Quando surgem os primeiros créditos na tela, emoldurados num céu estrelado, as informações ali contidas, pode-se presumir, eram inesperadas: Uma produção dos Estúdios Disney; Um filme de David Lynch (!). Os cinéfilos do mundo todo, até então, jamais conceberiam uma união entre o mago dos sonhos (e pesadelos), David Lynch, com a empresa família do camundongo Mickey –no entanto, aí está.
Como era de supor, entretanto, “História Real”
é, de fato, uma presença ligeiramente destoante na filmografia de David Lynch,
abraçando uma trama simples, linear e identificável de ponta a ponta. A sua
direção, sempre habilmente climática, e sempre atenta às nuances nada óbvias da
narrativa, nos leva para uma idílica cidadezinha interiorana de Iowa –uma
ambientação até comum nas obras de Lynch –onde seu inesperado protagonista nos
é apresentado. Alvin Straight (o expressivo Richard Farnsworth) é um idoso de
73 anos e, já de cara, somos tornados cientes de sua fragilidade. Seus quadris
não estão bem (ele cai na cozinha e sem ajuda é incapaz de levantar), sua
visão, obviamente, já não é a mesma, afetada pela diabetes e sua filha Rose
(Sissy Spacek), apesar das limitações intelectuais, precisa monitorá-lo todo o
tempo. Contudo, Alvin sabe que tem uma última incumbência a cumprir: Seu irmão
Lyle (Harry Dean Stanton, aparecendo somente na emocionante cena final), com
quem não fala há dez anos, sofreu um derrame. E a possibilidade de perdê-lo
leva Alvin a rever a rusga que os afastou durante uma década, decidindo por ir ao
encontro dele.
Só há um pequeno problema: Lyle mora em
Wisconsin, a 390 km de distância, e tudo que Alvin dispõe como meio de
transporte para chegar lá é o único maquinário que pode operar, um pequeno
cortador de grama. Ainda assim, ele decide empreender essa jornada, sem contar
com outros recursos, ou auxílios (que até aparecem num ou noutro momento, e
sempre são recusados) mais ou menos como uma forma de fazer desse trajeto uma
espécie de penitência ao fim da qual Alvin talvez possa perdoar o irmão e a si
mesmo.
A história de Alvin Straight realmente ocorreu
–como aponta, aliás, o título nacional –em meados de 1994, virando um artigo
publicado no The New York Times
naquele mesmo ano e, mais tarde, despertando profundo interesse na produtora
Mary Sweeney que se encarregou de escrever o roteiro (junto de John Roach) e
apresentá-lo à David Lynch. Por sua composição comovente, o veterano Richard
Fransworth foi indicado ao Oscar 2000 de Melhor Ator, perdendo a estatueta para
Kevin Spacey, por “Beleza Americana”,
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