sexta-feira, 24 de maio de 2024

Furiosa - Uma Saga Mad Max


 Em 2015, o diretor australiano George Miller retomou a “Franquia Mad Max” ao trazer para o mundo uma verdadeira obra de arte chamada “Mad Max-Estrada da Fúria”. Sucesso avassalador e merecido de público e crítica, ganhador de seis prêmios Oscar, “Estrada da Fúria” reacendeu o interesse pela saga, outrora protagonizada por Mel Gibson (e que não ganhava um novo filme a pelo menos trinta anos), e com isso, muitos foram os que logo especularam a possibilidade de George Miller prontamente arregaçar as mangas e fazer um novo filme.

Nove anos depois, isso aconteceu. Contudo, ao contrário do que poderia se imaginar, Miller não deu uma continuidade àqueles eventos (e nem tampouco trouxe de volta o protagonista Max, agora vivido por Tom Hardy), ele na verdade entregou uma prequel (uma sequência que narra eventos anteriores) focada na personagem Furiosa, vivida naquele filme por uma inspirada e sensacional Charlize Theron. Essencial à trama, tanto ou até mais que o protagonista Max, Furiosa era uma personagem intrigante, sólida e imediatamente cativante que respondia pelo coração pulsante do filme.

Nesta espécie de origem que esclarece, explica e justifica certos tópicos que eventualmente ficaram nebulosos naquele filme (como a ambígua relação dela com o vilão Immortan Joe), acompanhamos a trajetória de sofrimento, bravura e persistência de Furiosa, desde sua infância, ao longo de anos (quinze, mais precisamente) até culminarmos no trecho em que a trama de “Estrada da Fúria” se inicia –o que converte esse dois filmes, unidos, numa única grande obra, completa e abrangente.

Ainda uma criança, Furiosa (então vivida pela pequena mas competente Alyla Browne) por uma série de lamentáveis contratempos acaba sequestrada do local onde nasceu, um oásis secreto administrado com sigilo e ferocidade por um clã de guerreiras, por um grupo desgarrado de motoqueiros do deserto. Esses motoqueiros compõem a gangue de maltrapilhos selvagens e brutalizados liderados por Dementus (Chris Hemsworth, satisfeito num exuberante papel de vilão), um líder sarcástico, cruel e desumano, travestido de uma versão escatológica e non-sense de Jesus Cristo (!).

Furiosa até é seguida por sua mãe, Mary Jabassy (Charlee Fraser, de “Todos Menos Você”), que em vão tenta tirá-la das mãos desses desordeiros, conseguindo apenas ser morta cruelmente no processo. Nos anos por vir, Furiosa (que em algum momento passa a ser interpretada por Anya Taylor-Joy, uma substituta formidável e impecável para Charlize Theron) procura sobreviver estando próxima o suficiente de Dementus para que ele não a descarte como muitas das vítimas que vão parar em suas mãos; mas distante e cautelosa o bastante para que ele não deseje extrair dela o segredo de como regressar para casa, e nem perceba seus planos de vingar-se dele, o assassino de sua mãe.

É dessa forma que Furiosa acaba se tornando uma testemunha da inusitada guerra por poder que se desenrola no deserto, a envolver as lideranças antagônicas de Dementos e Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne): Dominando a chamada Cidade Gasolina (uma fortaleza que acomoda as refinarias de combustível para as tantas máquinas de guerra, o único item tão precioso naquele mundo-cão quanto a água), Dementus se torna uma potência a ser respeitada, o que, com seu temperamento provocador e sua predisposição para traição, leva seus oponentes a elaborar constantes estratégias para lhe derrotar.

É assim que Furiosa, no decurso de embates árduos a envolver fogo, sangue e ferragens de carros em colisão, deve compreender que existe uma diferença imprevisível entre a expectativa daquilo que esperamos e a realidade que a vida termina por nos entregar.

Brilhantemente dirigido (toda a mitologia expandida e materializada em visual acachapante dos filmes anteriores é ainda mais aprofundada nesta narrativa) e realizado com minúcia ímpar e perícia absurda nos mais diversos quesitos (é bem provável que seus predicados sejam recompensados na próxima cerimônia do Oscar), “Furiosa” só não iguala o brilhantismo de “Estrada da Fúria” porque, ao abordar uma trama que se propõe a albergar vários anos com eventos ora intimistas, ora bombásticos, ele não evoca a mesma perfeição de ritmo e atmosfera daquele magistral trabalho –ainda que não falte a esta nova obra de Miller, o primor de acabamento que transformou “Estrada da Fúria” num espetáculo tão singular.

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