sábado, 15 de fevereiro de 2025

Um Tira No Jardim de Infância


 No documentário da Netflix, “Arnold”, sobre sua vida e carreira, Arnold Schwarzenegger conta que depois do surpreendente desempenho de público e crítica de “Irmãos Gêmeos”, ele e o diretor Ivan Reitman estavam ávidos por retomar a parceria e explorar novas possibilidades da então recém-descoberta veia cômica do astro. E um roteiro apropriado para isso até que não tardou a aparecer: Entre “Irmãos Gêmeos” e este “Um Tira No Jardim de Infância” (escrito por Murray Salem, Herschel Weingrod e Timothy Harris) passaram-se módicos dois anos.

Grandalhão, truculento e absolutamente adequado a sua profissão de policial em Nova York, John Kimble (Schwarzenegger) persegue a anos o traficante de drogas Cullen Crip (Richard Tyson, de “Te Pego Lá Fora” e “Falcão Negro em Perigo”). A oportunidade finalmente surge quando Crip é visto assassinando um informante que teria lhe passado a localização de seu filho e sua ex-esposa. Com Crisp atrás das grades aguardando julgamento, Kimble e a policial O’Hara (a divertida Pamela Reed, de “Os Eleitos-Onde O FuturoComeça” e “Melvin & Howard”) precisam rastrear a ex-esposa dele para que possa testemunhar no tribunal e condená-lo de uma vez por todas.

A mulher –que, ao que tudo indica, mudou de identidade para fugir do bandido, talvez, até com algum dinheiro dele –está em algum lugar da cidade de Astoria, estado de Oregon, junto com seu filho pequeno. A fim de descobrir quem são, o plano é Kimble acompanhar O’Hara que irá se disfarçar de professora (sua antiga ocupação) e encontrar o filho de Crisp entre as crianças pequenas da Astoria Elementary School. No entanto, durante a viagem, O’Hara fica doente e indisposta, obrigando Kimble, ao chegarem, a tomar o seu lugar. O grandalhão agora terá de se passar como professor de jardim de infância –e essa ideia simples responde por todo o apelo em cima do qual o filme foi construído.

Entretanto, como toca a muitas obras dos anos 1980 (ainda que este filme seja de 1990), a construção resulta impecável: Munido de seu inabalável carisma, Schwarzenegger realmente diverte estabelecendo um contraponto contrastante e hilariante com a fauna de baixinhos com a qual tem de lidar –entre essas crianças, presenças ainda bem pequenas do filho do diretor, Jason Reitman (que também viria a tornar-se diretor, em filmes como “Juno”) e da bela Odette Yustman (de “Cloverfield-Monstro” e “Alma Perdida”). E o diretor Reitman, se não chega a ostentar nenhuma genialidade, compreende perfeitamente isso: Ao explorar a dinâmica que surge entre o gigantesco protagonista e seus pequenos coadjuvantes (inicialmente conturbada, mas depois pouco a pouco harmoniosa e, ao fim, carregada de empatia), assim como a circunstância da farsa em si (a qual garante interesse do início ao fim para o expectador que fica intrigado como tudo se resolverá), ele constrói um filme delicioso de se acompanhar.

Embora estranhamente arrematado, no início e no desfecho, por dois tiroteios que impõem uma atmosfera de tensão e sanguinolência inadequada para o entretenimento familiar que em geral ele parece conceber, o filme de Reitman é bastante simpático, engraçado e leve, entregando até mesmo momentos em que Arnold protagoniza situações românticas, junto da bela e sempre competente Penelope Ann Miller; aliás, todo o elenco feminino –complementado com as participações de Linda Hunt (ganhadora do Oscar 1984 de Melhor Atriz Coadjuvante por “O Ano Que Vivemos Em Perigo”) como a diretora da escola e de Carroll Baker como a mãe igualmente maligna e criminosa do vilão –é brilhante, exigindo uma presença um pouco mais sofisticada da parte do pouco desafiado Arnold Schwarzenegger, normalmente tão a vontade em obras de ação, mas aqui, provando com certa inteligência que tem alguma versatilidade para experimentar alguns gêneros mais distintos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário