sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Invasão Secreta


 Há uma quebra de paradigma promovida pela Marvel Studios na minissérie “Invasão Secreta” –uma pena que essa quebra não tivesse se refletido em aumento de qualidade para o material: Adaptado de um aclamado arco em forma de saga nos quadrinhos, “Invasão Secreta” prometia emoções impactantes aos fãs. Como nas HQs, a Terra seria palco de uma silenciosa infiltração dos alienígenas transmorfos skrulls cujo plano seria o de usarem de suas habilidades para assumir, sem que os personagens principais (e o próprio público) soubessem, o lugar de algumas figuras conhecidas da Marvel, alguns deles, ocupando importante papel de influência junto ao governo norte-americano, promovendo assim uma série de mau-entendidos diplomáticos e conflitos governamentais que levariam à guerra e à extinção da Humanidade. Também, finalmente veríamos o magnífico Samuel L. Jackson e seu personagem, o agente Nick Fury, assumindo um papel protagonista que ele andava merecendo desde, pelo menos, sua aparição em “Vingadores”.

Ao menos, uma dessas promessas se cumpriu: De fato, é Nick Fury o grande personagem principal aqui, infelizmente, ele surge combalido, desanimado, desmotivado e, durante muito tempo, incapaz de se equiparar ao grande espião que havia sido antes, fruto das desilusões experimentadas pelos revezes das últimas décadas, incluindo o ‘Blip’ promovido por Thanos em “Vingadores-Guerra Infinita” –os realizadores, devem ter julgado que seria um diferencial interessante explorar uma faceta mais decadente de um personagem conhecido por sua astúcia, entretanto, do modo como é mostrado insistentemente na série, esse aspecto do personagem nunca soa válido dentro da narrativa servindo mais para engessá-la do que para torná-la melhor. Nesse sentido, é infinitamente mais vibrante prestar atenção na personagem de Olivia Colman, Sonya Falsworth, que surpreende o expectador e alguns dos personagens ao seu redor sempre que aparece, ao mostrar-se um passo afrente de todos os demais –uma característica que outrora pertenceu à Nick Fury.

“Invasão Secreta” tem início quando alguns agentes aleatórios da CIA conseguem identificar um skrull infiltrado entre agentes de campo que deveriam ser supostamente bem informados: Morto por Maria Hill (Colbie Smulders) e pelo skrull aliado Talos (Ben Mendhelson), o skrull espião havia assumido a identidade do Ag. Everett Ross (Martin Freeman) –a última vez em que vimos o que seria o verdadeiro Ross, ele estava, na verdade, refugiado em Wakanda, após os eventos de “Pantera Negra-Wakanda Para Sempre”. Isso traz Nick Fury de volta à Terra, interrompendo um auto-exílio que, sabemos, já ocorreu há anos –pois, pelo menos, o Nick Fury de “Homem-Aranha Longe de Casa” sabemos ter sido ‘personificado’ por Talos. Esses agentes identificaram um problema preocupante: Os skrulls, agora não mais liderados por Talos, mas por um jovem líder extremista chamado Gravik (Kingsley Ben-Adir, de “Barbie”) desejam usar de operativos disfarçados em cargos fundamentais nos governos dos EUA e do Reino Unido para fomentar uma série de ataques que levarão os Estados Unidos e a Rússia à Terceira Guerra Mundial, aniquilando a Humanidade e deixando o planeta livre para a ocupação skrull. Não somente isso, mas, como logo fica evidente em episódios posteriores, Gravik também quer garantir-se quanto à eventual interferência dos grandes super-heróis do panteão da Marvel –embora estranhamente nenhum deles jamais dê as caras nesta minissérie... –adquirindo vestígios genéticos de alguns vingadores e levando seus soldados à ganhar seus poderes, convertendo-os em superskrulls!

Dirigida por Ali Selim com uma deliberada (e equivocada) predisposição para a lentidão em detrimento da ação (normalmente uma especialidade da Marvel) e em prol de um suposto suspense (uma promessa de tensão que jamais se concretiza de fato), “Invasão Secreta” avança ao longo de seus seis episódios numa atmosfera e num ritmo que, estranhamente, sugerem, o tempo todo, a chegada iminente de um clímax que justifique todo o investimento do público em sua premissa titubeante, em seus personagens pouco envolventes e em suas soluções de roteiro nada originais –não lembra nem um pouco o sopro renovado de entusiasmo narrativo presente nas obras dos dez primeiros anos da Marvel Studios –mas, termina realmente se revelando burocrático, genérico, redundante e trivial. É de se lamentar quando uma minissérie –especialmente uma cercada de tantas possibilidades promissoras como esta –tem, como elemento que mais despertou interesse de discussão nos expectadores, a sua aflitiva abertura feita por Inteligência Artificial.

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