As intenções na realização de “Midway”
almejadas pelo diretor Roland Emmerich (de “Independence Day”) são tão
ambiciosas, amplas e megalomaníacas que todo seu escopo se acomodaria
facilmente numa minissérie.
Entretanto, ao optar pelo formato
cinematográfico de longa-metragem, ele arriscou-se a encapsular uma narrativa
povoada de personagens e de acontecimentos históricos de natureza mais didática
que o normal num roteiro hollywoodiano na improvável duração de duas horas e
dezoito minutos.
Emmerich, porém, o faz atento às referências
pertinentes para a categoria de cinema que adentra: Seu vasto e diversificado
elenco traz rostos que parecem escolhidos a partir do mesmo critério usado por
Christopher Nolan em “Dunkirk” –atores e atrizes de fisionomia clássica,
aparentando realmente indivíduos que viveram na década de 1940. Já, o seu
prólogo lembra, não à toa, o início de “Cartas Para Iwo Jima”, de Clint
Eastwood, informando-nos que um dos protagonistas, o Oficial de Inteligência
Edwin Layton (Patrick Wilson) viveu um período no Japão dos anos 1930; o
profundo conhecimento da cultura japonesa e de sua mentalidade estrategista
será importante à Layton na década seguinte, quando o Japão já estiver aliado
aos nazistas na Segunda Guerra Mundial e, por meio do inesperado ataque à Base
Aérea de Pearl Harbor (recriado com grandes semelhanças ao trabalho de Michael
Bay no filme “Pearl Harbor”) fazer com que os EUA, até então auto-declarados
neutros, ingressem no conflito.
Já fica claro aí, portanto, que em suas
pretensões artísticas, “Midway” deseja ser mais abrangente, em termos
históricos, do que qualquer superprodução que veio antes dele.
Após o ataque de Pearl Harbor –que ocupa um
tempo considerável do primeiro terço se pensarmos que este não é o tema central
–o filme trata de, numa sucessão de ganchos histórico-narrativos, introduzir
uma série quase interminável de seus demais protagonistas: O piloto audacioso e
indisciplinado Dick Best (Ed Skrein, de “Deadpool”) e seu oficial, o tenente
Wade McClusky (Luke Evans, de “A Garota No Trem” e “A Bela e A Fera”), ambos
servindo a bordo do destróier USS Yorktown comandado primeiro pelo Almirante
William Halsey (Dennis Quaid), depois pelo Almirante Raymond Spruance (Jake
Weber, de “Madrugada dos Mortos”); e o coronel Chester Nimitz (Woody Harrelson)
que ao lado de Layton e de um time de oficias de contra-inteligência tentarão prever a próxima manobra dos inimigos –que, eles têm quase certeza, será uma
ofensiva no Mar de Coral e no Atol de Midway a fim de avançar com a frota
marítima pelo Oceano Pacífico pegando de assalto o oeste dos EUA.
Aqui e ali, o filme também captura impressões de
outros personagens coadjuvantes como a aflição da esposa do piloto Best, Anne
(a belíssima Mandy Moore), ou os percalços do humilde auxiliar de mecânico de
um dos porta-aviões, Bruno (o cantor Nick Jonas).
Além desses núcleos –que em si já se revelam
numerosos e certamente um pesadelo para a montagem (a cargo de Adam Wolfe) –o
filme também vai de encontro ao politicamente correto, não obstante seu
incontido patriotismo, ao dar expressão e tempo de cena aos oponentes japoneses
(um elenco que inclui Tadanobu Asano, de “Tabu”,Etsushi Toyokawa, de “A Espada do Desespero”, e Jun Kunimura, de “Audition” e “Kill Bill”), mostrados com
humanidade, indecisão e temor diante da morte tanto quanto seus adversários
norte-americanos.
Um filme, como se pode notar, de intenções
bastante ambiciosas quanto ao alcance de sua narrativa.
Esse objetivo em parte perde-se devido ao
perfil do diretor: Se Roland Emmerich, por um lado, tem plena confiança da
abordagem técnica e reconstituição realista que seus departamentos de execução
e desenvolvimento fazem das batalhas aéreas e em alto-mar (e, de fato, isso
responde pelo apelo maior do filme), por outro, a amplitude de seus interesses
esbarra no seu desleixo notório em dirigir adequadamente o grande elenco, na
organização nem sempre harmoniosa e perfeita das diversas unidades narrativas e
na pouca importância que ele deliberadamente dispõe ao drama humano tornando-o
repetitivo, monocromático e redundante.
O gênero do cinema bélico possui um nicho de
público que de fato procura estes exemplares mais interessado na pirotecnia do
que no bom acabamento dramático, contudo, também existem nele títulos de primeira
grandeza cinematográfica como “A Um Passo da Eternidade” e “Tora! Tora! Tora!”,
visivelmente as grandes influências para este projeto, que consegue unir a
urgência do conflito à ênfase maior no fator humano.
Algo que, aqui, não foi
alcançado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário