quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Venom - A Última Rodada


 Venom” foi o estopim de uma iniciativa um tanto estranha da parte da Sony Pictures: Proprietários dos direitos de imagem do Homem-Aranha, os executivos fizeram um acordo com a Marvel Studios até hoje um pouco nebuloso –e assolado por altos e baixos na relação entre as duas empresas –no qual a Marvel poderia usar o Homem-Aranha em seus filmes, desde que a Sony ficasse com um quinhão das gordas bilheterias. Abrindo mão de livre e espontânea vontade desse protagonista –com exceção da premiada animação “Homem-Aranha No Aranhaverso” –a Sony então dedicou-se a realizar produções envolvendo todos os demais personagens do assim chamado ‘Aranhaverso’, ou seja, os vilões, anti-heróis e coadjuvantes que compunham a variada fauna que orbitava, nos quadrinhos, o seu personagem principal (e que não era pouca, visto que a diversidade de personagens que cercam o Homem-Aranha é extremamente rica). A ideia era, portanto, fazer filmes (na realidade, fazer todo um universo!) a partir de personagens introduzidos nas histórias em quadrinhos do Homem-Aranha, só que sem o Homem-Aranha (!), fazendo deles protagonistas eventuais na falta do protagonista factual.

E as coisas até que começaram bem com “Venom”, dirigido por Ruben Fleischer e estrelado por Tom Hardy, fazendo bonito nas bilheterias, contudo, bastou muito pouco para ver que nem tudo eram flores... logo, uma sequência foi providenciada, “Venom-Tempo de Carnificina” , cujo resultados foram bastante lastimáveis; na esteira veio o achincalhado “Morbius”, estrelado por Jared Leto, ainda em 2024, tivemos a catástrofe “Madame Teia” e enquanto escrevo estas linhas, “Kraven-O Caçador” amarga uma bilheteria de cinema que faz dele o último prego no caixão desse universo malfadado. O que nos traz para este “Venom-A Última Rodada”.

Fornecendo um ponto de partida para o roteiro de uma forma um tanto intrincada –ele não continua, na verdade, de onde “Tempo de Carnificina” parou, mas sim das duas cenas pós-crédito envolvendo Venom e Eddie Brock, vistas respectivamente em “Tempo de Carnificina” e “Homem-Aranha Sem Volta Para Casa” –o filme dirigido por Kelly Marcel (diretora de “Walt Nos Bastidores de Mary Poppins” e uma das autoras do argumento de “Cruella”) acompanha Eddie Brock e o simbionte alienígena, unido ao qual ele se torna o poderoso Venom, numa fuga desenfreada. Fugindo do quê? Bem... não fica muito claro, mas na maioria das vezes, Eddie foge de soldados armados e equipados que desejam captura-lo, assim como a todas as pessoas expostas aos tais simbiontes alienígenas desde o primeiro filme (lembre-se este é o terceiro!). todos são levados como prisioneiros pelo oficial linha-dura Strickland (Chiwetel Ejiofor) para a secretíssima Área 55 (a Área 51 foi desativada...) para serem estudados pela Dra. Payne (Juno Temple, fraquinha, fraquinha). Logo, outras ameaças, ainda maiores, surgem no encalço de Eddie e Venom: Outros simbiontes, desta vez, oriundos do espaço sideral, mais especificamente do seu planeta-natal que serve, acima de tudo, como prisão para o vilanesco e poderoso Knull –um ser incomensurável poder, vindo –claro –dos quadrinhos da Marvel, pedido, inclusive, por muitos fãs, para ser introduzido neste derradeiro capítulo mas muito pouco aproveitado, sendo que o prólogo até faz parecer que será o grande antagonista deste filme. Ainda que tudo fique só na promessa...

Por alguma razão que nunca fica muito clara –até porque muitas coisas não ficam muito claras no corre-corre que orienta esta narrativa –o simbionte de Eddie possui o tal ‘codex’ que representa a chave para a libertação de Knull da prisão que o impede de partir para a conquista do universo; sendo assim, ele envia legiões de suas criaturas para a Terra a fim da capturar Venom.

A trama a girar em torno dessas desengonçadas motivações vai e vem entre diferentes núcleos de personagens, ostentando amadorismo em quase todos eles –nas cenas da Área 55, onde se espera suspense e um clima sci-fi que explique e justifique o plot cósmico que em algum momento este filme abraça, o ritmo se torna sôfrego, as situações forçadas e as atuações lamentáveis (nem mesmo o sempre competente Chiwetel Ejiofor escapa do vexame); nas sequências envolvendo o próprio Eddie Brock, nas quais imagina-se haverá ação e perseguição a proporcionar aos fãs do personagens aquilo que eles querem, tudo é desmazelado, realizado com uma continuidade duvidosa, adornado de um humor forçado e inapropriado, destituído de timing, e, o pior de tudo, jogado em cena com explicações tão vagas que se tem a impressão de que não existem muitas razões para acontecer aquilo que acontece em tela –salvo o fato de que o roteiro assim determinou.

“Venom-A Última Rodada” é um encerramento de trilogia que almejava ser emocionante e, pelo menos, digno, mas se vê comprometido por tantas inconsistências que chega a ser absurdo terem aparecido numa produção de estúdio, onde milhões de dólares são gastos com profissionais cujo trabalho deveria impedir que esses lapsos acontecessem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário