Em algum momento, no largo espaço de tempo entre os filmes iniciados pelo clássico “Planeta dos Macacos”, de 1968 (cujo último exemplar, “A Batalha do Planeta dos Macacos”, foi lançado em 1973) e a nova e aclamada trilogia ‘estrelada’ por Andy Serkis como um símio digital –cujo capítulo final foi o excelente “O Planeta dos Macacos-A Guerra” –os estúdios da Fox tentaram realizar uma refilmagem do filme que iniciou toda essa mitologia.
A verdade é que durante muito tempo a Fox
acarinhou um novo projeto –datam ao longo de toda a década de 1990 relatos de
um contrato envolvendo o astro Arnold Shcwarzenegger no papel que antes havia
sido de Charlton Heston. Como costuma ocorrer com produções endinheiradas
demais e que envolvem agendas de astros requisitados, o novo “Planeta dos
Macacos” não somente sofreu inúmeros atrasos como transformou-se radicalmente a
medida que se revezavam diretores e atores principais em seu comando.
O filme que por fim chegou às telas de cinema
naquele já longínquo ano 2000 aparentava ser quase uma repaginação do original
com Charlton Heston –onde ele vive um astronauta que cai num planeta Terra
povoado por macacos evoluídos –entretanto, mudanças que dizem respeito às
mentes criativas por trás do projeto, converteram a aventura espacial em outra
coisa; algo que, visto hoje e desprovido de qualquer continuidade que lhe
amarrasse as pontas soltas, soa ainda mais incoerente do que em sua época.
Na direção –que, por muito tempo, cogitou-se
James Cameron e Oliver Stone em suas especulações –quem disse sim ao estúdio
acabou sendo o esteta Tim Burton que, num lance até surpreendente, construiu um
filme de aventura, convencional e genérico em suas características autorais.
Este “Planeta dos Macacos” é um dos trabalhos em que menos se percebe a
assinatura visual de Burton, inconfundível em projetos como “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”.
No papel protagonista do astronauta Leo
Davidson, entra Mark Whalberg, uma escolha que parece absolutamente aleatória.
Seguindo os passos do filme original, Davidson vive numa estação espacial em
órbita de um vortex. Um dos macacos adestrados do lugar, chamado Pericles, é
despachado numa nave e acidentalmente acaba sugado pelo vortex, levando
Davidson à segui-lo a fim de resgatar o pobre animal, contudo, por uma série de
tortuosas viagens no tempo (mais ainda tortuosas pela trama pouco convincente que
originam), ele cai num planeta onde o macaco Pericles em questão caiu séculos
antes dele (!), e a partir desse macaco, o patriarca, digamos assim, toda uma
sociedade de macacos aflorou e se desenvolveu convertendo os humanos em seus
escravos.
Uma trama muito semelhante à do primeiro filme
que, no entanto, troca sua objetiva ficção científica por uma embromação
pretensamente intrincada.
Ainda assim, é no planeta dos macacos,
propriamente dito, que o filme de Burton revela suas duas maiores forças: A
primeira –se é que depois de tanto tempo isso vem a importar –é a prodigiosa
maquiagem, como tinha que ser, onde a parcela do elenco encarregada de
personificar os símios tem seus rostos transformados pela autenticidade animal.
Se a maquiagem já era um fator de assombro no clássico de 1968, aqui, neste
filme de 2001, à cargo do mago das próteses Rick Baker (de “Um Lobisomem Americano em Londres”). ela é espantosa, convertendo rostos famosos, como
Helena Bonhan Carter, Michael Clarke Duncan, Paul Giamatti, Kris Kristofferson,
Cary Hiroyuki-Tagawa e até mesmo o próprio Charlton Heston (numa ponta
referencial e especial) em perfeitos símios; e ainda assim, tal arrojo já soava
anacrônico naquela época –naquele ano, ele perdeu o Oscar de Melhor Maquiagem (ao
qual nem foi indicado!) para “O Senhor dos Anéis-A Sociedade do Anel”
–justificando a mudança de ênfase, da maquiagem para os efeitos realísticos da
captura de performance na tentativa seguinte, e mais bem-sucedida, de retomar a
franquia.
O segundo grande trunfo do filme de Burton,
termina sendo seu formidável vilão, o General Thade interpretado por Tim Roth,
compreensivelmente irreconhecível debaixo de tanta maquiagem, mas cujo talento
ainda foi capaz de moldar um antagonista complexo, raivoso, ameaçador e
plenamente convincente na pele de um macaco autoritário, agressivo e déspota. O
tirano, enfim, que captura Davidson junto dos outros humanos, sem dar-se conta
de que será ele e seus conhecimentos extraordinários de humano evoluído, que
iniciará uma insurreição onde os humanos tentarão escapar do jugo dos macacos.
É o General Thade, inclusive, o responsável
pelo desfecho desconcertante, enigmático e francamente incompreensível do
longa, elaborado claramente para competir em choque e surpresa com a revelação
clássica na qual o planeta dos macacos é o Planeta Terra ao mostrar a cena
desoladora da Estátua da Liberdade destroçada: Ao fim, Davidson usa de sua nave
para partir desse novo planeta dos macacos (que NÃO era a Terra!) e volta ao
nosso planeta, incerto quanto aos rumos que suas estripulias temporais
efetuaram no futuro. Ao aterrissar, ele se depara com um mundo moderno (cai, por
exemplo, em plena Washington dos dias atuais), entretanto, não são os humanos
quem habitam esse mundo; são os macacos! Na última cena, pouco antes do filme
de Burton nos abandonar sem quaisquer explicações plausíveis para o que
aconteceu (sem nenhuma mesmo, visto que qualquer continuação que, por ventura,
viesse a fornecer tal explicação jamais foi realizada), vemos a estátua de
Abraham Lincoln no Lincoln Memorial, numa versão símia, e ali, quem está nela é
o próprio General Thade.
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