quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O Diário de Bridget Jones


 Embora fosse uma versão nada disfarçada de “Emma”, de Jane Austen, o livro de Helen Fielding tornou-se um espetacular best-seller ao redor do mundo, capturando a atenção do público feminino que encantou-se com a trama divertida e adocicada dos encontros e desencontros amorosos da pra lá de desengonçada Bridget Jones –protagonista esta que, em sua imperfeição declarada e em seus tropeços diversos e constrangedores proporcionava uma poderosa identificação em seu público alvo.

Objeto de enorme atenção por parte de seu fã-clube, a adaptação cinematográfica capitaneada por Sharon Maguire resolveu a difícil tarefa de escalar uma protagonista perfeita com uma opção audaciosa: A texana Renée Zelwegger que, devido ao fato de ser norte-americana e não inglesa como a personagem, suscitou inicialmente protestos das fãs.

Na trama, a inglesa Bridget Jones enfrenta em seu dia-a-dia todos os contratempos típicos de uma mulher moderna: suas brigas com a balança, a competitiva vida profissional, a atrapalhada busca por um amor, ou só alguém para contornar a solidão, as implicâncias da mãe ao ver sua filha solteira aos 30 anos, etc. Bridget registra tudo em seu diário, inclusive seu novo "affair", que vem a ser justamente seu patrão (Hugh Grant, tão engraçado quanto cafajeste), e ainda o aparecimento de um certo, e inconveniente, Sr. Darcy (o ótimo Colin Firth, apenas iniciando sua jornada como astro e intérprete reconhecido).

Ao tentar lidar com os problemas corriqueiros, Bridget deixa-se levar por sua afobação e tira conclusões estapafúrdias que a levam às maiores confusões.

Apesar do reclame das fãs, o filme de Sharon Maguire muito se beneficia da impagável composição de Reneé Zelwegger que cria uma protagonista impecavelmente inglesa (seu sotaque é perfeito) e toda complicada, carregando o filme nas costas sem sentir seu peso –não à toa, ela foi merecidamente indicada ao Oscar 2002 de Melhor Atriz, perdendo a estatueta para Halle Berry.

Essa percepção do público à escolha do elenco –algo que, por vezes, remete a uma característica do cinema inglês –se reflete também no papel de Darcy, no qual  fato de Colin Firth na época ser lembrado tão somente pelo personagem algo vilanesco de “O Paciente Inglês”, leva a plateia a presunções equivocadas sobre ele; algo que, definitivamente corresponde às expectativas almejadas pela produção.

Tão emblemático e estruturalmente certeiro “O Diário de Bridget Jones” é para o gênero da comédia romântica ao qual ele se insere que ele próprio serviu de exemplo a um estudo feito anos depois, onde pesquisadores chegaram à conclusão que o consumo excessivo dessas obras pelo público (certamente, o feminino em especial) era bastante prejudicial aos relacionamentos: A realidade de uma relação à dois, afinal, passa longe do romantismo formulaico e da idealização que define esses trabalhos em geral, e “O Diário de Bridget Jones” em particular.

Todavia, não há como negar a obra imensamente cativante aqui obtida: O sucesso –tanto literário quanto cinematográfico –levou à duas continuações que (ao menos, no cinema) foram “Bridget Jones-No Limite da Razão” e “O Bebê de Bridget Jones”.

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