O anúncio do afastamento do diretor Chris
Columbus em meio aos preparativos para este terceiro filme da saga pegou muitos
de surpresa –ainda que ele tenha permanecido próximo como produtor.
Corria o boato de que Columbus dava brecha para
que fosse assim contratado Steven Spielberg, que antes do lançamento de “Harry
Potter e A Pedra Filosofal” já manifestava sua intenção de dirigir a produção
(e americanizar o material). Os produtores, no entanto, foram sensatos optando
por uma escolha inusitada que revelou-se certeira: O magistral e premiado
diretor mexicano Alfonso Cuarón, até então conhecido apenas pelos prodigiosos
“A Princesinha” e “E Sua Mãe Também” –ao adaptar aquele que muitos consideravam
o melhor livro de toda a saga, Cuaron estabeleceu um diálogo autoral com suas
duas belíssimas obras pregressas; do primeiro, ele extrai um enternecedor senso
de fábula, uma paleta de cores sedutora (com predominância do elegante
verde-musgo) e uma audaz capacidade de conjurar os elementos infantis oriundos
dos filmes anteriores com uma aura transgressiva, sombria e que jamais
subestima seu público; do segundo, ele aproveita o retrato honesto, orgânico e
incomum dos humores inconstantes da juventude, obtendo do jovem elenco suas melhores
interpretações até então.
De quebra, sua habilidade cinematográfica molda
uma cena memorável atrás da outra. A começar por aquela que abre o filme, como
sempre, com Harry às voltas com a tirania doméstica de seus tios –mais até: Desta
vez, uma intratável irmã de tio Vernon que Harry, sem querer, transforma em
balão (!). Essa cena já deixa bem claro que Harry Potter está crescendo: Ele já
não se mostra tão passivo e intimidado quanto outrora e ensaia até uma espécie
de fuga de casa, indo parar num tal hotel ‘Caldeirão Furado’.
É lá, antes mesmo de ir para Hogwarts, que
Harry descobre que um prisioneiro escapou de Askaban, a famosa prisão dos
bruxos –trata-se de Sirius Black (o sempre sensacional Gary Oldman)
considerado o traidor que entregou seus pais ao próprio Voldemort. Por conta
disso, muitos são os que acreditam que o alvo de Sirius, agora, é o próprio
Harry Potter, o quê leva Dumblodore a requisitar para a Escola de Magia e seus
alunos a ambígua proteção dos Dementadores –criaturas sobrenaturais capazes de
sugar a energia, a felicidade e a vida das pessoas e que em sua periculosidade
não distinguem aqueles que deveriam defender dos que deveriam atacar.
Entre outras sacadas geniais da parte de Cuarón
enquanto contador de histórias –e nos inúmeros detalhes que ele consegue
acrescentar em relação ao livro –algo que pode passar despercebido aos
expectadores mais jovens é o quanto foi inspirada a escalação do ótimo Gary
Oldman para viver Sirius Black –Oldman vinha de uma série de filmes (sobretudo,
nos anos 1990) em que havia se popularizado em Hollywood como um dos mais
assíduos vilões do cinema comercial, em obras como “O Profissional”, “O Quinto
Elemento” e “Força Aérea Um” (estereótipo ao qual, pelo menos até aquele
período, ele parecia estar restrito). Os rumos presentes na trama de “O
Prisioneiro de Askaban” terminam por subverter completamente essa expectativa,
mas apenas porque o ator escolhido conduz o público a essa surpresa.
Por falar em atores, “O
Prisioneiro de Askaban” marca a estréia de Michael Gambon no papel de
Dumblodore, em substituição ao falecido Richard Harris –um trabalho tão
acertado e digno que pode passar despercebido dos expectadores que não tiverem
essa informação.
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