sábado, 18 de outubro de 2025

Na Cama Com Madonna


 No início dos anos 1990, Madonna era uma artista indomada e implacável: Em 1992, ela havia lançado simultaneamente o ousado livro de fotos “Sex”, o álbum “Erotica” e o longa-metragem “Corpo em Evidência”. Um ano antes, esse ciclo de ousadia destinado a chacoalhar as bases de pudor do showbizz já havia se iniciado com o documentário “Na Cama Com Madonna” –ou, no original, “Madonna-Truth Or Dare”.

Dirigido por Alek Keshishian (realizador com certa experiência em videoclipes), “Na Cama Com Madonna” foi lançado fora de competição no Festival de Cannes 1991, onde iniciou sua escandalosa e inovadora trajetória no circuito comercial. Sua estrutura narrativa intercala basicamente a parte documental, depoimentos e bastidores (filmada em preto & branco com câmeras de 16 mm) com o registro das apresentações musicais do show “Blonde Ambition” (filmado, por sua vez, em cores com diversas câmeras de 35 mm), contudo, em sua proposta, o filme revelou-se ousado: Nunca antes um documentário havia exposto a intimidade de uma artista famosa com tanta contundência e de forma tão deliberada, ao flagrar momentos de tensão, crises íntimas e outros conflitos.

Na esteira da turnê “Blonde Ambition” –transcorrida no segundo semestre do ano de 1990, pelo Japão, Europa, EUA, e Canadá –acompanhamos os percalços pessoais, profissionais e familiares da pop-star Madonna, bem como fortes indícios de sua irredutível personalidade: Produzido com perfeccionismo quase obcecado por sua estrela (todos os modelos usados por ela na turnê foram criados pelo estilista Jean-Paul Gaultier!), o show serve como veículo para mostrar um panorama bastante expositivo de sua vida pessoal; o namoro de então com o astro Warren Beatty (com quem ela trabalhou em “Dick Tracy”); a maneira fria e sardônica com que trata as pessoas do showbizz (exemplo disso é o rude desdém para com Kevin Costner); suas opiniões polêmicas sobre sexo, religião e comportamento; a estreita ligação com o mundo homossexual de seus bailarinos; o relacionamento conturbado com o pai e o irmão; a festa na casa de Pedro Almodóvar e a paquera frustrada com Antonio Banderas (com quem trabalharia anos mais tarde no filme “Evita”); a insegurança durante a apresentação em Detroit, com os amigos de infância; a controvérsia gerada pela famosa cena em que simula um orgasmo na cama ao som de “Like A Virgin”, e várias outras revelações.

Com um custo de aproximadamente 4 milhões de dólares, “Na Cama Com Madonna” foi um notável sucesso de bilheteria, sintomático do fascínio que uma estrela como Madonna era capaz de suscitar graças às suas polêmicas e ousadias –ele permaneceu sendo o documentário de maior rentabilidade na história do cinema até 2002, quando foi tirado desse posto por “Tiros em Columbine”, de Michael Moore.

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