As cenas iniciais deste misto de drama,
suspense e ação não negam ser este um trabalho do mesmo diretor de “Top Gun”, o
falecido Tony Scott: Tomadas aéreas habilmente montadas (à cargo de Chris
Lebenzon) e fotografadas (à cargo de Jeffrey Kimball) que estranhamente nada
dizem a respeito do filme que se segue depois.
Aqui, Scott reuniu-se com um astro emergente do
período, Kevin Costner (que tinha acabado de fazer “Sorte No Amor” e “Campo dos Sonhos”) após um resultado mediano dirigindo “Um Tira da Pesada 2”, em 1987.
Costner iniciou por aqui seu hábito de interferir também no resultado final
atrás das câmeras (em “Vingança”, ele é produtor executivo), o que à medida que
seu estrelato foi se consolidando lhe garantiu ainda mais controle sobre seus projetos,
chegando inclusive à ele próprio dirigir (e ganhar um Oscar por) “Dança Com Lobos”.
Entretanto, essa é outra história –que, por
sinal, segue pela década de 1990 adentro, e vai até as catástrofes que
comprometeram a carreira de Costner, “Waterworld” (como astro e produtor) e “O
Mensageiro” (como astro e diretor) –voltemos, portanto, à “Vingança”: Costner
vive Jay Cochran, piloto da Força Aérea Norte-Americana em vias de se aposentar
–daí as sequências que abrem o filme.
Livre para ir aonde quiser e fazer o que
quiser, Cochran decide dar uma passada pelo México onde mora um milionário de
quem ficou amigo jogando tênis.
Tiburon ‘Tibey’ Mendez (o veterano Anthony
Quinn) vive numa mansão que é uma verdadeira fortaleza, cercada de suspeitos
seguranças armados –e, embora os indícios de alguma periculosidade estivessem
lá desde o começo (numa cena inicial, Tibey, num rompante de fúria, arremessa
seu cão dentro da piscina), Cochran não vê problema em aceitar a hospitalidade
do amigo.
Tibey é casado com uma mulher muito mais jovem
e infinitamente mais atraente do que qualquer outra, Miryea (a maravilhosa
Madeleine Stowe). Por conta de tais divergências, o casamento entre os dois tem
seus atritos –Miryea se ressente por Tibey não desejar ter filhos –minimizados
somente pelo medo genuíno que ela (e todos os outros à sua volta) sentem dele.
À princípio, Miryea imagina que Cochran será um
amigo com as mesmas características que os demais amigos de Tibey ostentam:
Espalhafatoso, grosseiro, arrogante e sarcástico –características que não só
parecem fazer parte da visão estereotipada que o filme tem do povo mexicano,
como também definem o comportamento mafioso em geral.
Contudo, Cochran revela-se alguém diferente,
sensível e gentil –adjetivos que levam Miryea a se sentir atraída cada vez mais
por ele. Essa circunstância –a do romance proibido –embora de importância
fundamental à trama, é um dos empecilhos do filme em face da incapacidade atroz
do roteiro em construir diálogos sentimentalmente expressivos para consolidar a
situação, do fracasso em esboçar motivações válidas aos personagens (mesmo que
essa seja uma premissa que já rendeu infindáveis exemplares à serem
referenciados), e da química praticamente inexistente entre Costner e Madeleine
que, em cena, deixam até vislumbrar um palpável constrangimento um com o outro
em alguns momentos.
Mas, ainda que esse seja o calcanhar de Aquiles
do filme... vida que segue: Os dois se envolvem, tornando-se amantes quando
percebem que não vão resistir à atração mútua que experimentam –e qualquer
expectador e coadjuvante consegue notar a confusão que isso vai render, menos o
casal central...
Quando Tibey descobre o adultério, o lado
‘gangster mexicano’ que ele não deixava que Miryea nem Cochran notassem
–embora, como eu disse, houvessem pistas bem óbvias disso desde o início –cai
sobre os dois com a força de um furacão: Cochran é espancado por seus capangas
e deixado numa estrada quase morto, sua cabana (onde o flagra ocorreu) é toda
queimada, e Miryea, com o rosto dilacerado, é despachada para um prostíbulo,
onde a rotina forçada de meretriz servirá de castigo para sua traição.
No entanto, Cochran não morreu. Ele é resgatado
de seu estado moribundo por um camponês e, contando com uma ajuda aqui, outra
ali, nos meses que se seguem (o viajante tuberculoso que lhe dá carona e
dinheiro; os providenciais capangas ‘do bem’ vividos por Miguel Ferrer e um
jovem John Leguizano; e até mesmo uma desvairada e sexy cantora interpretada
por Sally Kirkland, que infelizmente não aparece o bastante), vai se
recuperando e reconstituindo a trilha de indícios que deverá levá-lo ao
paradeiro de Miryea.
Consequentemente, essas investigações esbarram
em Tibey, e num definitivo acerto de contas entre ele e Cochran.
Dono de uma premissa calcada em estruturas totalmente
manjadas –desde o adultério passando pelo arco dramático da vingança e do amigo
que vira inimigo –o filme só escapa da mesmice porque Tony Scott lhe dá um
tratamento diferenciado no estilo imediatamente identificável que impõe:
Iluminação difusa contra as fontes de luz, enquadramentos a lembrar videos
publicitários, cenas nada realistas estilo videoclip e muitos tratamentos de
fotografia.
Embora isso torne muito do
andamento enfadonho, sobretudo, na primeira parte, também confere alguma
identidade ao material, sabendo encontrar em suas pontuações de roteiro, as
mais relevantes referências cinematográficas possíveis; na primeira metade, as
cenas emulam “O Poderoso Chefão” no registro agressivo e icônico que se tenta
fazer dos gangsteres mexicanos, já a segunda metade, faz claras alusões ao
faroeste mantendo um ritmo cadenciado do início ao fim. Uma pena que a junção
dos elementos propostos –drama romântico, visual estilizado, violência extrema,
fatalismo –não resulte numa narrativa completamente apetecível.
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