Dirigido pelo norueguês André Ovredal (do sensacional “Caçador de Troll”), este “A Última Viagem do Demeter”, ao contrário, das inúmeras transposições do romance de Bram Stoker para o cinema, se concentra num único recorte do livro –no caso, os trechos do capítulo 7 que correspondem à narrativa em off do Capitão Elliot cuja voz, vez ou outra, se faz ouvir no filme. Dessa forma, Ovredal se debruça num momento específico da trama –justamente um que menos atenção recebeu nas demais adaptações do que outras passagens mais relevantes ao enredo –e à ele proporciona profundidade, minúcia e esclarecimento num nível que nem mesmo o livro teve oportunidade para fazer; e com isso, redescobre novas e imprevistas similaridades na obra centenária de Stoker (como a grande semelhança que esta passagem específica guarda com “Alien”, de Ridley Scott) e molda uma bela obra de terror, a um só tempo bem-vinda em sua inovação (pois, o conceito de vampiro é revisitado com novas características) e sólida em seu tradicionalismo (pois, acaba sendo um filme de época e uma ótima oportunidade para uma esmerada reconstituição).
A Costa da Inglaterra é assolada, numa
madrugada tempestuosa de 1897, pela chegada macabra de um navio-fantasma, o
Demeter, no qual nenhum membro da tripulação se encontra vivo (!). Logo, em um
longo flashback, as considerações
escritas pelo Capitão Elliot (Liam Cunningham, de “A Princesinha”) em seu diário
de bordo vão esclarecer melhor a situação: Tendo partido semanas antes do porto
de Varna, o Demeter levava em sua tripulação, entre outros, o marujo escolado e
letrado Clemens (Corey Hawkins, de “Kong-A Ilha da Caveira”), o imediato Sr.
Wojchek (David Dastmalchian, de “O Esquadrão Suicida”), o sueco Olgaren (Stefan
Kapicic, o Colossus de “Deadpool”), o garotinho Toby (Woody Norman), neto do
Capitão, e mais alguns outros. Junto deles, uma estranha carga de caixotes
carregados de terra (!?) deixados aos cuidados dos marinheiros por ciganos
romenos, os quais só não despertaram mais suspeitas devido ao generoso
pagamento pelo seu transporte até a Inglaterra.
Entretanto, a medida que o Demeter se aventura
em alto-mar, acontecimentos sinistros e sem explicação começam a assolar a
embarcação: Os animais levados à bordo –alguns porcos, galinhas, carneiros e
até mesmo um cachorro –são misteriosamente mortos pelo que aparenta ser um
animal selvagem e descomunal. Na sequência, em meio à avistamentos pouco
críveis –um ser semelhante a uma gárgula que aparece, de relance, para um dos
marinheiros –alguns dos homens começam a sumir. Ao tentar investigar, o Sr.
Clemens encontra, dentro de uma das caixas, uma moça, Anna (Aisling Franciosi),
quase moribunda e em completo estado de inanição. Valendo-se de seus conhecimentos
médicos –e buscando driblar a superstição da tripulação que atrelavam toda a má
sorte das últimas noites à presença de uma mulher à bordo –o Sr. Clemens
restabelece Anna com algumas transfusões de sangue, e ela termina por revelar
que estivera naquela caixa como prisioneira de uma criatura que necessitava
viver de seu sangue. A mesma criatura que agora ataca, noite após noite, os
membros da tripulação um a um enquanto aguarda sua chance de aportar na
Inglaterra e levar sua sanha de morte e sangue para o resto do mundo.
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