Em seu formato originário de série de TV, “As
Panteras” seguia –até por imposições orçamentárias –uma linha mais detetivesca
e investigativa. Quando foi vertido para o cinema no ano 2000, estrelado por
Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu e dirigido por McG, “As Panteras”
adquiriu escopo mais extravagante e assimilou uma miríade de referências
cinematográficas de sua época (algumas pouco apropriadas ao seu próprio
material) como lutas de kung-fu ao estilo “Matrix” (!) e todo o arsenal visual
e estilístico de seu um tanto histriônico diretor. Ainda assim, seu sucesso
rendeu uma continuação em 2003.
Já passados quase vinte anos daquele esforço
inicial, “As Panteras” voltam a dar as caras no cinema, desta vez dirigidas
pela também atriz Elizabeth Banks que aproveitou a oportunidade para agregar
novas atitudes comportamentais à nova obra, relativas, como não poderia deixar
de ser, ao contundente movimento de empoderamento feminino, a exemplo do
recente “Aves de Rapina”.
As novas Panteras são ainda mais audaciosas,
independentes e auto-suficientes em relação aos homens do que suas
antecessoras, e caso não tenha ficado bem claro, isso já é explicitado no
diálogo da cena inicial –ambientada no Rio de Janeiro, olhe só! –entre a
personagem de Kristen Stewart e um alvo qualquer.
Kristen Stewart, por sinal, é uma das boas
surpresas do filme: Enérgica, eufórica e incontrolável, sua personagem, Sabina,
não lembra em nada a caracterização sorumbática que ela dá à protagonista
Bella, de “Crepúsculo”.
Junto dela, está também a eficiente agente de
campo Jane, vivida pela deslumbrante Ella Balinska.
Completando o trio principal, está Elena,
interpretada pela maravilhosa Naomi Scott, conhecida da diretora Banks desde
que trabalharam juntas no set de “Power Rangers”. Naomi, ou melhor, Elena é o
que se pode chamar de protagonista do filme: A narrativa adota sua ótica
subjetiva para, na maior parte do tempo, mostrá-la adentrando e descobrindo
esse novo mundo. Elena é uma das brilhantes programadoras que trabalha na empresa
milionária de seu patrão, o Sr. Brok (Sam Claffin, que trabalhou com a diretora
Banks no set de “Jogos Vorazes-Em Chamas”). Inteligente, Elena descobre um
pequeno problema colateral na nova e revolucionária tecnologia que Brok irá
revelar ao mundo: Ao mesmo tempo em que é um programa capaz de operar em
qualquer mainframe, é também capaz de gerar um poderoso pulso eletro-magnético
tão forte que pode matar vidas humanas.
Inicialmente, ela tenta alertar seus superiores
sobre isso –e é reprimida naquele tipo e encenação padrão que gosta de
sublinhar a avareza e a insensatez masculina.
Depois, de posse de um cartão da Agência
Towsend (que representa as Panteras), Elena contata os famosos investigadores
(ou investigadoras) e, nesse processo, descobre que sua vida está em perigo.
Agora, na qualidade de ‘pantera em
treinamento’, Elena terá de contar com Sabina e Jane, além da chefe Bosley (a
própria diretora Banks, num papel pela primeira vez interpretado por uma
mulher), para impedir misteriosos mal-feitores de vender o programa dotado do
poder de matar no mercado negro de armas.
Tal e qual foi tentado nos filmes de 2000 e
2003, este novo “As Panteras” assume ares de filme grandioso de ação, e sua
trama adquire reflexos condicionados dos thrillers de espionagem pós-modernos,
como “Missão Impossível” (também ela uma série televisiva convertida em série
cinematográfica) e “007”. Nessa reafirmação convicta de gênero, “As Panteras”
apresenta os cacoetes de sempre –locações européias refinadas (começando em
Hamburgo, na Alemanha, e daí para frente), cenas de perseguição e tiroteio,
bugigangas tecnológicas e sequências de luta empenhadas num rigor físico
coreografado –contudo, sai-se muito bem no resultado porque a direção de
Elizabeth Banks é mais competente, equilibrada e sensível que a do histérico
McG, e porque suas três protagonistas encontram facilidade em fazerem-se
maravilhosas: A dinâmica de provocações verbais, camaradagem e rivalidade entre
Kristen Stewart e Ella Balinska é um divertimento só, e Naomi Scott está
encantadora e sensacional na pele da aprendiz de Pantera, para quem esse mundo
novo de espionagem que se descortina à sua frente é quase como um clube
restrito e exclusivo ao qual ela teve a sorte de ser convidada.
Um ponto interessante no
filme de Elizabeth Banks é que ele reconhece todas as obras relativas às
Panteras –desde o seriado dos anos 1970 e 80, até os filmes dos anos 2000 –como
sendo parte do mesmo universo: E por isso, há em alguns momentos, referências
aos filmes e à série, sobretudo, nas divertidas cenas pós-créditos, que contam
entre outras com a participação de uma das panteras originais Jaclyn Smith.
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