terça-feira, 25 de novembro de 2025

A Freira Assassina


 Os anos 1960 e 70 no cinema foram, sob certa ótica, irresponsáveis: Uma profusão de gêneros atrelados ao exploitation aflorou, usando (e abusando) do princípio básico de que, uma vez libertos das amarras restritivas do Código Hays, que então perdia exponencialmente sua força e sua influência, os filmes de baixo orçamento poderiam competir nas bilheterias diretamente com obras de estúdio, oferecendo ao público doses cavalares de audácia e perversão que aquelas produções não tinham o aval nem o atrevimento de mostrar.

Muitos foram os subgêneros de dali nasceram –e eventualmente já falei de muitos deles por aqui –um desses foi o nunsploitation, cujo fetiche centrava em freiras sendo mostradas a praticar os mais improváveis, libidinosos e chocantes atos –iam desde assassinatos até prevaricações e satanismos! É consenso entre críticos e especialistas que a gênese do nunsploitation ocorreu em 1971, com o atroz “Os Demônios”, de Ken Russel. Na esteira dessa obra atordoante, inúmeros outros títulos brotaram nas fileiras do cinema B e, como se sabe, na época, os italianos e seu infame cinema comercial, estavam reciclando todo o tipo de barbaridade –vide o famigerado Ciclo Canibal... –e foi de lá da Itália que veio uma das obras mais comentadas do nunsploitation,

Baseado numa já alarmante história real ocorrida na Bélgica –a da freira Cécile Bombeek, viciada em morfina cuja sanha assassina a levou a cometer uma série de assassinatos num hospital geriátrico em Wetteren, entre os anos de 1976 a 1978 –“A Freira Assassina” (ou "Suor Omicidi", seu título original) dirigido por Giulio Berruti foi, por um longo tempo, uma daquelas produções murmuradas em conversas cinéfilas sorrateiras, acerca das polêmicas que ele suscitou, das cenas cabeludas que ostentava a envolver freiras e do fato de ter sido até mesmo proibido no Reino Unido no seu lançamento (1979) –e, por tratar-se de uma época sem o acesso rápido da internet, esses comentários passaram a rondar a fama do filme, convertendo-o numa lenda cult.

Retornando ao trabalho em um hospital católico para idosos após uma cirurgia de retirada de um tumor cerebral, a Irmã Gertrudes (Anita Ekberg, de "A Doce Vida", protagonista da famosa cena na Fontana di Trevi) sofre de ansiedade e crê que seu câncer ainda não está curado. Sua colega de quarto, Irmã Mathieu (Paola Morra, do também pernicioso “Atrás dos Muros do Convento”) é quem consegue às escondidas morfina e ópio para aplacar os desatinos de Gertrudes, uma vez que a Madre Superiora (Alida Valli, dos clássicos "O Terceiro Homem", "Sedução da Carne" e "Suspiria") não acredita nas mazelas pós-cirúrgicas alegadas por Gertrudes, afirmando serem elas nada mais que hipocondria.

Sem que todos sabiam, Gertrudes passa a levar uma vida dupla, fugindo à noite para a cidade, vestindo-se de forma sexy, experimentando aventuras sexuais com estranhos, e gradualmente demonstrando uma nova personalidade, mais ninfomaníaca, selvagem e agressiva, inclusive com os pacientes. A forte atração sexual que a Irmã Mathieu sente por Gertrudes não a deixa suspeitar de tal súbita mudança, nem mesmo depois que seu próprio avô aparece assassinado, na primeira das inúmeras mortes que se seguem. Esses crimes levam inicialmente à demissão do clínico geral, o Dr. Poirret (Massimo Serato, de “Inverno de Sangue em Veneza”), substituído pelo jovem Dr. Rowland (Joe Dalessandro, ator-fetiche de Andy Warhol e Paul Morrisey, em filmes como “Sangue Para Drácula” e “Carne Para Frankenstein”). Contudo, o Dr. Poirret segue investigando as mortes, tendo Gertrudes como sua suspeita Nº 1.

Visto hoje, “Suor Omicidi” não conserva tanto do teor assombroso que o perseguiu no fim dos anos 1970, é uma obra datada, cafona, construída com as inverossimilhanças e redundâncias características do giallo de então, e para as tarimbadas plateias atuais certamente não vai corresponder, em violência e erotismo, à toda controvérsia que suscitou. Seus maiores apelos, que ainda o fazem bastante curioso e atrativo, são a trilha sonora e o desleixo quase proposital com que elabora situações libidinosas, perversas e até profanas com seu elenco feminino sempre trajando figurinos de freiras –a essência, afinal, do nunspolitation.

domingo, 23 de novembro de 2025

Emmanuelle


 Visto por toda uma geração como um inconteste clássico erótico –em grande parte graças à inesquecível presença de sua estrela Sylvia Kristel –“Emmanuelle”, de 1974, de Justin Jaeckin, ganhou em 2025 uma refilmagem que filtra seu conceito num prisma de inúmeras pautas da atualidade que consequentemente transfiguram a premissa a ponto de render, no fim das contas, um filme completamente diferente.

Dirigido por uma mulher, a francesa Audrey Diwan, o novo “Emmanuelle” revê conceitos paradigmáticos de erotismo (na maioria das vezes, empregados como fetiche e estímulo para a parcela masculina do público, mas, não aqui), avalia com diferentes posturas a busca por satisfação sexual de sua protagonista e, na atmosfera requintada, elíptica e ansiosamente distanciada do vulgar e do mundano, evoca elementos que fazem lembrar, e muito, “Encontros e Desencontros”, de Sofia Coppola.

Vivida pela francesa Noémie Merlant (coadjuvante em “Lee”, dona de um corpo escultural e de um charme inabalável, como tinha de ser), Emmanuelle –ou, pelo menos, presume-se que esse seja o seu nome, visto que não é mencionado durante do filme todo! –é, aqui, uma funcionária de altíssimo nível de uma rede de hotéis de luxo. A começar o filme, ela é designada para o Rosefield Hotel, em Hong Kong –e a mudança da protagonista para um local de ares asiáticos é um dos poucos tópicos no filme que realmente o aproximam do “Emmanuelle” original (no qual a heroína vai passar as núpcias na Tailândia)–contudo, esta Emmanuelle não está em lua-de-mel, ou atrelada à um homem como a Emmanuelle de Sylvia Kristel. A narrativa de incontornáveis bases feministas (ainda que amenizadas por um tratamento europeu mais sensato) faz dela uma mulher com uma missão: Seu papel é avaliar o desempenho do Hotel como um todo na recepção dos hóspedes (algo que, desde o início, se percebe ser de altíssimo nível) e da gerência de sua adminstradora, Margot Parson, vivida por Naomi Watts. O motivo: O Rosefield Hotel caiu algumas posições num importante ranking de avaliações, e os proprietários querem que Emmanuelle descubra o porquê. Aliás, mais do que isso, eles querem que ela encontre um erro na administração de Margot para poder fazer dela um bode expiatório nessa questão –e caso não encontre tal erro (nas entrelinhas, caso demonstre alguma compaixão por ela), Emmanuelle pode colocar em risco o próprio emprego.

Na sinopse, este novo “Emmanuelle”, portanto, se desvencilha completamente das redundâncias nas quais poderia se apontar a trama como um mero pretexto para a sucessão de cenas de nudez e sexo, convertendo-o num filme erótico convencional –o que, sejamos honestos, o “Emmanuelle” original já era, e ainda mais suas banais continuações. No entanto, há, sim, erotismo de sobra na obra da diretora Diwan: Emmanuelle é uma mulher independente, disponível e plena em sua sexualidade (adjetivos que não necessariamente espelhavam a primeira Emmanuelle), e uma vez instalada no Rosefield Hotel, em Hong Kong, ela não deixa passar despercebido as oportunidades para desempenhar sua libido; na piscina do hotel, ela identifica a atividade constante de uma discreta e clandestina rede de acompanhantes sexuais, entre os quais a jovem Zelda (Chacha Huang), que eventualmente se torna amante da própria Emanuelle; todavia, a presença que, aos poucos, desestabiliza Emmanuelle de fato é Kei Shinohara (Will Sharpe, da série “The White Lotus”), um hóspede misterioso (nunca dorme em seu quarto, ninguém sabe ao certo sua ocupação e vive como um fantasma pelos corredores) cujas atitudes a confundem e a intrigam a ponto de levar Emmanuelle, em determinado momento, a questionar sua postura diante das exigências profissionais.

A verdade é que, nesta produção, sobrou muito pouco da “Emmanuelle” como ela é lembrada pelos seus fãs mais ardorosos –o filme poderia tranquilamente ter qualquer outro nome que, efetivamente, não teria qualquer conexão com o filme estrelado por Sylvia Kristel, lembrando que, apesar disso tudo, ambos são, alegadamente, adaptações de um mesmo livro, “Emmanuelle”, publicado em 1967 pela autora Emmanuelle Arsan –o que a diretora Audrey Diwan, aliada à atriz Noémie Merlant, fez aqui foi repaginar radicalmente os conceitos que norteiam sua personagem. Não há qualquer vestígio de dependência de homens nesta Emmanuelle –eles, quando muito, surgem como uma ferramenta de preenchimento à suas carências eventuais, como o homem sem nome no início dentro do avião (que lhe proporciona sexo casual) ou o próprio Kei Shinohara (quase um guia espiritual para suas crises existenciais, e não interesse romântico de fato) –e o filme que ela protagoniza termina sendo uma realização que vai muito mais de encontro às fantasias femininas do que às fantasias masculinas: A Emmanuelle de Noémie Merlant é uma mulher mergulhada em luxo e beleza inesgotáveis; possui o trabalho dos sonhos e um guarda-roupa de celebridade; é empoderada, objetiva e altiva com pouquíssimos momentos a explorar sua vulnerabilidade; e absolutamente confortável com a própria sexualidade.

Um exemplo do que toda mulher almeja ter –muito mais do que sexo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Twin Peaks - Segunda Temporada


 A segunda temporada de “Twin Peaks” é praticamente simultânea em relação à primeira –os eventos estão intimamente ligados, a ponto de serem indivisíveis. Quando reencontramos os personagens, todos eles estão ainda no turbilhão dos acontecimentos do episódio final da primeira temporada, em especial, o Ag. Dale Cooper (Kyle MacLachlan) alvejado misteriosamente por um tiro! A diferença é que, se nos episódios finais do primeiro ano, “Twin Peaks” incorporou tintas mais convencionais de um suspense investigativo, aqui, no episódio de uma hora e meia que inicia a segunda temporada, a estranheza retorna com força total –sem sombra de dúvidas porque David Lynch (um tanto ausente ao longo de alguns episódios da temporada anterior) retorna aqui como diretor –e o estilo de Lynch logo se impõe sobre a narrativa, deixando em evidência o quanto as características de sua direção se diferenciam, e muito, dos demais realizadores que se revezaram na série (que incluem, entre outros, Leslie Linka Glatter, Uli Edel, James Foley e até mesmo a atriz Diane Keaton). O primeiro episódio da segunda temporada é surreal, intrigante, excêntrico, bizarro e desafiador.

Nessa sucessão de momentos desconcertantes temos, portanto, a situação do Ag. Cooper, baleado e sangrando no chão de seu quarto de hotel, enquanto um velhinho, mordomo do lugar, lhe serve leite, parecendo incapaz de perceber a gravidade do ocorrido. Ao mesmo tempo, Audrey Horne (Sherilyn Fenn) se vê quase como uma refém dentro do prostíbulo financiado pelo próprio pai (Richard Beymer), indefesa e perdida, fruto de suas tentativas em investigar por conta própria os suspeitos do assassinato de Laura Palmer –o mistério que impulsiona, afinal, boa parte da série.

Outros acontecimentos que marcam a segunda temporada são os trágicos desdobramentos da investigação pessoal de Donna (Lara Flynn Boyle), James (James Marshall) e Maddie (Sheryl Lee, que interpreta também a própria Laura Palmer), e a descoberta de Donna de um diário secreto de Laura, em posse do estranho e alienado Harold (Lenny von Dohlen, de “Amores Eletrônicos”); e a nova dinâmica que surge entre os amantes Bobby (Dana Ashbrook) e Shelly (Madchen Amick) depois que o marido dela, Leo (Eric Da Re), é baleado e volta para casa em estado completamente vegetativo.

Contudo, as coisas não são somente flores na segunda temporada de “Twin Peaks”: Bem mais extensa que a primeira (que possuía apenas oito episódios contra os quase intermináveis vinte e dois desta aqui), esta sessão teve de lidar o momentâneo abandono de David Lynch, certamente, a grande força criativa e fonte da singular originalidade que diferenciava a série. Ausente da série por conta de outros projetos e desentendimentos com os produtores, Lynch, que dirigiu três dos (excelentes) episódios na primeira leva desta segunda temporada, praticamente abandonou “Twin Peaks” por volta do oitavo episódio –e essa ausência é tremendamente sentida! –deixando um vácuo criativo que diminui a qualidade da série, torna seu enredo mais disperso e convencional, e resguarda muito do mistério à um suspense mais genérico e sem personalidade. É irônico que seja, mais ou menos nesse ponto, que o grande enigma da série (“Quem matou Laura Palmer?”) comece a ser respondido –de uma forma, por sinal, que vai na contramão à revelação bombástica que poderia estar se esperando.

A nítida impressão é a de que este segundo ano é mais do que uma única temporada: Essa ruptura diferencia completamente a primeira dezena de episódios dos demais; a morte de Laura Palmer deixa de ser o mote central do enredo, substituída por um jogo nebuloso de gato e rato entre o Ag. Cooper e um vingativo ex-parceiro do FBI, Windom Earl (Kenneth Welsh), cujas ameaças e crimes cometidos vão alterando as dinâmicas entre muitos dos personagens a ponto de alguns deles perderem sua relevância dentro da premissa. Donna e James, por exemplo, mergulham numa oscilação banal entre o suspense de uma intriga paralela e os resquícios de um romance pouco válido; Audrey, após idas e vindas desinteressantes entre situações nada pertinentes ganha um novo interesse amoroso (vivido por Billy Zane); Bobby e Shelly veem sua trama se dispersar (tentam viver juntos até que Leo, de quem cuidavam, foge) até virarem quase figurantes em tramas de outrem; e o Ag. Cooper, destituído do posto de agente do FBI, após alguns estranhos contratempos, acaba auxiliando o delegado (Michael Ontkean) em seus casos usuais –quando uma série não sabe o que fazer com seu próprio protagonista, isso é o indício de que algo está errado! –é aqui também que o Ag. Cooper ganha um novo (e insosso) interesse amoroso nas formas da atriz Heather Graham, onde aparece o personagem vivido por David Duchovny (que anos depois faria história protagonizando a série “Arquivo X”), um agente do DEA travesti chamado Denis/Denise, e o grande enigma de “Twin Peaks” –bem mais até do que a morte de Laura –passa a ser a origem da maligna entidade Bob (interpretado pelo assustador Frank Silva) e os segredos em torno do misterioso black lodge.

Ainda assim, a partir de um certo ponto, é o carisma desses personagens que sustenta “Twin Peaks”, na falta do mistério que até então atraia a curiosidade dos expectadores, mas, por sorte, Lynch retorna, em algum ponto dos últimos quatro episódios para, com seu talento desigual, devolver à “Twin Peaks” sua singularidade: Embora muitos dos episódios continuem maçantes (ele volta à interpretar o chefe de departamento do FBI, Gordon Cole, surdo como uma porta!), Lynch se encarrega da direção do episódio final, trazendo nele toda sua habilidade em manejar o surreal, o onírico e o intrigante.

Apesar de demasiada longa, e certamente testando a paciência do expectador em muitos dos capítulos que se seguem, a segunda (e à epoca considerada a última) temporada de “Twin Peaks” se encerra resgatando a atmosfera desafiadora com a qual se iniciou, e termina sem terminar coisa alguma –muitos (senão todos) os personagens são abandonados numa espécie de encruzilhada onde são deixados (e ao expectador) num vácuo indiferente de destinos nebulosos e inconclusos.

Mais David Lynch que isso, impossível!

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Algumas Previsões Para O Oscar 2026

 


Die, My Love

O filme que reúne os astros Jennifer Lawrence e Robert Pattinson encontra-os num momento bastante aclamado de suas carreiras; diferente de quando foram lançados ao estrelato (ela, com “Jogos Vorazes”; ele, com “Crepúsculo”), e dirigidos pela sempre autoral Lynne Ramsay. “Die, My Love” chega com chances fortíssimas de emplacar mais uma indicação de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence e possibilitar a melhor recepção da Academia de Artes Cinematográficas, até então, para um filme de Ramsay.


O Agente Secreto

Desde antes de sua estréia, “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, vinha sendo cotado para repetir com pompa e circunstância a mesma campanha belíssima feita pelo premiado “Ainda Estou Aqui” no ano passado, agora, com indições para Wagner Moura, de Melhor Ator, e novamente Melhor Filme Internacional, e até quem sabe algumas outras categorias: Muitos são os críticos apontando este como o melhor trabalho de Mendonça Filho, o quê, vindo do realizador de “Bacurau”, não é pouco!


Avatar-Fogo e Cinzas

O primeiro “Avatar”, lá de 2009, é visto hoje como um divisor de águas no cinema hollywoodiano; sua continuação, “O Caminho da Água”, pode até não ter repetido a mesma extensão de êxito, mas foi um fenômeno de bilheteria, concorreu ao Oscar de Melhor Filme e ainda saiu da cerimônia com o prêmio de Melhores Efeitos Visuais. O trailer (empolgante, diga-se) desta terceira parte promete, no mínimo, uma produção superior ao último filme.


Frankenstein

Contando pouco tempo de seu lançamento em cinema e streaming (o filme é da Netflix), a nova e suntuosa versão do diretor Guilhermo Del Toro para a obra imortal de Mary Shelley está perfeitamente posicionada para ser lembrada na cerimônia do Oscar no ano que vem. E muitos têm sido aqueles que enalteceram a realização de Del Toro como a melhor adaptação do clássico literário até hoje! –lembrando que, entre outras versões, houve até uma de Kenneth Branagh com Robert De Niro.


Pecadores

Talvez, a grande obra-prima entre os exemplares da nova vertente do terror norte-americano, “Pecadores”, de Ryan Coogler, surpreendeu o público e a crítica com uma trama que, enquanto capturava uma apaixonada referência à “Um Drink No Inferno”, de Robert Rodriguez, abordava a questão racial e a influência poderosa da música negra num espetáculo cinematográfico belo, impressionante e sangrento.


F1-O Filme

O excelente filme com Brad Pitt e dirigido por Joseph Kosinski chegou até mesmo a ser relançado nos cinemas no segundo semestre deste ano visando uma chance entre os indicados ao Oscar. As possibilidades entre as categorias principais estão diminuindo (à medida que concorrentes mais fortes e substanciais começam a ser lançados no circuito), mas a esperança ainda paira no ar –e a presença em muitas categorias técnicas é quase uma barbada visto sua incontestável competência.


Uma Batalha Após A Outra

Paul Thomas Anderson recrutou Leonardo Dicaprio para realizar um dos filmes mais ágeis e dinâmicos de sua consagrada carreira. Adaptado de um livro de Thomas Pinchon (assim como foi “Vício Inerente”), Anderson entrega uma produção sofisticada, carregada de reflexões pertinentes e atuais, concebida com apuro visual e narrativo à toda prova e adornada de brilhantes atuações. O olhar dos críticos, do público e da Academia repousa, atento, sobre ele.


Wicked-Parte 2

A “Parte 1” encantou público e crítica, chegando na última cerimônia do Oscar (de onde saiu com duas estatuetas) exigindo respeito. Esta segunda e última parte (sobretudo, depois do lançamento de seu trailer apoteótico) eleva ainda mais as apostas. Agora, retornamos ao mundo de “O Mágico de Oz” pouco antes dos eventos narrados no clássico; contudo, desta vez, a trajetória dúbia e intrigante de Elphaba e Glinda vai adentrar os acontecimentos do filme de 1939 e, por fim, se encerrar.


Bugonia

O diretor grego Yorgos Lanthimos, a despeito de seu estilo corrosivo, único e pouco usual, parece ter caído nas graças de Academia que terminou indicando (e, em alguns casos, até premiando!) a maioria de seus últimos trabalhos em categorias bastante expressivas. Sua nova audácia “Bugonia”, já desponta como um dos favoritos à estatueta dourada e à outros prêmios da temporada com a atenção voltada, especialmente, para as atuações de Emma Stone e Jesse Plemmons, intérpretes prediletos de Lanthimos.


Coração de Lutador

Dwayne ‘The Rock’ Johnson concorrendo ao Oscar de Melhor Ator? É o que muitos estão se perguntando e contemplando a possibilidade de se tornar verdade. Dirigido por Ben Safdie (diretor de “Jóias Brutas” e ator em “Oppenheimer”) e baseado na vida do lendário lutador Mark Kerr, o filme parece uma tentativa de The Rock em dar um novo rumo à sua carreira já pontuada por vários sucessos de bilheteria. Para alguns especialistas a bilheteria abaixo do esperado pode ter esfriado suas chances, mas, para outros, o filme ainda tem possibilidades reais de chegar aos indicados principais.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Independence Day


 Em 1993, “Jurassic Park” se sagrou como a maior bilheteria da história do cinema, mas seu reinado não durou muito, três anos depois, em 1996, a ficção científica “Independence Day” tomou esse posto, e nele ficou menos tempo ainda (!), já no ano seguinte, aportava nos cinemas um épico chamado “Titanic”, e o resto é história...

No panorama cinematográfico dos anos 1990, “Independence Day” ocupa, portanto, esse lugar de êxito transitório tanto no que diz respeito à sua notável bilheteria, como ao avanço de seus efeitos especiais –e existem uma série de razões para o sucesso que o filme de Roland Emmerich teve, e nenhuma delas está relacionada ao seu astro, Will Smith, praticamente revelado ao público por este filme (e, por ele, catapultado ao estrelato).

“Independence Day” é, em linhas gerais, e sem muita sutileza no disfarce, uma versão modernizada de “Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells, tantas vezes transposta para a telona. Seu apelo fundamental está no emprego imodesto dos efeitos visuais que conceberam cenas antológicas e grandiloquentes, de tal forma impressionantes, que uma parcela extraordinária do público entendeu que teriam de ser vistas na tela do cinema.

Cenas como as imensuráveis naves extraterrestres  sobrevoando inúmeras cidades do mundo e a subsequente destruição de Nova York e de Washington por essas mesmas naves não apenas entraram diretamente para o subconsciente coletivo dos cinéfilos (a despeito de serem emolduradas numa trama bastante genérica) como foram recompensadas com o Oscar de Melhores Efeitos Especiais na cerimônia de 1997.

No início, indícios nebulosos sugerem aos especialistas que algo de extraordinário se aproxima do planeta Terra: Naves monumentais, de origem alienígenas, aos poucos se aproximam da atmosfera, alarmando as autoridades do mundo inteiro, em especial, os EUA, onde o presidente, Thomas Whitmore (Bill Pullman, na melhor fase de sua carreira), emite um alerta geral. A chegada das naves (ilustrada na primeira metade do filme, o que resulta num espetáculo verdadeiramente eletrizante) é recebida com apreensão pelos cidadãos do mundo todo: Logo, os indícios se materializam em fatos quando muitas dessas naves aparecem sobrevoando dezenas de cidades espalhadas pelo planeta.

As tentativas de comunicação se iniciam, mas, as verdadeiras intenções dos alienígenas são descobertas, talvez tarde demais, pelo cientista do MIT David Levinson (Jeff Goldblum) e seu pai, Julius (Judd Hirsch, de “Os Fabelmans”): A chegada deles à Terra é completamente hostil; pois, logo na sequência, vemos cidades como Nova York, Washington e Los Angeles serem varridas do mapa.

A humanidade sofre um impiedoso ataque extraterrestre e, agora, os seres humanos sobreviventes precisam contra-atacar.

Nessa progressão de acontecimentos até que bastante previsíveis –sabemos, claro, que a humanidade haverá de reerguer-se e, ao final apoteótico, prevalecer sobre os vilanescos invasores –o diretor Emmerich usa, como opção para valorizar as cenas, uma ênfase e uma referência à muitos obras predecessoras que funcionaram bem, sobretudo, em sua composição visual: As sequências de destruição aludindo aos grandes clássicos do cinema-catástrofe do passado (potencializadas, porém, com efeitos visuais de última geração); os escombros do mundo pós-ataque remetem à produções pós-apocalípticas como “Mad Max”; as sequências de combate aéreo subsequentes lembram “Star Wars” e afins; as aparições ocasionais dos alienígenas almejam um pavor opressivo semelhante à “Alien”. E tudo isso, configura uma trama conduzida por dezenas de personagens pretensamente carismáticos que nem sempre dizem à que vieram: Além dos já citados, temos também a assessora da Casa Branca, Constance (Margaret Colin), romanticamente envolvida com o personagem de Goldblum; o ex-piloto pinel, abduzido por alienígenas no passado, que deseja ingressar na resistência à invasão por um ingênuo sentimento de acerto de contas (Randy Quaid, de “Lua de Papel”); os militares turrões, truculentos, mas, no fim das contas, de bom coração (esses são vários, Robert Loggia, Adam Baldwin, James Rebhorn); e, finalmente, o piloto de caça vivido por Will Smith, Capitão Steven Hiller, introduzido praticamente a partir da segunda metade do filme, que haverá de protagonizar as mais expressivas incursões contra os alienígenas, com suas tiradas engraçadinhas (mais clichê impossível), inclusive a arrojada manobra final de confronto definitivo contra os alienígenas, onde poderá assim vingar a morte do melhor amigo (Harry Connick Jr., de “Memphis Belle-A Fortaleza Voadora”), morto em batalha pelos invasores (risca aquilo que eu falei, ISTO consegue, sim, ser ainda mais clichê!).

Está aí, portanto, uma fórmula não muito difícil de ser apreendida e que garantiu à “Independence Day” o largo sucesso do qual, à época, ele desfrutou: Uma trama banal, reduzida à essência e ao simplismo, contada de modo a soar inteligível ao público, povoada por personagens também de fácil compreensão e de forçosa empatia, mas adornada com elementos visuais arrebatadores, as verdadeiras estrelas principais desta produção, além de um viés patriótico, enaltecendo valores norte-americanos (a data para o contra-ataque da Humanidade, 4 de Julho, o usual feriado americano, passa a marcar, na trama do filme, uma comemoração mundial), que acabou contagiando também as plateias do resto do mundo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Éden


 O diretor Ron Howard já experimentou a consagração com “Uma Mente Brilhante”, e o largo sucesso com “Código Da Vinci”, contudo, de uns anos pra cá, seu cinema tornou-se claudicante, oscilando entre uma técnica apurada, um profissionalismo nítido e um vazio de iniciativa, de inspiração que engessava seus trabalhos.

Embora seja uma obra relativamente interessante e pertinente (ainda mais inserida no panorama genérico atual do cinema norte-americano), “Éden” padece de alguns desses lapsos.

Baseado num fato real transcorrido no início do Século XX, “Éden” constrói uma narrativa a partir de indícios muitas vezes contraditórios em relação aos acontecimentos retratados. Na ânsia de concretizar os fatos sem assumir pontos de vistas unilaterais, o roteiro de Noah Pink, a partir de conceitos elaborados por ele e pelo diretor Ron Howard, oferece uma cadeia de acontecimentos que terminam não priorizando a postura, nem a índole de ninguém, o resultado é um filme onde pessoas torpes são ocasionalmente confrontadas com outras ainda piores, numa exposição algo involuntária da inerente maldade humana.

Após a Primeira Guerra Mundial, o médico e filósofo Friedrich Ritter (Jude Law) parte para a Ilha Floreana na distante região dos Galápagos, junto da colega Dore Strauch (Vanessa Kirby) a fim de se afastar da humanidade e de criar, ali, um conceito inédito de meio de vida, rompendo com as defasadas considerações sociais, e muito amparado no niilismo espartano de Friedrich Nietzsche. Todavia, uma fagulha de vaidade e de necessidade de ser enaltecido ainda queima dentro do Dr. Ritter, por isso, de tempos em tempos, nas visitas de algum navio errantes por aquelas águas longínquas, ele aproveita para enviar ao mundo exterior suas cartas, nas quais deposita sua retórica sobre essa nova forma alternativa de existência, que ele enxerga como um manifesto contra a tendência auto-destrutiva dos governos mundiais.

Com o tempo, suas cartas –publicadas em jornais e revistas da época –se tornam uma espécie de sensação, e o Dr. Ritter, um lenda em seu exotismo. Até que, no inverno de 1932, o exemplo de Ritter leva Heinz Wittmer (Daniel Brühl), sua esposa Margret (Sydney Sweeney) e seu filho (Jonathan Tittel), à Ilha de Floreana, a fim de partilhar dessa mesma vivência, esse rompimento com os grilhões de conveniência social.

O filho de Heinz sofre de tuberculose, então intratável, com péssimas perspectivas pela medicina da época, e a jovem esposa, Margret, está, ainda sem saber, grávida. Ao chegarem em Floreana, o Dr, Ritter e Dore, arredios, os recebem com inesperado desdém –a contundente utopia que eles planejavam ali não vinha atrelada à traquejo social, e nem tampouco era pensada para envolver outros além deles próprios.

Instalados, de início, numa das cavernas da região (!), Heinz e Margret vão se adaptando à duras penas, construindo uma casa e erguendo um lugar onde almejam, de fato, viver –esses percalços surgem registrados nas cartas que Marget, então com 23 anos, escreve e envia, de tempos em tempos para a mãe.

No entanto, algum tempo depois, chega em Floreana outra comitiva, aquela que, desta vez, realmente irá virar tudo de pernas pro ar: Os subalternos, criados e meros bajuladores da Baronesa Eloise Von Wagner de Bousquet (Ana De Armas, ligeiramente histriônica no retrato de uma das mais odiosas vilãs do cinema recente). Afirmando estar lá na ilha para a construção de um hotel exclusivo para turistas muito ricos, a Baronesa se instala, com seu séquito –entre os quais, o amante e capacho Lorenz (Felix Kammerer, de “Nada de Novo No Front”) e outro amante (!) e guarda-costas Phillipson (Toby Wallace) –numa interseção entre as moradas de Ritter e Dore, e de Heinz e Margret. Ela cria divergências –abre as correspondências de Ritter e tenta colocar a culpa em Heinz –protagoniza excessos e age com displicência –quando a comida que levou (e que consomem desordenadamente) acaba, envia seus lacaios para roubar de Heinz e Margret.

Não demora muito para que esse paraíso (que de paradisíaco, desde o começo, nunca teve nada!) se torne um inferno com os conflitos de ordem íntima criados por ela –na realidade, a própria Baronesa é, em si, um embuste: Uma golpista que singrou a Europa manipulando homens ricos com sua beleza, ela tenta sua última cartada ali, em Floreana, na tentativa de se estabelecer no que pode ser um empreendimento imobiliário legítimo, valendo-se de todos aqueles que sua lábia e sua capacidade de sedução arregimentarem em favor de seus interesses.

O que acontece, todavia, é um caldeirão de tensões que, eventualmente, irá explodir.

Um filme amargo que opõe a sobrevivência à convivência (como se fossem fatores opostos) e que parece refletir sobre o quanto as celeumas humanas, como a ganância e a cobiça, são incapazes de serem evitadas pelo homem, por mais que ele queira, “Éden” se ressente justamente dessa sua contundente postura moral –não há personagens íntegros ou incorruptíveis aos quais a narrativa possa se ancorar, e dessa forma assim ambígua eles são interpretados pelo (ótimo) elenco: Jude Law ostenta, carrancudo, uma desilusão que só o empurra cada vez mais para o antagonismo e a violência, afastando-o da paz e da transcendência inicialmente pretendida; Vanessa Kirby vive uma mulher de um discurso altivo acerca de suas escolhas, mas cujo olhar entrega a insatisfação que é incapaz de admitir; Daniel Brühl na segunda colaboração com Ron Howard (a primeira foi o excelente “Rush”) se mostra preciso no registro minimalista de seu personagem; e Sydney Sweeney, talvez, a grande surpresa do filme, oblitera as impressões de símbolo sexual que, em geral, a perseguem para entregar aqui uma interpretação introspectiva orientada por uma metamorfose sutil e, ao fim do filme, desconcertante.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A Longa Marcha - Caminhe Ou Morra


 Stephen King escreveu “A Longa Marcha” ainda na faculdade, durante a segunda metade da década de 1960 –antes da consagração como escritor de livros de terror, o que explica também o gênero distinto do livro, ficção científica distópica –tal especificação de tempo serve para explicar muito bem a alegoria embutida no argumento: Ao moldar uma trama na qual jovens voluntários eram conduzidos à um esforço descomunal que levava a maior parte deles à morte por indiferentes senhores da guerra (militares), King fazia uma clara referência à Guerra do Vietnam que vitimizava incontáveis vidas de jovens norte-americanos num conflito que todos (exceto, os mandatários no poder) enxergavam como algo despropositado, sem sentido. Contudo, se “A Longa Marcha” foi o primeiro livro que King escreveu, ele não foi o primeiro que ele publicou: Somente após o sucesso literário de “Carrie-A Estranha” (logo seguido pela adaptação cinematográfica dirigida por Brian De Palma) que King pôde lançar, em 1979, “A Longa Marcha” –e ainda o fez sob o pseudônimo de Richard Bachman, com o qual lançou diversos outros livros.

Era irônico, portanto, que a primeira obra de Stephen King, dentre tantas que ele perpetrou e que despertaram tanto interesse nos estúdios de Hollywood, nunca tenha sido adaptada para cinema antes –até agora, com o lançamento de “A Longa Marcha-Caminhe Ou Morra”.

Dirigido por Francis Lawrence (que assinou todas as excelentes continuações de “Jogos Vorazes”), a trama de “A Longa Marcha” diz respeito a uma caminhada promovida por militares e acompanhada por todo o país. Nesse futuro, os EUA são uma nação colapsada, e a Longa Marcha é uma campanha anual que recruta voluntários para restaurar o ânimo e o orgulho do país. São cem rapazes que haverão de encarar o desafio de caminhar, num determinado ritmo, por uma estrada que atravessa cerca de cinco estados norte-americanos. Ao vitorioso é concedido um desejo (qualquer um!) a ser realizado, além da satisfação de viver bem financiado o resto da vida –uma amostra do quanto a persistência e a obstinação são recompensadas pelo governo.

Entretanto, os noventa e nove participantes restantes são impiedosamente mortos! Explica-se: Não há linha de chegada para a Longa Marcha, ganha aquele que tão somente for o último a restar em pé.

Durante toda a caminhada –que perdura por dias a fio, sem qualquer pausa para descansar, dormir, comer ou fazer necessidades fisiológicas! –os participantes devem manter um ritmo específico, a cada vez que esse ritmo se reduzir ou parar, o participante é advertido, se após três advertências o participante não conseguir retomar a marcha, pela razão que for, ele é fulminado com um tiro na cabeça!

É nessas condições atrozes que o jovem Ray Garrity (Cooper Hoffman, de “Licorice Pizza”) embarca na Longa Marcha com motivos muito pessoais (que, mais tarde, serão elucidados) para vingar-se do grande idealizador dessa disputa, o cruel e megalomaníaco Major (Mark Hammil). Durante, essa exaustiva (em todos os níveis possíveis) provação, Ray sela um pacto de amizade com Peter McVries (o ótimo David Jonsson, de “Alien-Romulus”), um órfão de ideais convictos e positivos. Outros personagens participam da maratona: Pearson (Thamela Mpumlwana) cuja ingenuidade o leva a firmar laços de amizade com todos, Stebbins (Garrett Wareing) munido de impressionante compleição física que esconde um triste e doloroso segredo, Barkovitch (Charlie Plummer, de “Todo O Dinheiro do Mundo”) cuja muralha de sarcasmo para com seus colegas não o impedirá de sucumbir ao desespero e à agonia, Olson (Ben Wang, de “Karatê Kid-Lendas”) que ingressa na disputa crente de que sua dedicação teórica irá lhe garantir a vitória, Curley (Roman Griffin Davis, o garotinho de “Jojo Rabbit”), o mais jovem de todos, que mentiu a idade para participar, e será a primeira vítima desse esquema inclemente, e muitos outros, todos eles fadados e não chegarem vivos até o final –exceto um, e é preciso sofrer até o úlimo instante para saber quem será!

A escolha de Francis Lawrence para a direção é das mais acertadas: Conhecedor do material, por sua bem sucedida passagem na franquia “Jogos Vorazes”, Lawrence sabe enunciar os elementos de reflexão contidos no enredo, compor um registro claro, preciso, meticuloso e sensorial da jornada física assim retratada (com os efeitos físicos do desgaste se abatendo sobre os personagens de forma primorosamente evidente), desenvolver a empatia do público pela premissa e pelos personagens certos (o que ajuda a tornar tudo ainda mais angustiante), e ainda soube transpor habilmente a alegoria do livro original de Stephen King para a atualidade: Com a Guerra do Vietnam não mais em voga, “A Longa Marcha”, agora, parece refletir sobre a polarização política dos EUA, sobre a desumanização tóxica que influencia as gerações mais jovens internet afora, e sobre os famigerados reallity-shows, e a forma como a integridade física dos seres humanos inseridos nesses contextos termina tendo menos importância do que o registro do espetáculo.