sábado, 22 de fevereiro de 2025

Capitão América - Admirável Mundo Novo


 Embora persiga o tempo todo a atmosfera conspiratória do excelente “Capitão América-O Soldado Invernal”, este “Brave New World” dá continuidade realmente aos eventos mostrados em “O Incrível Hulk” (de um já longínquo 2008) e “Eternos” (de 2021). Quando reencontramos o protagonista, Sam Wilson (Anthony Mackie), ele já veste o manto de Capitão América a pelo menos quatro anos –desde que assumiu esse legado na minissérie “Falcão e O Soldado Invernal”. Sua missão é deter a negociação envolvendo um item desconhecido entre a Sociedade da Serpente, chefiada pelo inescrupuloso Coral (Giancarlo Esposito), e um comprador misterioso. Já aí, a narrativa concebida pelo diretor Julius Onah (de “The Cloverfield Paradox”) orquestra vários pontos de partida (como é de praxe, muitos deles extraídos dos quadrinhos originais) para buscar um todo mais sólido e exuberante, ainda que, ao contrário do que fizeram (e muito bem) os Irmãos Russo nos filmes predecessores, essa solidez e essa exuberância nunca cheguem, de fato, a aparecer.

Se de um lado temos Sam Wilson e seus válidos esforços em corresponder às expectativas dele esperadas como Capitão América –não apenas ao substituir a grande e inspiradora presença de Steve Rogers, mas também ao representar um herói tão icônico sendo também um homem negro a trazer consigo à reboque toda uma questão de representatividade racial –do outro, temos o General Thadeus Ross (vivido por Harrison Ford, substituindo o falecido William Hurt, intérprete anterior do personagem) cuja fama de irascível ele procura avidamente deixar de lado por conta de A) reatar os laços com a filha, Betty (Liv Tyler), em frangalhos desde que ele caçou, por anos, o Hulk, assim como outros heróis, e B) honrar seu novo cargo de presidente eleito dos EUA perante o povo norte-americano.

Para tal intento, Ross quer se aproximar de Sam Wilson, sobretudo, após a bem-sucedida missão em recuperar o tal item desconhecido (que havia sido roubado de aliados japoneses), entretanto, novas complicações tornam a afastá-los: Acontece que o Celestial petrificado em pleno oceano em “Eternos”, vem a ser constituído de um novo minério que as potências mundiais identificaram como tão resistente (ou até mais!) que o cobiçado vibranium de Wakanda, o adamantium. De olho nessa nova riqueza, vários países forjam uma tênue aliança com os EUA, mas um atentado na Casa Branca –perpetrado por Isaiah Bradley (Carl Lumbly), um ex-supersoldado veterano, ao que tudo indica sob controle mental –pode colocar tudo a perder, e deixar os EUA à beira de uma guerra.

A tarefa deste novo Capitão América em seu primeiro filme solo é, portanto, complicada: Provar a inocência de Isaiah, descobrir quem é o misterioso vilão manipulador que aparentemente está por trás de tudo isso, e deter uma crise política de proporções globais. Tudo isso, contando com a ajuda do novo Falcão, Joaquim Torres (Danny Ramirez), uma vez que o próprio Presidente Ross, como sempre, mostra-se alguém de difícil relação –em especial, por conta do segredo que o liga ao tal vilão manipulador, e que pode levar Ross a uma metamorfose inesperada como a ameaça conhecida por Hulk Vermelho –e, embora desse detalhe seja resguardado para o trecho final do filme, ele não é nenhuma surpresa, uma vez que dominou por completo o material promocional do filme nos últimos meses antes de sua estréia. Grave problema de marketing: Certamente, se a questão envolvendo o Hulk Vermelho e sua aparição no clímax de “Brave New World” tivesse sido guardado exclusivamente para ser visto nos cinemas (como foi feito com as aparições dos Homens-Aranhas, Tobey Maguire e Andrew Garfield, em “Sem Volta Para Casa”) a empolgação provocada pelo filme seria exponencialmente maior.

Como está, “Brave New World” não é um filme ruim, longe da irrelevância maçante de “As Marvels” ou da afetação lastimável de “Thor-Amor & Trovão”, e Anthony Mackie se esforça genuinamente para ser um herói com dignidade e valor, no entanto, os predicados desta produção –leia-se, roteiro (fragmentado e mal-amarrado em muitos momentos) e direção (burocrática e incapaz de evidenciar sequências mais memoráveis) –ficam muito aquém das obras nas quais se inspira e às quais tenta a todo o custo igualar: Os excelentes filmes estrelados pelo Capitão América anterior, Steve Rogers (Chris Evans).

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