domingo, 25 de agosto de 2024

Alien - Romulus


 As críticas entusiasmadas a brotar pela internet estão corretas: “Alien-Romulus” é a melhor produção vinda da franquia dos últimos 38 anos, desde que Ridley Scott concebeu “Alien”, o brilhante filme inaugural e James realizou “Aliens-O Resgate”, a única continuação verdadeiramente válida e digna. Desde então, os exemplares da franquia –então, de propriedade da 20th Century Fox Studios –só fizeram minguar: Houve o problemático “Alien 3” dirigido por David Fincher sob pesada interferência dos executivos (cujo resultado final acabou sendo oscilante e claudicante em qualidade), o ainda pior “Alien-A Ressurreição”, de Jean-Pierre Jeneaut, um equívoco que pôs a série toda a perder. Após, dois crossovers com o alienígena de “Predador” relativamente festejados por alguns fãs, mas massacrados pela crítica, em 2012, o próprio Ridley Scott arregaçou as mangas para tentar restabelecer a dignidade da série com o pretensioso “Prometheus”, ambientado várias décadas antes dos eventos do filme original. À ele, seguiu-se logo depois “Alien-Covenant”, contudo, fracassos de público e de crítica, esses dois filmes traziam tanta ambição em seus roteiros (e tão pouca originalidade, ou mesmo, respeito pelos primeiros filmes) que também ameaçaram amargar a série por mais alguns anos.

No entanto, eis que, como quem não quer nada, o jovem diretor urugaio Fede Alvarez traz “Alien-Romulus”, ambientado cerca de vinte anos depois de “Alien” –ou seja, cronologicamente antes de “Aliens-O Resgate” –para revisitar a franquia e seus elementos icônicos, tão maltratados pelo pretenso atrevimento dos últimos filmes. “Romulus” já começa promissor: Numa nave onde os dejetos do famoso alienígena são evidentes, podemos constatar a mesma tecnologia algo retrofuturista que fazia o charme da obra de Scott e que, no entendimento particular e incomum de Alvarez, faz o charme deste filme aqui também. Como Ridley Scott vislumbrou no primeiro filme (e, ao que parece, esqueceu em “Prometheus” e “Covenant”), Alvarez entende que, naquele futuro, as viagens espaciais estão longe de serem eventos grandiosos ou eloquentes –os viajantes espaciais, exploradores e colonizadores do mundo de “Alien” são embrutecidos e práticos qual um motorista de caminhão, as naves possuem uma tecnologia básica, funcional e despreocupada com a elegância.

É nessas circunstâncias ingratas que vive Rain (Cailee Spaeny, a protagonista mais carismática desde Helen Ripley), moradora de uma colônia em outro planeta, revestido por uma névoa tão densa que não permite a entrada da luz solar, usado pelos humanos para ininterrupta mineração. Vivendo lá desde criança, tendo perdido os pais ainda pequena num acidente e criada, desde os doze anos pelo andróide humanóide Andy (David Jonsson), Rain conta as horas de trabalho que ainda deve para a Companhia, quando finalmente terá direito de embarcar numa nave e partir para outro lugar melhor que aquele. Porém, graças às políticas massacrantes e injustas da Companhia, o calendário de horas de serviço dos funcionários é constantemente atualizado, obrigando Rain a permanecer lá tal e qual os demais empregados que acabam passando a vida enfurnados naquele planeta.

A tão sonhada chance de escapatória de Rain e David surge de repente, e à princípio, exige certa maleabilidade moral: Chamada para junto de Navarro (Aileen Wo), Bjorn (Spike Fearn), Tyler (Archie Renaux, de “Viajantes-Instinto e Desejo”) e sua irmã Kay (Isabela Merced, de “Madame Teia”), que está grávida, Rain precisa ir com eles, numa nave clandestina até a órbita do planeta, onde eles descobriram uma estação espacial abandonada. O plano: Antes que seja descoberta por outros, esse grupo irá lá, e irá obter, entre os apetrechos que certamente estão à disposição, as preciosas cápsulas de criogenia.

A única coisa que, de fato, os aprisiona naquele planeta –a exatos 35 anos-luz de distância do Planeta Terra –é o fato de que as cápsulas de criogenia (que os permite dormir em animação suspensa por todos os anos em que a viagem interplanetária transcorre) só são disponibilizadas pela Companhia, que assim controla quem vai e quem fica no planeta. De posse dessas cápsulas, eles podem enfim partir para a Terra.

Dessa forma, o grupo precisa do auxílio de Rain e, principalmente, de Andy –sendo ele uma inteligência artificial, é o único capaz de acessar a cabine de comando do computador da nave (chamado Mãe, como no filme original). É claro que, uma vez lá dentro, os incautos membros do grupo irão tropeçar nos revezes mortais oferecidos pelas criaturas: Uma estação espacial da Companhia denominada Romulus & Remos (em alusão à lenda dos irmãos gêmeos criados por uma loba), o lugar outrora abrigou cientistas que tentaram (e conseguiram) procurar espécimes da mesma criatura que dizimou a tripulação da nave Nostromo, na intenção de estudar e controlar o xenomorfo. Entretanto, como todos os exemplares da franquia atestam, isso não é uma boa ideia –o lugar é encontrado todo destruído e seus ocupantes mortos, salvo um dos andróides, todo avariado, que responde por uma das participações (e referências) sensacionais do filme de Alvarez.

Embora a criatura Alien, em si, demore a dar as caras, e quando o faz não representa uma ameaça nos exatos moldes dos filmes anteriores, o trabalho que Fede Alvarez exerce é tão primoroso em seu suspense claustrofóbico, tão certeiro e empolgante nas referências inteligentes e bem administradas à praticamente todos os filmes anteriores da franquia, tão caprichado e atencioso na construção de bons personagens e de suas motivações (praticamente o calcanhar de Aquiles de todos os filmes que vieram após os dois primeiros) que é possível se deleitar com “Alien-Romulus” do início ao fim.

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