglês –se reflete também
no papel de Darcy, no qual fato de Colin
Firth na época ser lembrado tão somente pelo personagem algo vilanesco de “O Paciente Inglês”, leva a plateia a presunções equivocadas sobre ele; algo que,
definitivamente corresponde às expectativas almejadas pela produção.
Tão emblemático e estruturalmente certeiro “O
Diário de Bridget Jones” é para o gênero da comédia romântica ao qual ele se
insere que ele próprio serviu de exemplo a um estudo feito anos depois, onde
pesquisadores chegaram à conclusão que o consumo excessivo dessas obras pelo
público (certamente, o feminino em especial) era bastante prejudicial aos
relacionamentos: A realidade de uma relação à dois, afinal, passa longe do
romantismo formulaico e da idealização que define esses trabalhos em geral, e “O
Diário de Bridget Jones” em particular.
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