Da série “filmes que desapareceram no tempo e na memória”, a comédia romântica “Forças do Destino” é uma produção sem muito sentido e sem muita noção, feita na época pra capitalizar em cima dos estrelatos relativamente recentes de Sandra Bullock e Ben Affleck. Naqueles anos 1990 de então, tinha-se muito aquela coisa de investir no carisma de astros para carregar obras de gênero fácil que, com tramas formulaicas e testadas, arregimentavam, sem muito esforço, plateias aos cinemas. Não é preciso nenhuma dificuldade para perceber que “Forças do Destino”, lançado em 1999, é exatamente isso; escrito com estranho desmazelo, interpretado com inspiração oscilante por todo o elenco e dirigido com opções estéticas e narrativas que hoje soam de gosto duvidoso, é um filme que, na maior parte do tempo, nos faz perguntar o que levou estrelas em ascensão como Sandra e Ben (ela havia feito “Enquanto Você Dormia” e começava a se sagrar como a nova rainha das comédias românticas em Hollywood; ele participou, no ano anterior o block-buster “Armageddon”), a aceitar esse projeto.
Ele está longe de ser uma catástrofe, não me
entendam mal (catástrofe mesmo foi “Contato de Risco”, que Ben Affleck estrelou
poucos anos depois, mas essa é outra história...), mas é um filme que, não
raro, coloca seus protagonistas em situações vexatórias, na maioria das vezes
constrangedoras (sem, no entanto, apelar àquele humor inconsequente dos filmes
dos anos 1980), e cuja premissa não fornece motivações boas o suficiente sequer
para o próprio enredo existir, que o diga para o público comprar tudo o que se
sucede em cena.
Tudo começa com o personagem Ben Holmes (o
próprio Ben Affleck, com a mesma cara de novinho de “Gênio Indomável”) na sua
despedida de solteiro, em Nova York. Ben está prestes a se casar com Bridget
(Maura Tierney, de “O Mentiroso”) e, apesar de ser bom-moço e da convicção no
matrimônio que tenta ostentar, não lhe faltam circunstâncias que lhe sugerem a
armadilha que o casamento pode representar –é como se o filme (que aliás, é
escrito por Marc Lawrence e dirigido por Bronwen Hughes) fizesse o tempo todo
uma espécie de propaganda anti-matrimonial a incitar o personagem principal; e,
por consequência, o público em relação aos rumos a que trama haverá de tomar.
Uma vez em Nova York, Ben deve tomar o avião
para Savannah, na Flórida, onde Bridget o aguarda para enfim realizarem a
cerimônia, e nesse ínterim, convidados não param de chegar. Contudo, eis que o
avião –que ele toma lado à lado da tresloucada personagem de Sandra Bullock,
Sarah –tem uma pane e acaba não conseguindo decolar. Com ambos coincidentemente
tendo de estar em Savannah muito antes dos horários dos próximos voos (ela
precisa estar lá para executar uma venda imobiliária), Sarah e Ben resolvem,
digamos, unir forças para conseguirem chegar na cidade o quanto antes, obtendo
caronas alternativas, em carros, trens, ônibus e no que aparecer –e claro,
confusões se seguem nesse processo.
Em princípio, pode lembrar bastante a premissa
básica do clássico oitentista “Antes Só Do Que Mal Acompanhado”, do diretor
John Hugues (nenhum parentesco com a diretora Bronwen Hugues), com Ben Affleck
repetindo o papel de Steve Martin, enquanto Sandra Bullock é a força da
natureza que transforma a viagem numa sucessão de confusões, assim como o
falecido John Candy, mas não é bem assim: O filme se revela frouxo e desbotado
em seu humor sem graça, inadequado nos momentos de seriedade em que pretende
discutir certos aspectos da vida a dois, e falho no romance, uma vez que Ben
Affleck consegue o feito inacreditável de não possuir química alguma com a
maravilhosa Sandra Bullock –que, não se engane, é a melhor coisa do filme a
despeito da personagem contraditória, desregrada, bipolar e incoerente que ela
tenta interpretar.
Como o filme de qualidades e intenções
duvidosas que é, “Forças do Destino” permite aos expectadores atuais enxergarem
muito melhor seu lapsos abissais hoje do que na época em que foi feito: Como
comédia romântica, ele parece estranhamente focar muito mais a atenção de seu roteiro
(já bem pouco atencioso) no protagonista masculino e sua dúvida pouco original
em assumir o casamento, do que na personagem feminina, uma vez que esse é o
procedimento de maior parte das comédia românticas funcionais (isso porque a
diretora é uma mulher!!), além de ser um verdadeiro pecado desperdiçar Sandra
Bullock no auge da beleza, da formosura e do magnetismo (logo, ela estrelaria
uma sucessão prejudicial de projetos rasteiros como este, até enfim fazer as
pases com o sucesso, em “Miss Simpatia”, mas, essa também é outra história...).
Resta somente o elemento curioso no fato de que, indo na contra-mão do gênero à
que pertence, o desfecho contraria muito do que o próprio filme vinha
discorrendo, inclusive em níveis subliminares, para levar o personagem de Ben a
terminar junto com sua noiva, e a personagem de Sandra resolver seus próprios
assuntos pendentes por conta própria –ou seja, eles não terminam juntos! O que,
longe de ser um mérito, deve ter também frustrado o público-alvo para o qual
supostamente este trabalho haveria de ter sido feito.
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