“Venom” foi o estopim de uma iniciativa um tanto estranha da parte da Sony Pictures: Proprietários dos direitos de imagem do Homem-Aranha, os executivos fizeram um acordo com a Marvel Studios até hoje um pouco nebuloso –e assolado por altos e baixos na relação entre as duas empresas –no qual a Marvel poderia usar o Homem-Aranha em seus filmes, desde que a Sony ficasse com um quinhão das gordas bilheterias. Abrindo mão de livre e espontânea vontade desse protagonista –com exceção da premiada animação “Homem-Aranha No Aranhaverso” –a Sony então dedicou-se a realizar produções envolvendo todos os demais personagens do assim chamado ‘Aranhaverso’, ou seja, os vilões, anti-heróis e coadjuvantes que compunham a variada fauna que orbitava, nos quadrinhos, o seu personagem principal (e que não era pouca, visto que a diversidade de personagens que cercam o Homem-Aranha é extremamente rica). A ideia era, portanto, fazer filmes (na realidade, fazer todo um universo!) a partir de personagens introduzidos nas histórias em quadrinhos do Homem-Aranha, só que sem o Homem-Aranha (!), fazendo deles protagonistas eventuais na falta do protagonista factual.
E as coisas até que começaram bem com “Venom”,
dirigido por Ruben Fleischer e estrelado por Tom Hardy, fazendo bonito nas
bilheterias, contudo, bastou muito pouco para ver que nem tudo eram flores...
logo, uma sequência foi providenciada, “Venom-Tempo de Carnificina” , cujo
resultados foram bastante lastimáveis; na esteira veio o achincalhado “Morbius”,
estrelado por Jared Leto, ainda em 2024, tivemos a catástrofe “Madame Teia” e
enquanto escrevo estas linhas, “Kraven-O Caçador” amarga uma bilheteria de
cinema que faz dele o último prego no caixão desse universo malfadado. O que
nos traz para este “Venom-A Última Rodada”.
Fornecendo um ponto de partida para o roteiro
de uma forma um tanto intrincada –ele não continua, na verdade, de onde “Tempo
de Carnificina” parou, mas sim das duas cenas pós-crédito envolvendo Venom e
Eddie Brock, vistas respectivamente em “Tempo de Carnificina” e “Homem-Aranha Sem Volta Para Casa” –o filme dirigido por Kelly Marcel (diretora de “Walt Nos
Bastidores de Mary Poppins” e uma das autoras do argumento de “Cruella”)
acompanha Eddie Brock e o simbionte alienígena, unido ao qual ele se torna o
poderoso Venom, numa fuga desenfreada. Fugindo do quê? Bem... não fica muito
claro, mas na maioria das vezes, Eddie foge de soldados armados e equipados que
desejam captura-lo, assim como a todas as pessoas expostas aos tais simbiontes
alienígenas desde o primeiro filme (lembre-se este é o terceiro!). todos são
levados como prisioneiros pelo oficial linha-dura Strickland (Chiwetel Ejiofor)
para a secretíssima Área 55 (a Área 51 foi desativada...) para serem estudados
pela Dra. Payne (Juno Temple, fraquinha, fraquinha). Logo, outras ameaças,
ainda maiores, surgem no encalço de Eddie e Venom: Outros simbiontes, desta
vez, oriundos do espaço sideral, mais especificamente do seu planeta-natal que
serve, acima de tudo, como prisão para o vilanesco e poderoso Knull –um ser
incomensurável poder, vindo –claro –dos quadrinhos da Marvel, pedido,
inclusive, por muitos fãs, para ser introduzido neste derradeiro capítulo mas
muito pouco aproveitado, sendo que o prólogo até faz parecer que será o grande
antagonista deste filme. Ainda que tudo fique só na promessa...
Por alguma razão que nunca fica muito clara –até
porque muitas coisas não ficam muito claras no corre-corre que orienta esta
narrativa –o simbionte de Eddie possui o tal ‘codex’ que representa a chave
para a libertação de Knull da prisão que o impede de partir para a conquista do
universo; sendo assim, ele envia legiões de suas criaturas para a Terra a fim
da capturar Venom.
A trama a girar em torno dessas desengonçadas
motivações vai e vem entre diferentes núcleos de personagens, ostentando
amadorismo em quase todos eles –nas cenas da Área 55, onde se espera suspense e
um clima sci-fi que explique e justifique
o plot cósmico que em algum momento
este filme abraça, o ritmo se torna sôfrego, as situações forçadas e as
atuações lamentáveis (nem mesmo o sempre competente Chiwetel Ejiofor escapa do
vexame); nas sequências envolvendo o próprio Eddie Brock, nas quais imagina-se
haverá ação e perseguição a proporcionar aos fãs do personagens aquilo que eles
querem, tudo é desmazelado, realizado com uma continuidade duvidosa, adornado
de um humor forçado e inapropriado, destituído de timing, e, o pior de tudo, jogado em cena com explicações tão vagas
que se tem a impressão de que não existem muitas razões para acontecer aquilo
que acontece em tela –salvo o fato de que o roteiro assim determinou.
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