Os anos 1960 e 70 no cinema foram, sob certa ótica, irresponsáveis: Uma profusão de gêneros atrelados ao exploitation aflorou, usando (e abusando) do princípio básico de que, uma vez libertos das amarras restritivas do Código Hays, que então perdia exponencialmente sua força e sua influência, os filmes de baixo orçamento poderiam competir nas bilheterias diretamente com obras de estúdio, oferecendo ao público doses cavalares de audácia e perversão que aquelas produções não tinham o aval nem o atrevimento de mostrar.
Muitos foram os subgêneros de dali nasceram –e
eventualmente já falei de muitos deles por aqui –um desses foi o nunsploitation, cujo fetiche centrava em
freiras sendo mostradas a praticar os mais improváveis, libidinosos e chocantes
atos –iam desde assassinatos até prevaricações e satanismos! É consenso entre
críticos e especialistas que a gênese do nunsploitation
ocorreu em 1971, com o atroz “Os Demônios”, de Ken Russel. Na esteira dessa
obra atordoante, inúmeros outros títulos brotaram nas fileiras do cinema B e,
como se sabe, na época, os italianos e seu infame cinema comercial, estavam
reciclando todo o tipo de barbaridade –vide o famigerado Ciclo Canibal... –e
foi de lá da Itália que veio uma das obras mais comentadas do nunsploitation,
Baseado numa já alarmante história real
ocorrida na Bélgica –a da freira Cécile Bombeek, viciada em morfina cuja sanha
assassina a levou a cometer uma série de assassinatos num hospital geriátrico
em Wetteren, entre os anos de 1976 a 1978 –“A Freira Assassina” (ou "Suor
Omicidi", seu título original) dirigido por Giulio Berruti foi, por um
longo tempo, uma daquelas produções murmuradas em conversas cinéfilas
sorrateiras, acerca das polêmicas que ele suscitou, das cenas cabeludas que
ostentava a envolver freiras e do fato de ter sido até mesmo proibido no Reino
Unido no seu lançamento (1979) –e, por tratar-se de uma época sem o acesso
rápido da internet, esses comentários passaram a rondar a fama do filme,
convertendo-o numa lenda cult.
Retornando ao trabalho em um hospital católico
para idosos após uma cirurgia de retirada de um tumor cerebral, a Irmã Gertrudes
(Anita Ekberg, de "A Doce Vida", protagonista da famosa cena na
Fontana di Trevi) sofre de ansiedade e crê que seu câncer ainda não está
curado. Sua colega de quarto, Irmã Mathieu (Paola Morra, do também pernicioso
“Atrás dos Muros do Convento”) é quem consegue às escondidas morfina e ópio
para aplacar os desatinos de Gertrudes, uma vez que a Madre Superiora (Alida
Valli, dos clássicos "O Terceiro Homem", "Sedução da Carne"
e "Suspiria") não acredita nas mazelas pós-cirúrgicas alegadas por
Gertrudes, afirmando serem elas nada mais que hipocondria.
Sem que todos sabiam, Gertrudes passa a levar
uma vida dupla, fugindo à noite para a cidade, vestindo-se de forma sexy,
experimentando aventuras sexuais com estranhos, e gradualmente demonstrando uma
nova personalidade, mais ninfomaníaca, selvagem e agressiva, inclusive com os
pacientes. A forte atração sexual que a Irmã Mathieu sente por Gertrudes não a deixa
suspeitar de tal súbita mudança, nem mesmo depois que seu próprio avô aparece
assassinado, na primeira das inúmeras mortes que se seguem. Esses crimes levam
inicialmente à demissão do clínico geral, o Dr. Poirret (Massimo Serato, de
“Inverno de Sangue em Veneza”), substituído pelo jovem Dr. Rowland (Joe
Dalessandro, ator-fetiche de Andy Warhol e Paul Morrisey, em filmes como “Sangue Para Drácula” e “Carne Para Frankenstein”). Contudo, o Dr. Poirret segue
investigando as mortes, tendo Gertrudes como sua suspeita Nº 1.














