Baseado em um brinquedos dos parques temáticos da Disney –e, por aí, já se percebe a origem pouco lisonjeira do projeto –“Jungle Cruise” é parte “Piratas do Caribe”, parte “Caçadores da Arca Perdida” com uma pitada de “Uma Aventura Na África”.
O início, mostrando a perplexa personagem de
Emily Blunt, a Dra. Lilly Houghton, a tentar convencer os céticos, irredutíveis
e machistas cientistas do início do Século XX de então a financiar uma
expedição à Amazônia, já bebe muito das aventuras de Indiana Jones; e essa
proximidade nada discreta se intensificará ainda mais conforme o filme avança
com nítidas inspirações –algumas que chegam a beirar a cara-de-pau. Temos, por
exemplo, os vilões oriundos da Alemanha (na forma do monarca vivido por Jesse
Plemons, obcecado por encontrar uma flor de propriedades místicas), as
aventuras logo transferidas, da Inglaterra vitoriana, para a selva brasileira;
as cenas de ação inventivas, extensas e detalhadas ao estilo Steven Spielberg
e, por fim, a busca pelo tesouro, transcorrida ao longo da trama e pontuada de
elementos cheios de complexidade e rica cenografia cinematográfica.
São nessas condições que o filme, dirigido por
Jaume Collet-Serra (do suspense “Águas Rasas”), chega à Amazônia antes mesmo de
seus créditos iniciais, não tardando a reunir seus protagonistas, no caso,
Lilly e o capitão de uma modesta embarcação de rio, Frank (o truculento, porém,
carismático e divertido Dwayne Johnson), além do apalermado irmão dela, o
afeminado MacGregor (Jack Whitehall, de “O Quebra-Nozes e Os Quatro Reinos”).
Eles empreendem uma viagem ao coração da selva
amazônica, onde Lilly acredita que encontrará o segredo da fonte da juventude,
uma flor cuja pétala milagrosa cura qualquer mal.
A vertiginosa aventura tem por objetivo
emoldurar a dinâmica entre os personagens: Frank é ardiloso e golpista, não
confia em ninguém e fornece constantes motivos para que ninguém confie nele;
Lilly carrega aquela postura altiva comum a todas as mocinhas protagonistas em
geral –é impetuosa, moralista, obstinada e altruísta. Juntos (como era de se
supor), eles não se bicam, no entanto, as convenções do roteiro não resistem ao
ímpeto de reuní-los romanticamente, e de um ponto em diante, esse romance
forçado só começa a funcionar de fato porque Emily Blunt e Dwayne Johnson (bons
atores) imprimem certa sinceridade à essa relação, a despeito do fato de serem
inicialmente incompatíveis. A trama cresce um pouco a partir do momento em que
um ligeiro plot twist revela novas e
inesperadas motivações da parte do personagem de Johnson.
Por outro lado, se em certo ponto, os
protagonistas encontram equilíbrio, o mesmo não pode ser dito dos dois núcleos
de antagonistas (sim, este filme tem DOIS grupos de vilões!): Um deles, o já
mencionado monarca germânico é apático, desinteressante e burocrático
(proporciona um desânimo inevitável sempre que a narrativa o coloca em cena);
já o outro núcleo, embora tenha relação com a reviravolta que o filme, lá pelas
tantas apresenta, parece servir à infalível necessidade mercadológica de abarrotar
o filme de efeitos visuais: Trata-se de Aguirre (o mesmo personagem retratado
por Klaus Kinsky, em “Aguirre-A Cólera dos Deuses”, de Werner Herzog, aqui
vivido por Edgar Ramirez), desbravador espanhol surgido aqui como um ser
monstruoso amaldiçoado pelas propriedades da selva, numa criação semelhante ao
Dave Jones de “Piratas do Caribe-O Baú da Morte”.
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