E chegou então a hora de falar sobre o filme
que virou um fenômeno no ano de 2011, e que na opinião de muitos é o único
capaz de rivalizar com “Batman-O Cavaleiro das Trevas” como melhor filme da
filmografia de Christopher Nolan.
“A Origem” guarda mesmo elementos de sobra para
manter seu fascínio perene. A começar pelo notável (e, em princípio,
intrigante) personagem de Leonardo Dicaprio, o torturado Dom Cobb, um ladrão de
sonhos!
Sua especialidade é infiltrar-se na mente de
certas pessoas enquanto dormem (através de uma tecnologia nunca, de fato,
detalhada pela narrativa), e dentro de seus sonhos, roubar-lhes segredos e
informações valiosas –e aí, mais do que o processo fantástico pelo qual se dá a
ida para o mundo dos sonhos, é no rigoroso conjunto de fatores, regras, condições
e pequenos detalhes que está o verdadeiro ponto de interesse da narrativa de
Nolan.
Uma vez dentro dos sonhos existe toda uma
cadeia de importâncias a ser respeitada e seguida: Se morrer no sonho, a pessoa
desperta. O subconsciente pode oferecer perigo para o sonhador e seus “turistas”.
Há uma forma específica de saber se você está sonhando ou não (e isso diz
respeito aos “totens”). O tempo, no sonho, corresponde a um período muito breve
na nossa realidade.
Tal arte, aparentemente, Dom Cobb domina como
poucos.
Entretanto, em sua vida desperta Cobb é um
homem torturado, afastado de seus filhos (que moram com o avô interpretado por
Michael Caine) e injustamente acusado da morte da mulher que ama (Marion
Cotillard, uma femme fatale extraordinária, que surge nos seus sonhos como um
elemento tão sensacional quanto desestabilizador).
É quando surge então um milionário chamado
Saito (o brilhante Ken Watanabe, com um personagem tão essencial à trama quanto
Dicaprio), com uma proposta irrecusável: ter seu nome inocentado em troca de
uma última missão. Só que desta vez, ao invés de tirar informações, ele deve
inserir uma idéia numa determinada mente, o quê é muito mais difícil, talvez
impossível.
Cobb monta uma nova equipe para essa arriscada
tarefa –Arthur, seu braço direito, vivido por Joseph Gordon-Levitt, um “falsificador”
(capaz de personificar diferentes personagens dentro do sonho) interpretado por
Tom Hardy, um “arquiteto” (aquele que constrói o elaborado cenário dentro do
qual o sonho irá se passar) na pele da jovem Ellen Page (de “Juno”), e um “químico”
(que administra os efeitos do sedativo que fará a vítima dormir), vivido por
Dileep Rao –afinal a mente humana (incluindo a do próprio Cobb) é um lugar
desconhecido e cheio de armadilhas e a "inserção" requer um plano
complexo.
É patente, como se pode perceber, que Nolan
gosta de mesclar gênero que ele tem por inspiração –os filmes de assalto
popularizados nos anos 1960, neste caso –e à eles conceder uma roupagem fantástica
e, não raro, mirabolante. As influências cinematográficas de Nolan surgem
quanto não se espera: Imagina-se que ele vá fazer alusão a algum grande
diretor, ou grande filme, que tenha por base o mundo dos sonhos, como David
Lynch, mas essas relações só aparecem por acaso; “A Origem”, em sua concepção
desconcertante, busca remeter a obras como “O Golpe de John Anderson” (na sua
estrutura de filme de assalto), ou “007 Na Mira dos Assassinos” (na forte referência
que envolve cenas de ação na neve). Nota-se então o gênero a que “A Origem”
quer realmente pertencer e aprimorar: A ação.
E a direção de Nolan dedica minucioso aparato
de técnica e inventividade a fim de moldar cenas de ação singulares: Sendo a
luta em gravidade zero provavelmente seu exemplo mais exuberante.
É o desfecho, contudo, que garante ao filme sua
permanência na memória: Quando Cobb, redimido e prestes a reaver os filhos,
tenta usar seu próprio “totem” (um pequeno peão que gira indefinidamente quanto
é sonho, e para logicamente de girar quando é realidade), a fim de garantir se
o que está se passando é real ou não. As crianças o chamam, e ele por fim
ignora o peão que roda sem parar. A câmera de Nolan permite que seu protagonista
vá embora, fixando-se no peão (e na expectativa de que ele logo caia), mas
desafia o expectador, encerrando o filme antes de qualquer resposta.
Está aí o fator que fez de “A
Origem” um dos filmes mais discutidos de 2011.
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