E já aviso de antemão, leitor ocasional ou não, este texto contém os famigerados spoilers, logo, se você aprecia uma experiência cinematográfica com surpresas intactas, leia depois de ter visto o filme!
Após os eventos de “Deadpool 2”, o mercenário
Wade Wilson, mais conhecido como Deadpool (Ryan Reynoldos, desempenhando em
estado de graça como sempre) procura por Happy Hogan (Jon Favreau) a fim de
ingressar nos Vingadores –naquela época, 2018, vale lembrar, além dos
acontecimentos de “Deadpool 2”, ainda estávamos às vésperas dos eventos
bombásticos de “Vingadores-Guerra Infinita”. Durante a cena –que mais lembra
uma mera entrevista de emprego –Happy convence Wade de que ele não necessariamente
leva jeito para ser superherói (não no sentido altruísta do termo) e acaba
convencendo-o a aposentar seu uniforme. De volta à sua realidade (para a qual
ele pode ir e voltar graças ao aparelho fornecido por Cable em “Deadpool 2”,
diga-se), Wade se torna um vendedor de carros e assim passam-se seis anos.
É no aniversário de Wade –no qual,
providencialmente se reúnem os seus melhores amigos, ou seja, os coadjuvantes
que estiveram ao lado dele em seus dois filmes –que o filme, agora dirigido por
Shawn Levy, começa de verdade: Wade é visitado por agentes da AVT (Agência de
Variância Temporal, mostrada na série “Loki”) e levado até sua sede onde recebe
do funcionário Paradox (Matthew McFadyen, de "Orgulho e Preconceito") uma notícia indigesta. O seu universo
(que corresponde ao universo mais ou menos bagunçado de filmes da Fox) está
morrendo! Segundo Paradox, todo universo tem uma ‘âncora’, um ser tão essencial
àquela realidade que sua morte pode levar à desintegração de todo o universo. A
‘âncora’ do universo de Wade morreu –no caso, Wolverine (vivido como todo mundo
sabe, com excelência por Hugh Jackman, há uns vinte anos), no filme “Logan”.
Dessa forma, Wade, agora uma vez mais dentro do traje de Deadpool, precisa
quebrar as regras da própria AVT (que o tinha levado para lá a fim de chamá-lo
a integrar a Linha Sagrada, isto é, o universo oficial do MCU) para encontrar
nas infinitas realidades alternativas do multiverso, um substituto apropriado,
uma ‘âncora’ que substitua aquela que seu universo perdeu –em outras palavras,
um outro Wolverine!
E começam aí, então, o festival de referências
que fazem de “Deadpool & Wolverine” uma obra assim tão sedutora: Nas
variações de Wolverine que acompanhamos Deadpool encontrar com tanta
descontração, vemos versões em live-action de segmentos que farão a felicidade
dos fãs de quadrinhos como o Wolverine extraído de “A Era do Apocalypse” (na
qual ele não possui uma das mãos!); a versão conhecida como ‘Caolho’; uma
versão interpretada pelo ex-Superman Henry Cavill (!); uma recriação de sua
primeira aparição nas HQs, quando enfrentou o Hulk; e até mesmo a recriação de
uma das capas clássicas das revistas, onde foi crucificado num imenso X de
madeira. Ao fim dessa busca, resta somente uma versão apropriada de Wolverine
para Deadpool levar consigo, uma versão renegada (ainda que trajando, enfim, o
icônico colante amarelo dos quadrinhos e das animações), junto da qual ele
retorna à AVT, somente para serem enviados por Paradox ao Voidt, ou Vazio –se você
assistiu a série “Loki”, então sabe que trata-se de uma dimensão onde são
despejados os sobreviventes indesejados de realidades condenadas que, por algum
motivo ou outro, conseguem escapar da eventual obliteração.
Contudo, o Voidt agora está diferente: Por
conta de acontecimentos bem reais (no caso, a compra dos estúdios da 20th
Century Fox pela própria Walt Disney Company e, portanto, a aquisição desta de
todas as propriedades intelectuais daquele estúdio), o Voidt está repleto de
personagens oriundos do Universo Marvel da Fox nos cinemas, que reúne os filmes
dos X-Men, (num total de onze filmes) os do Quarteto Fantástico (ambas as
versões de 2005 e 2015) e os do Deadpool. E claro que, com isso, o filme de Shawn Levy não haverá de
desperdiçar a oportunidade de entregar sequências extasiantes aos expectadores,
que apelam ao fã com aparições surpresas (algumas absolutamente sensacionais)
capazes de despertar a mesma euforia indescritível que algumas cenas de “Vingadores-Ultimato”
o fizeram há cinco anos atrás.
Embora seja uma obra longe da perfeição –e muitos
críticos sisudos já correram apontar isso, destacando como exemplo a
superficialidade do roteiro em inúmeros trechos, ignorando o fato de que as
filmagens de “Deadpool & Wolverine” se sucederam durante a greve dos
roteiristas de Hollywood em 2023, o que impediu muitas cenas de ganharem o
devido polimento –o filme de Shawn Levy ainda assim tem bom senso e perspicácia
o suficiente para sinalizar ao público com tudo aquilo que funcionou muito bem
antes deles: O humor incontido e inconsequente de seu irreprimível protagonista
(o filme tem a mais alta classificação indicativa permitida pela Marvel Studios
até então); as referências inúmeras, algumas um tanto difíceis de se apanhar
pelos não-iniciados nos filmes desse certamente vasto universo de heróis; e as
sequências vibrantes, feitas para entregar instantes, situações e manobras
muito esperadas e almejadas pelos fãs de carteirinha que provavelmente sairão
acalentados e saciados do cinema, como há muito tempo não faziam, sob a
alegação de que a Marvel havia perdido o jeito para agradar seu público.
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