quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Harry Potter e O Prisioneiro de Askaban

O anúncio do afastamento do diretor Chris Columbus em meio aos preparativos para este terceiro filme da saga pegou muitos de surpresa –ainda que ele tenha permanecido próximo como produtor.
Corria o boato de que Columbus dava brecha para que fosse assim contratado Steven Spielberg, que antes do lançamento de “Harry Potter e A Pedra Filosofal” já manifestava sua intenção de dirigir a produção (e americanizar o material). Os produtores, no entanto, foram sensatos optando por uma escolha inusitada que revelou-se certeira: O magistral e premiado diretor mexicano Alfonso Cuarón, até então conhecido apenas pelos prodigiosos “A Princesinha” e “E Sua Mãe Também” –ao adaptar aquele que muitos consideravam o melhor livro de toda a saga, Cuaron estabeleceu um diálogo autoral com suas duas belíssimas obras pregressas; do primeiro, ele extrai um enternecedor senso de fábula, uma paleta de cores sedutora (com predominância do elegante verde-musgo) e uma audaz capacidade de conjurar os elementos infantis oriundos dos filmes anteriores com uma aura transgressiva, sombria e que jamais subestima seu público; do segundo, ele aproveita o retrato honesto, orgânico e incomum dos humores inconstantes da juventude, obtendo do jovem elenco suas melhores interpretações até então.
De quebra, sua habilidade cinematográfica molda uma cena memorável atrás da outra. A começar por aquela que abre o filme, como sempre, com Harry às voltas com a tirania doméstica de seus tios –mais até: Desta vez, uma intratável irmã de tio Vernon que Harry, sem querer, transforma em balão (!). Essa cena já deixa bem claro que Harry Potter está crescendo: Ele já não se mostra tão passivo e intimidado quanto outrora e ensaia até uma espécie de fuga de casa, indo parar num tal hotel ‘Caldeirão Furado’.
É lá, antes mesmo de ir para Hogwarts, que Harry descobre que um prisioneiro escapou de Askaban, a famosa prisão dos bruxos –trata-se de Sirius Black (o sempre sensacional Gary Oldman) considerado o traidor que entregou seus pais ao próprio Voldemort. Por conta disso, muitos são os que acreditam que o alvo de Sirius, agora, é o próprio Harry Potter, o quê leva Dumblodore a requisitar para a Escola de Magia e seus alunos a ambígua proteção dos Dementadores –criaturas sobrenaturais capazes de sugar a energia, a felicidade e a vida das pessoas e que em sua periculosidade não distinguem aqueles que deveriam defender dos que deveriam atacar.
Entre outras sacadas geniais da parte de Cuarón enquanto contador de histórias –e nos inúmeros detalhes que ele consegue acrescentar em relação ao livro –algo que pode passar despercebido aos expectadores mais jovens é o quanto foi inspirada a escalação do ótimo Gary Oldman para viver Sirius Black –Oldman vinha de uma série de filmes (sobretudo, nos anos 1990) em que havia se popularizado em Hollywood como um dos mais assíduos vilões do cinema comercial, em obras como “O Profissional”, “O Quinto Elemento” e “Força Aérea Um” (estereótipo ao qual, pelo menos até aquele período, ele parecia estar restrito). Os rumos presentes na trama de “O Prisioneiro de Askaban” terminam por subverter completamente essa expectativa, mas apenas porque o ator escolhido conduz o público a essa surpresa.
Por falar em atores, “O Prisioneiro de Askaban” marca a estréia de Michael Gambon no papel de Dumblodore, em substituição ao falecido Richard Harris –um trabalho tão acertado e digno que pode passar despercebido dos expectadores que não tiverem essa informação.

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