O diretor sul-africano Gavin Hood ganhou do Oscar de Filme Estrangeiro por "Infância Roubada" e, em seguida, quase destruiu a própria carreira ao dirigir “X-Men Origens Wolverine”, o primeiro (e catastrófico) filme solo do personagem. Ao encarar esta adaptação austera, equilibrada e interessante de uma série conhecida de livros juvenis, ele tentou –e de certa forma conseguiu –provar que é um bom realizador.
“Ender’s Game” passa longe de ser uma obra-prima, mas deixa
evidente a condução sensata, a noção de ritmo e o entendimento de uma história
que Gavin Hood pode ter quando não há todo um estúdio dando pitaco em seu
trabalho.
A trama se passa no futuro, onde toda uma
geração de crianças é treinada para uma provável guerra contra uma raça
alienígena que tentou uma invasão fracassada a Terra no passado.
Uma dessas crianças é o jovem e promissor Ender
(Asa Butterfield), cujo irmão mais velho não soube desenvolver seu potencial,
fazendo com que a mesma descrença caísse agora sobre ele.
Sua rotina na academia militar situada no
espaço é penosa: além de enfrentar desafiadoras provas simuladas, Ender precisa
lidar com o bullying de inúmeros colegas e rivais que aparecem em seu caminho.
Dois são os mentores que pavimentam seu caminho
rumo à uma certa auto-descoberta e à transição da perplexidade adolescente até
a consciência estrategista e ética de um vida adulta inicial, e eles são o Coronel
Graff (Harrison Ford) e o lendário Mazer Rackhan (Ben Kingsley, que fez, anos antes, “A Invenção de Hugo Cabret”, também ao lado de Asa Butterfield), além de outras
personagens evidentemente plantadas com o nítido objetivo de guiá-lo ao
amadurecimento pessoal, como atestam as presenças demagógicas, ainda que
inebriantes de Hailee Stenfeld e Abigail Breslin; todavia, o personagem mais
marcante do filme é o breve antagonista Bonzo, vivido por Moises Arias (da série "Hannah Montana" e de "Kong-A Ilha da Caveira") –ele responde
pelo trecho mais envolvente, sólido e reflexivamente esclarecedor de todo o
filme. Esse acerto particular (e possivelmente involuntário) em todo um único
bloco narrativo (pois, Bonzo não tarda a ser descartado da trama), em
detrimento das outras partes, boas mas não tanto, fornecem um estranho
desequilíbrio ao filme de Gavin Hood. Ele flerta seriamente com a grande obra
que poderia ter sido, para então, praticamente em toda sua segunda metade,
investir em aspecto que nunca funcionam –sua elaborada reviravolta final, por
exemplo, é um bocado fácil de antecipar.
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