Stephen King escreveu “A Longa Marcha” ainda na faculdade, durante a segunda metade da década de 1960 –antes da consagração como escritor de livros de terror, o que explica também o gênero distinto do livro, ficção científica distópica –tal especificação de tempo serve para explicar muito bem a alegoria embutida no argumento: Ao moldar uma trama na qual jovens voluntários eram conduzidos à um esforço descomunal que levava a maior parte deles à morte por indiferentes senhores da guerra (militares), King fazia uma clara referência à Guerra do Vietnam que vitimizava incontáveis vidas de jovens norte-americanos num conflito que todos (exceto, os mandatários no poder) enxergavam como algo despropositado, sem sentido. Contudo, se “A Longa Marcha” foi o primeiro livro que King escreveu, ele não foi o primeiro que ele publicou: Somente após o sucesso literário de “Carrie-A Estranha” (logo seguido pela adaptação cinematográfica dirigida por Brian De Palma) que King pôde lançar, em 1979, “A Longa Marcha” –e ainda o fez sob o pseudônimo de Richard Bachman, com o qual lançou diversos outros livros.
Era irônico, portanto, que a primeira obra de
Stephen King, dentre tantas que ele perpetrou e que despertaram tanto interesse
nos estúdios de Hollywood, nunca tenha sido adaptada para cinema antes –até agora,
com o lançamento de “A Longa Marcha-Caminhe Ou Morra”.
Dirigido por Francis Lawrence (que assinou
todas as excelentes continuações de “Jogos Vorazes”), a trama de “A Longa
Marcha” diz respeito a uma caminhada promovida por militares e acompanhada por
todo o país. Nesse futuro, os EUA são uma nação colapsada, e a Longa Marcha é
uma campanha anual que recruta voluntários para restaurar o ânimo e o orgulho
do país. São cem rapazes que haverão de encarar o desafio de caminhar, num
determinado ritmo, por uma estrada que atravessa cerca de cinco estados
norte-americanos. Ao vitorioso é concedido um desejo (qualquer um!) a ser
realizado, além da satisfação de viver bem financiado o resto da vida –uma amostra
do quanto a persistência e a obstinação são recompensadas pelo governo.
Entretanto, os noventa e nove participantes
restantes são impiedosamente mortos! Explica-se: Não há linha de chegada para a
Longa Marcha, ganha aquele que tão somente for o último a restar em pé.
Durante toda a caminhada –que perdura por dias
a fio, sem qualquer pausa para descansar, dormir, comer ou fazer necessidades
fisiológicas! –os participantes devem manter um ritmo específico, a cada vez
que esse ritmo se reduzir ou parar, o participante é advertido, se após três
advertências o participante não conseguir retomar a marcha, pela razão que for,
ele é fulminado com um tiro na cabeça!
É nessas condições atrozes que o jovem Ray
Garrity (Cooper Hoffman, de “Licorice Pizza”) embarca na Longa Marcha com motivos
muito pessoais (que, mais tarde, serão elucidados) para vingar-se do grande
idealizador dessa disputa, o cruel e megalomaníaco Major (Mark Hammil).
Durante, essa exaustiva (em todos os níveis possíveis) provação, Ray sela um
pacto de amizade com Peter McVries (o ótimo David Jonsson, de “Alien-Romulus”),
um órfão de ideais convictos e positivos. Outros personagens participam da
maratona: Pearson (Thamela Mpumlwana) cuja ingenuidade o leva a firmar laços de
amizade com todos, Stebbins (Garrett Wareing) munido de impressionante
compleição física que esconde um triste e doloroso segredo, Barkovitch (Charlie
Plummer, de “Todo O Dinheiro do Mundo”) cuja muralha de sarcasmo para com seus
colegas não o impedirá de sucumbir ao desespero e à agonia, Olson (Ben Wang, de
“Karatê Kid-Lendas”) que ingressa na disputa crente de que sua dedicação
teórica irá lhe garantir a vitória, Curley (Roman Griffin Davis, o garotinho de
“Jojo Rabbit”), o mais jovem de todos, que mentiu a idade para participar, e
será a primeira vítima desse esquema inclemente, e muitos outros, todos eles
fadados e não chegarem vivos até o final –exceto um, e é preciso sofrer até o
úlimo instante para saber quem será!

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