Hoje, “Star Wars” é mais que uma simples saga cinematográfica; é um marco comparável à poucos na cultura pop que reúne uma legião intratável de adoradores e depreciadores que o amam e o odeiam com igual intensidade.
Motivo para isso é seu sucesso incomensurável
–que há tempos já extravasou as fronteiras do cinema indo para a animação,
quadrinhos, literatura, videogames e séries de TV –e a capacidade de apreender,
em toda sua vasta mitologia, um fascínio por elementos imediatamente
identificáveis e por personagens inconfundíveis.
O documentário capitaneado por Edith Becker e
Kevin Burns, realizado em 2004 para aproveitar o lançamento dos três primeiros
filmes em DVD, foi registrado enquanto a polêmica “Trilogia Prequel” (composta
de “A Ameaça Fantasma”, “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”) ainda
estava sendo realizada, e muito antes de haverem planos para uma “Trilogia
Sequel” (que consiste de “O Despertar da Força”, “Os Últimos Jedi” e “A Ascensão Skywalker”) ou do boom que a saga sofreu nos anos recentes ao ser
comprada pela Disney e multiplicar seu cânone em séries animadas, derivados e
inúmeras outras obras. Portanto, ao filme resta somente registrar o nascimento
da obra que originou todo esse vasto universo e que, sabe-se, resume-se aos
exemplares da hoje chamada “Trilogia Clássica” (que alberga os seminais “Uma Nova Esperança”, “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”), cujo dado
mais surpreendente seja talvez o de que, tantas obras e ramificações depois,
continuam entre os produtos de mais alta qualidade reconhecida seja entre fãs
ou críticos.
O que muita gente não sabe, foram as
dificuldades homéricas enfrentadas por George Lucas para conceber sua visão –e
que encontraram muitos obstáculos devido às inovações que ele vislumbrou em sua
realização –e nem a forma (ou o contexto) com que a chamada ‘Febre Star Wars’
dominou o Planeta Terra naqueles turbulentos, mas à sua maneira inocentes, anos
1970.
O documentário explora, em tom notadamente
enaltecedor, o pioneirismo do grupo formado ao redor de George Lucas e de como
usaram de vasta criatividade para moldar imagens (e sons) que logo entrariam
para a História. Acompanhamos a tenacidade de Lucas enquanto criador ao insistir
numa aventura de ficção científica construída em circunstâncias que eram,
então, sem precedentes: Obras desse cunho, para obter respeito e aprovação
crítica, deveriam ser adultas e cerebrais, caso contrário, caíam na desonrosa
pecha de produções infantis –o que, muitos à época insistiram, “Star Wars” seria.
Igualmente sem precedentes foi a opção de Lucas
em assumir os direitos sobre o merchandising
dos produtos oriundos do filme, algo que, ao longo do tempo, se mostrou um
acerto milionário e que, entre outras coisas, definiu o sistema mercadológico
do cinema comercial norte-americano dali para frente.
O documentário é respeitoso. Ele omite fatos
espinhosos como o romance fora das telas entre Harrison Ford e Carrie Fisher ou
o breve problema de vício em drogas dela, porém, ele se estende para além do
primeiro filme ao focar na realização também de “O Império Contra-Ataca”.
Assim, descobrimos que, em 1980, Lucas depositou todas as suas fichas na
continuação, investindo toda a fortuna que havia adquirido com o sucesso do
primeiro filme; embora muitos acreditassem, desdenhosamente, que ele já tivesse
dinheiro para dar e vender.
Os depoimentos do diretor Irvin Keshner expõem
claramente as decisões que levaram a sequência a ser ainda mais memorável que o
filme anterior, e as escolhas que levaram aos grandes momentos da saga, como a
revelação da paternidade de Darth Vader –mantida em segredo, na cena, até do
próprio ator Mark Hammil –e o fenomenal desfecho, com o gancho explícito para a
terceira parte.
O último terço dá conta, assim, da realização,
aguardada com muito expectativa pelo público, de “O Retorno de Jedi”, quando “Star
Wars” já havia se sagrado como uma das grandes franquias do cinema moderno, e
seus astros, Hammil, Ford e Fisher, já eram tão reconhecidos que a produção
teve de usar títulos alternativos para diblar curiosos –prática esta que também
passou a ser adotada por Hollywood.
Nenhum comentário:
Postar um comentário