No início dos anos 1990, Madonna era uma artista indomada e implacável: Em 1992, ela havia lançado simultaneamente o ousado livro de fotos “Sex”, o álbum “Erotica” e o longa-metragem “Corpo em Evidência”. Um ano antes, esse ciclo de ousadia destinado a chacoalhar as bases de pudor do showbizz já havia se iniciado com o documentário “Na Cama Com Madonna” –ou, no original, “Madonna-Truth Or Dare”.
Dirigido por Alek Keshishian (realizador com
certa experiência em videoclipes), “Na Cama Com Madonna” foi lançado fora de
competição no Festival de Cannes 1991, onde iniciou sua escandalosa e inovadora
trajetória no circuito comercial. Sua estrutura narrativa intercala basicamente
a parte documental, depoimentos e bastidores (filmada em preto & branco com
câmeras de 16 mm) com o registro das apresentações musicais do show “Blonde
Ambition” (filmado, por sua vez, em cores com diversas câmeras de 35 mm),
contudo, em sua proposta, o filme revelou-se ousado: Nunca antes um
documentário havia exposto a intimidade de uma artista famosa com tanta
contundência e de forma tão deliberada, ao flagrar momentos de tensão, crises
íntimas e outros conflitos.
Na esteira da turnê “Blonde Ambition”
–transcorrida no segundo semestre do ano de 1990, pelo Japão, Europa, EUA, e
Canadá –acompanhamos os percalços pessoais, profissionais e familiares da pop-star Madonna, bem como fortes
indícios de sua irredutível personalidade: Produzido com perfeccionismo quase
obcecado por sua estrela (todos os modelos usados por ela na turnê foram
criados pelo estilista Jean-Paul Gaultier!), o show serve como veículo para
mostrar um panorama bastante expositivo de sua vida pessoal; o namoro de então
com o astro Warren Beatty (com quem ela trabalhou em “Dick Tracy”); a maneira
fria e sardônica com que trata as pessoas do showbizz (exemplo disso é o rude desdém para com Kevin Costner);
suas opiniões polêmicas sobre sexo, religião e comportamento; a estreita
ligação com o mundo homossexual de seus bailarinos; o relacionamento conturbado
com o pai e o irmão; a festa na casa de Pedro Almodóvar e a paquera frustrada
com Antonio Banderas (com quem trabalharia anos mais tarde no filme “Evita”); a
insegurança durante a apresentação em Detroit, com os amigos de infância; a
controvérsia gerada pela famosa cena em que simula um orgasmo na cama ao som de
“Like A Virgin”, e várias outras revelações.

Nenhum comentário:
Postar um comentário