sábado, 11 de maio de 2024

Planeta dos Macacos - O Reinado


 Após a compra do Estúdio da 20th Century Fox pela Disney, eventualmente, toda a propriedade intelectual passou a pertencer à casa do Mickey Mouse, logo, era questão de tempo que surgissem novas versões de diversas franquias famosas vindas da Fox. E uma delas vem a ser, claro, “O Planeta dos Macacos”.

Inicialmente surgido no fim da década de 1960, com o filme clássico estrelado por Charlton Heston –e que a reboque trouxe várias outras produções, cada uma minguante em qualidade –a “Saga Planeta dos Macacos” se estendeu por diversos filmes ao longo da década de 1970, chegando à culminar numa série de TV e noutra de animação. Entretanto, em 2011, a saga foi revivida (sem contar com o longa de 2001, dirigido por Tim Burton, sem qualquer relação com os filmes antigos ou os novos): “Planeta dos Macacos-A Origem” retrocedia no tempo para vislumbrar a ascensão dos macacos enquanto espécie inteligente (liderados pelo primeiro símio consciente, o chipanzé criado pelos humanos Cesar) em paralelo à regressão da raça humana à estágios mais primitivos da fala e da inteligência. A saga prosseguiu sob a direção de Matt Reeves no ótimo “Planeta dos Macacos-O Confronto” e se encerrou em 2017, numa obra-prima do cinema moderno chamada “Planeta dos Macacos-A Guerra”; uma questão a envolver essa trilogia era que, se o grande chamariz de ordem técnica dos filmes antigos era o apelo de sua espantosa maquiagem a transformar um elenco humano em macacos, desta vez, a tecnologia de ponta fazia sua diferença –a nova trilogia trazia macacos hiper-realistas gerados por computação gráfica através da captura de performance, e para tanto, a presença do ator especializado nessa nova tecnologia, Andy Serkis, como o protagonista Cesar, era crucial.

Com essa trilogia consagrada e finalizada de forma tão redondinha (e desta vez, sem Andy Serkis e sem Matt Reeves) poucos eram os que especulavam um novo recomeço assim tão cedo, mas, o diretor Wes Ball (da “Trilogia Maze Runner”) teve seu projeto de uma retomada de “Planeta dos Macacos” aprovado pela Disney que produziu o filme sob o novo selo 20th Century Studios. Dando continuidade ao desfecho da nova trilogia –a cena inicial é ainda durante o cortejo fúnebre de Cesar –“O Reinado” começa de fato num salto temporal para o futuro (“Muitas gerações depois” diz a legenda) e encontramos uma comunidade de macacos inteligentes vivendo em circunstâncias feudais, desenvolvendo a habilidade de adestrar pássaros. Lá, vive Noah (personificado pelos movimentos do ator Owen Teague, de “It-A Coisa”) um jovem macaco ciente do mistério em torno do perigo que espreita para além de suas fronteiras. Os humanos, vistos por eles como animais selvagens e primitivos que servem apenas para roubar as montarias, são chamados Ecos, e deles nada se espera a não ser selvageria e grunhidos. Contudo, numa noite um ataque acaba chegando ao povoado de Noah, porém, na forma de outros macacos –afirmando serem seguidores de Cesar (de quem Noah e seu clã nunca ouviram falar), os macacos invasores têm uma vaga noção superior de tecnologia e valem-se disso para subjugar e escravizar o grupo de Noah, numa distorção do discurso pacifista promovido por Cesar décadas ou talvez até séculos antes.

Deixado para trás para morrer, Noah procura ir ao encalço dos captores de seu clã e, nesse percurso, encontra-se com o orangotango Raka (Peter Macon), este sim um verdadeiro e sensato seguidor dos preceitos de Cesar. Os dois acabam se deparando com a humana May (a carismática Freya Allan, da série “The Witcher”) que em princípio aparenta ser só mais um indivíduo da manada pré-histórica de humanos com os quais eles se acostumaram, mas que, em dado momento sensacional da trama, revela uma grande surpresa.

“Planeta dos Macacos-O Reinado” é, pois, uma obra costurada com bastante habilidade pelo diretor Wes Ball: Ele trabalha maravilhosamente bem a miscelânea de suspense, drama, ação e ficção científica que sempre constituiu os melhores exemplares da saga; estabelece bons personagens para assumirem a dianteira da narrativa na falta de absolutamente todos os anteriores (ainda que alguns arquétipos se repitam); reaproveita com ainda mais ênfase e entusiasmo o aparato digital com o qual os membros do elenco são convertidos em símios ultra-realistas dotados ainda de expressões faciais; planta uma nova premissa (mas não completamente distante das premissas que deram certo) para que toda uma nova e promissora trilogia venha a ganhar corpo; e traz uma reflexão bastante pertinente e relevante na qual o messianismo de Cesar oriundo dos filmes anteriores é adotado e deturpado pelo grande vilão deste filme (vivido por Kevin Durand, de “Gigantes de Aço”), numa forma de realizar uma massa de manobra e disfarçar, com palavras de efeito moral, a perversidade de sua ideologia –um recado importante e interessante a ser levado em conta nos dias de hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário