sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Império dos Sonhos - A História da Trilogia Star Wars


 Hoje, “Star Wars” é mais que uma simples saga cinematográfica; é um marco comparável à poucos na cultura pop que reúne uma legião intratável de adoradores e depreciadores que o amam e o odeiam com igual intensidade.

Motivo para isso é seu sucesso incomensurável –que há tempos já extravasou as fronteiras do cinema indo para a animação, quadrinhos, literatura, videogames e séries de TV –e a capacidade de apreender, em toda sua vasta mitologia, um fascínio por elementos imediatamente identificáveis e por personagens inconfundíveis.

O documentário capitaneado por Edith Becker e Kevin Burns, realizado em 2004 para aproveitar o lançamento dos três primeiros filmes em DVD, foi registrado enquanto a polêmica “Trilogia Prequel” (composta de “A Ameaça Fantasma”, “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”) ainda estava sendo realizada, e muito antes de haverem planos para uma “Trilogia Sequel” (que consiste de “O Despertar da Força”, “Os Últimos Jedi” e “A Ascensão Skywalker”) ou do boom que a saga sofreu nos anos recentes ao ser comprada pela Disney e multiplicar seu cânone em séries animadas, derivados e inúmeras outras obras. Portanto, ao filme resta somente registrar o nascimento da obra que originou todo esse vasto universo e que, sabe-se, resume-se aos exemplares da hoje chamada “Trilogia Clássica” (que alberga os seminais “Uma Nova Esperança”, “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”), cujo dado mais surpreendente seja talvez o de que, tantas obras e ramificações depois, continuam entre os produtos de mais alta qualidade reconhecida seja entre fãs ou críticos.

O que muita gente não sabe, foram as dificuldades homéricas enfrentadas por George Lucas para conceber sua visão –e que encontraram muitos obstáculos devido às inovações que ele vislumbrou em sua realização –e nem a forma (ou o contexto) com que a chamada ‘Febre Star Wars’ dominou o Planeta Terra naqueles turbulentos, mas à sua maneira inocentes, anos 1970.

O documentário explora, em tom notadamente enaltecedor, o pioneirismo do grupo formado ao redor de George Lucas e de como usaram de vasta criatividade para moldar imagens (e sons) que logo entrariam para a História. Acompanhamos a tenacidade de Lucas enquanto criador ao insistir numa aventura de ficção científica construída em circunstâncias que eram, então, sem precedentes: Obras desse cunho, para obter respeito e aprovação crítica, deveriam ser adultas e cerebrais, caso contrário, caíam na desonrosa pecha de produções infantis –o que, muitos à época  insistiram, “Star Wars” seria.

Igualmente sem precedentes foi a opção de Lucas em assumir os direitos sobre o merchandising dos produtos oriundos do filme, algo que, ao longo do tempo, se mostrou um acerto milionário e que, entre outras coisas, definiu o sistema mercadológico do cinema comercial norte-americano dali para frente.

O documentário é respeitoso. Ele omite fatos espinhosos como o romance fora das telas entre Harrison Ford e Carrie Fisher ou o breve problema de vício em drogas dela, porém, ele se estende para além do primeiro filme ao focar na realização também de “O Império Contra-Ataca”. Assim, descobrimos que, em 1980, Lucas depositou todas as suas fichas na continuação, investindo toda a fortuna que havia adquirido com o sucesso do primeiro filme; embora muitos acreditassem, desdenhosamente, que ele já tivesse dinheiro para dar e vender.

Os depoimentos do diretor Irvin Keshner expõem claramente as decisões que levaram a sequência a ser ainda mais memorável que o filme anterior, e as escolhas que levaram aos grandes momentos da saga, como a revelação da paternidade de Darth Vader –mantida em segredo, na cena, até do próprio ator Mark Hammil –e o fenomenal desfecho, com o gancho explícito para a terceira parte.

O último terço dá conta, assim, da realização, aguardada com muito expectativa pelo público, de “O Retorno de Jedi”, quando “Star Wars” já havia se sagrado como uma das grandes franquias do cinema moderno, e seus astros, Hammil, Ford e Fisher, já eram tão reconhecidos que a produção teve de usar títulos alternativos para diblar curiosos –prática esta que também passou a ser adotada por Hollywood.

O documentário ainda traz depoimentos maravilhosos de realizadores direta ou indiretamente influenciados por “Star Wars”, seja nas suas inovações técnicas, seja na inspiração que exerceu quando eles eram fãs –entre essas ilustres aparições estão Steven Spielberg, Francis Ford Coppola (chapas de George Lucas que, inclusive, acompanharam a gestação do conceito de “Star Wars”), Peter Jackson, Jeffrey Katzenberg e John Lasseter. Todos eles e outros convidados (além de outros segmentos mais!) fornecem um panorama do que foi “Star Wars”, não somente o retumbante fenômeno cultural, mas também os fascinantes contratempos enfrentados em sua gênese, e a personalidade pacata, colaborativa e divertida de seu criador, George Lucas, por vezes mostrado como o gestor de inúmeras mentes criativas (algumas mais prodigiosas que a dele próprio) no centro desse furacão que mudou o cinema para todo o sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário