A cultura norte-americana, sempre definida por um viés fetichista em relação à violência, é obcecada por serial killers. É comum, portanto, muitos deles serem transformados em temas para filmes, séries, livros e até histórias em quadrinhos. Deles, um dos mais notórios certamente foi Ed Gein, cuja trajetória macabra inspirou inúmeros produtos da cultura pop. A antologia “Monstro”, da Netflix, concebida pelo mesmo Ryan Murphy que produziu as séries “Glee” e “American Horror Story”, se debruça sobre casos estarrecedores de serial killers –já foram perpetradas antologias sobre Jeffrey Dahmer, e sobre os Irmãos Menendez, agora, neste terceira incursão, eles se voltam para Edward Theodore Gain, o assim chamado “Açougueiro de Plainfield”.
Como dito antes, Ed Gein não é nem um pouco
desconhecido ao mundo do entretenimento –inspirados por ele, foram realizados
filmes como o clássico “Psicose”, o transgressivo “O Massacre da Serra
Elétrica”, o premiado “O Silêncio dos Inocentes”, e até mesmo um telefilme
biográfico (entre outros, claro) do ano 2000, estrelado por Steve Railsback (de
“Força Sinistra”), ainda que dotado da irregular qualidade televisiva da época.
Na minissére de Murphy, em oito episódios, Ed
Gein surge interpretado por Charlie Hunnam (de “Círculo de Fogo”), que traz um
elemento astucioso para sua caracterização –ele ressalta as características
provincianas e simplórias de Ed Gein, em contraponto à fera selvagem que seus
atos reafirmam que ele é, gerando incredulidade no expectador.
Acompanhamos a vida de Ed Gein desde tenra
idade –mais ou menos a partir de 1945 –quando ainda jovem era o segundo filho
de uma família tão tóxica quanto disfuncional, na cidade de La Crosse, no
Wisconsin. A mãe de Gein (Laurie Metcalf, de “Lady Bird” e “JFK-A Pergunta Que Não Quer Calar”) era fervorosamente religiosa, seu pai um alcóolatra que ela
logo descartou e seu irmão mais velho, um rebelde que se opunha aos ditames da
matriarca. Sobrou ao jovem e submisso Ed toda a carga de amargura, repressão,
ressentimento e aversão aos homens que sua mãe era incapaz de disfarçar. Ao
longo da criação de Ed, ela travestia fanatismo religioso com uma misantropia
implacável –dizia que as mulheres (às quais chamava de Jezebel) eram seres corruptíveis e pecaminosos e que, na
qualidade de homem, Ed estava terminantemente proibido de espalhar sua
‘semente’ em uma delas. O AVC que sofreu, pouco antes de morrer, só acentuou
ainda mais sua aversão e seu ódio por tudo e por todos. Já Ed, alienado dentro
desses preceitos, não tardou a começar a confundir alucinação com realidade
–mal notou quando deu cabo do próprio irmão (!), vindo mais tarde a encobrir o
assassinato dele simulando uma incêndio no celeiro da fazenda!
Na esteira desses acontecimentos, Ed Gein vai
encontrando, ao longo dos anos que se seguem, meios para executar atrocidades
inacreditáveis na solidão de sua fazenda, como violar sepulturas e roubar os
cadáveres (sempre mulheres) para então esquartejá-los, usando as partes para
inúmeras bizarrices (como confeccionar potes com os crânios, usar a pele para
revestir móveis, ou até fazer sexo!), e vez ou outra, até mesmo perpetrar
homicídios de fato.
É num desses casos (quando mata a mãe solitária
de um dos policiais da cidade, apropriando-se do corpo para, depois,
estripá-lo!) que ele é descoberto, e sua prisão o leva a um julgamento popular
(de onde sai diagnosticado como imputável devido à sua insanidade, algo
revoltante para muitos) e de lá é internado num hospício, onde fica até a
velhice.

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