sábado, 29 de fevereiro de 2020

Midway - Batalha Em Alto-Mar

As intenções na realização de “Midway” almejadas pelo diretor Roland Emmerich (de “Independence Day”) são tão ambiciosas, amplas e megalomaníacas que todo seu escopo se acomodaria facilmente numa minissérie.
Entretanto, ao optar pelo formato cinematográfico de longa-metragem, ele arriscou-se a encapsular uma narrativa povoada de personagens e de acontecimentos históricos de natureza mais didática que o normal num roteiro hollywoodiano na improvável duração de duas horas e dezoito minutos.
Emmerich, porém, o faz atento às referências pertinentes para a categoria de cinema que adentra: Seu vasto e diversificado elenco traz rostos que parecem escolhidos a partir do mesmo critério usado por Christopher Nolan em “Dunkirk” –atores e atrizes de fisionomia clássica, aparentando realmente indivíduos que viveram na década de 1940. Já, o seu prólogo lembra, não à toa, o início de “Cartas Para Iwo Jima”, de Clint Eastwood, informando-nos que um dos protagonistas, o Oficial de Inteligência Edwin Layton (Patrick Wilson) viveu um período no Japão dos anos 1930; o profundo conhecimento da cultura japonesa e de sua mentalidade estrategista será importante à Layton na década seguinte, quando o Japão já estiver aliado aos nazistas na Segunda Guerra Mundial e, por meio do inesperado ataque à Base Aérea de Pearl Harbor (recriado com grandes semelhanças ao trabalho de Michael Bay no filme “Pearl Harbor”) fazer com que os EUA, até então auto-declarados neutros, ingressem no conflito.
Já fica claro aí, portanto, que em suas pretensões artísticas, “Midway” deseja ser mais abrangente, em termos históricos, do que qualquer superprodução que veio antes dele.
Após o ataque de Pearl Harbor –que ocupa um tempo considerável do primeiro terço se pensarmos que este não é o tema central –o filme trata de, numa sucessão de ganchos histórico-narrativos, introduzir uma série quase interminável de seus demais protagonistas: O piloto audacioso e indisciplinado Dick Best (Ed Skrein, de “Deadpool”) e seu oficial, o tenente Wade McClusky (Luke Evans, de “A Garota No Trem” e “A Bela e A Fera”), ambos servindo a bordo do destróier USS Yorktown comandado primeiro pelo Almirante William Halsey (Dennis Quaid), depois pelo Almirante Raymond Spruance (Jake Weber, de “Madrugada dos Mortos”); e o coronel Chester Nimitz (Woody Harrelson) que ao lado de Layton e de um time de oficias de contra-inteligência tentarão prever a próxima manobra dos inimigos –que, eles têm quase certeza, será uma ofensiva no Mar de Coral e no Atol de Midway a fim de avançar com a frota marítima pelo Oceano Pacífico pegando de assalto o oeste dos EUA.
Aqui e ali, o filme também captura impressões de outros personagens coadjuvantes como a aflição da esposa do piloto Best, Anne (a belíssima Mandy Moore), ou os percalços do humilde auxiliar de mecânico de um dos porta-aviões, Bruno (o cantor Nick Jonas).
Além desses núcleos –que em si já se revelam numerosos e certamente um pesadelo para a montagem (a cargo de Adam Wolfe) –o filme também vai de encontro ao politicamente correto, não obstante seu incontido patriotismo, ao dar expressão e tempo de cena aos oponentes japoneses (um elenco que inclui Tadanobu Asano, de “Tabu”,Etsushi Toyokawa, de “A Espada do Desespero”, e Jun Kunimura, de “Audition” e “Kill Bill”), mostrados com humanidade, indecisão e temor diante da morte tanto quanto seus adversários norte-americanos.
Um filme, como se pode notar, de intenções bastante ambiciosas quanto ao alcance de sua narrativa.
Esse objetivo em parte perde-se devido ao perfil do diretor: Se Roland Emmerich, por um lado, tem plena confiança da abordagem técnica e reconstituição realista que seus departamentos de execução e desenvolvimento fazem das batalhas aéreas e em alto-mar (e, de fato, isso responde pelo apelo maior do filme), por outro, a amplitude de seus interesses esbarra no seu desleixo notório em dirigir adequadamente o grande elenco, na organização nem sempre harmoniosa e perfeita das diversas unidades narrativas e na pouca importância que ele deliberadamente dispõe ao drama humano tornando-o repetitivo, monocromático e redundante.
O gênero do cinema bélico possui um nicho de público que de fato procura estes exemplares mais interessado na pirotecnia do que no bom acabamento dramático, contudo, também existem nele títulos de primeira grandeza cinematográfica como “A Um Passo da Eternidade” e “Tora! Tora! Tora!”, visivelmente as grandes influências para este projeto, que consegue unir a urgência do conflito à ênfase maior no fator humano.
Algo que, aqui, não foi alcançado.

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