sábado, 27 de julho de 2024

Deadpool & Wolverine


 E já aviso de antemão, leitor ocasional ou não, este texto contém os famigerados spoilers, logo, se você aprecia uma experiência cinematográfica com surpresas intactas, leia depois de ter visto o filme!

Após os eventos de “Deadpool 2”, o mercenário Wade Wilson, mais conhecido como Deadpool (Ryan Reynoldos, desempenhando em estado de graça como sempre) procura por Happy Hogan (Jon Favreau) a fim de ingressar nos Vingadores –naquela época, 2018, vale lembrar, além dos acontecimentos de “Deadpool 2”, ainda estávamos às vésperas dos eventos bombásticos de “Vingadores-Guerra Infinita”. Durante a cena –que mais lembra uma mera entrevista de emprego –Happy convence Wade de que ele não necessariamente leva jeito para ser superherói (não no sentido altruísta do termo) e acaba convencendo-o a aposentar seu uniforme. De volta à sua realidade (para a qual ele pode ir e voltar graças ao aparelho fornecido por Cable em “Deadpool 2”, diga-se), Wade se torna um vendedor de carros e assim passam-se seis anos.

É no aniversário de Wade –no qual, providencialmente se reúnem os seus melhores amigos, ou seja, os coadjuvantes que estiveram ao lado dele em seus dois filmes –que o filme, agora dirigido por Shawn Levy, começa de verdade: Wade é visitado por agentes da AVT (Agência de Variância Temporal, mostrada na série “Loki”) e levado até sua sede onde recebe do funcionário Paradox (Matthew McFadyen, de "Orgulho e Preconceito") uma notícia indigesta. O seu universo (que corresponde ao universo mais ou menos bagunçado de filmes da Fox) está morrendo! Segundo Paradox, todo universo tem uma ‘âncora’, um ser tão essencial àquela realidade que sua morte pode levar à desintegração de todo o universo. A ‘âncora’ do universo de Wade morreu –no caso, Wolverine (vivido como todo mundo sabe, com excelência por Hugh Jackman, há uns vinte anos), no filme “Logan”. Dessa forma, Wade, agora uma vez mais dentro do traje de Deadpool, precisa quebrar as regras da própria AVT (que o tinha levado para lá a fim de chamá-lo a integrar a Linha Sagrada, isto é, o universo oficial do MCU) para encontrar nas infinitas realidades alternativas do multiverso, um substituto apropriado, uma ‘âncora’ que substitua aquela que seu universo perdeu –em outras palavras, um outro Wolverine!

E começam aí, então, o festival de referências que fazem de “Deadpool & Wolverine” uma obra assim tão sedutora: Nas variações de Wolverine que acompanhamos Deadpool encontrar com tanta descontração, vemos versões em live-action de segmentos que farão a felicidade dos fãs de quadrinhos como o Wolverine extraído de “A Era do Apocalypse” (na qual ele não possui uma das mãos!); a versão conhecida como ‘Caolho’; uma versão interpretada pelo ex-Superman Henry Cavill (!); uma recriação de sua primeira aparição nas HQs, quando enfrentou o Hulk; e até mesmo a recriação de uma das capas clássicas das revistas, onde foi crucificado num imenso X de madeira. Ao fim dessa busca, resta somente uma versão apropriada de Wolverine para Deadpool levar consigo, uma versão renegada (ainda que trajando, enfim, o icônico colante amarelo dos quadrinhos e das animações), junto da qual ele retorna à AVT, somente para serem enviados por Paradox ao Voidt, ou Vazio –se você assistiu a série “Loki”, então sabe que trata-se de uma dimensão onde são despejados os sobreviventes indesejados de realidades condenadas que, por algum motivo ou outro, conseguem escapar da eventual obliteração.

Contudo, o Voidt agora está diferente: Por conta de acontecimentos bem reais (no caso, a compra dos estúdios da 20th Century Fox pela própria Walt Disney Company e, portanto, a aquisição desta de todas as propriedades intelectuais daquele estúdio), o Voidt está repleto de personagens oriundos do Universo Marvel da Fox nos cinemas, que reúne os filmes dos X-Men, (num total de onze filmes) os do Quarteto Fantástico (ambas as versões de 2005 e 2015) e os do Deadpool. E claro que, com  isso, o filme de Shawn Levy não haverá de desperdiçar a oportunidade de entregar sequências extasiantes aos expectadores, que apelam ao fã com aparições surpresas (algumas absolutamente sensacionais) capazes de despertar a mesma euforia indescritível que algumas cenas de “Vingadores-Ultimato” o fizeram há cinco anos atrás.

Embora seja uma obra longe da perfeição –e muitos críticos sisudos já correram apontar isso, destacando como exemplo a superficialidade do roteiro em inúmeros trechos, ignorando o fato de que as filmagens de “Deadpool & Wolverine” se sucederam durante a greve dos roteiristas de Hollywood em 2023, o que impediu muitas cenas de ganharem o devido polimento –o filme de Shawn Levy ainda assim tem bom senso e perspicácia o suficiente para sinalizar ao público com tudo aquilo que funcionou muito bem antes deles: O humor incontido e inconsequente de seu irreprimível protagonista (o filme tem a mais alta classificação indicativa permitida pela Marvel Studios até então); as referências inúmeras, algumas um tanto difíceis de se apanhar pelos não-iniciados nos filmes desse certamente vasto universo de heróis; e as sequências vibrantes, feitas para entregar instantes, situações e manobras muito esperadas e almejadas pelos fãs de carteirinha que provavelmente sairão acalentados e saciados do cinema, como há muito tempo não faziam, sob a alegação de que a Marvel havia perdido o jeito para agradar seu público.

“Deadpool & Wolverine” vem provar que não: Ainda há muitas emoções e surpresas a serem entregues ao público. Desde que sejam concebidas por artesões absolutamente capazes e competentes, e tão apaixonados pelo material que manejam quanto seus fiéis expectadores.

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